A Loira Fantasma e o Caminhoneiro

Há muito tempo atrás. Numa cidadezinha do inteiro, havia um caminhoneiro chamado Paulo. Paulo era uma pessoa de péssimo caráter, de comportamento agressivo e sem escrúpulos.

Naquela noite, Paulo fora aproveitou e passou num bar ali perto. Embora estivesse dirigindo – e trabalhando – ele não se fez de rogado e tomou algumas cervejas. Na farra. Tentou agarrar uma mulher que, irritada e ofendida, jogou-lhe um copo de bebida na cara.

- Ora, sua rameira filha de uma cadela... – esbravejou.

Um outro caminhoneiro que viu a cena aconselhou Paulo a seguir seu rumo.

- Vamos Paulo, é melhor tu seguir teu caminho. Já chega por hoje, tu não devia tá bebendo...

Paulo seguiu o conselho do companheiro e se foi, bufando e chutando tudo o que via pela frente. Dirigiu-se ao caminhão e seguiu seu rumo.

Em outra parte, numa outra festa, uma bela jovem de cabelos loiros se preparava para ir embora, quando um rapaz se aproximou e ofereceu-lhe uma carona.

- Débora – esse era o nome da jovem loira - eu posso te dar uma carona se quiser.

Débora pensou um pouco. As amigas que estavam próximas deram-lhe um empurrãozinho de incentivo e por fim a moça aceitou.

- Bom, se não for incomodar... – disse, timidamente.

- Claro que não! – disse o rapaz. – Vamos? – ele estendeu a mão.

Débora pegou a mão do rapaz e foi. Olhou para trás, em direção das amigas, que sorriam para ela, como que comemorando a “vitória” da amiga.

Algum tempo depois, na estrada, o rapaz, que dirigia o carro, de repente diminuiu a velocidade e parou num acostamento. Débora, sem entender, perguntou:

- Por que parou o carro, Felipe? – esse era o nome do rapaz.

- Ora, para que pudéssemos ficar mais à vontade... – disse o rapaz maliciosamente, já acariciando o braço da jovem, num gesto cheio de segundas, terceiras intenções.

A moça se afastou timidamente e disse:

- Me leva pra casa agora!

- Calma, nós ainda temos tempo para nos divertirmos um pouco mais... – disse Felipe, maliciosamente.

Felipe tentou “avançar o sinal” mais uma vez.

- Não, pare com isso! – ela mandou, empurrando Felipe. Indignada e furiosa, ela abriu a porta do carro e saiu, decidida a ir a pé para casa. Felipe, não se fazendo de rogado, ligou o carro e seguiu seu caminho, antes dizendo:

- Você nem é essas coisas garota! – e acelerou, sumindo na estrada.

Débora olhou para os lados, desolada. Estava sozinha naquela estrada, a altas horas da noite. O jeito agora, seria pedir uma carona...

Paulo estava passando pela estrada. Foi então que avistou uma moça fazendo sinal para que ele parasse. Queria carona. O caminhoneiro, safada e querendo outras coisas além de dar carona, parou um pouco à frente. Olhou no retrovisor do carro e pôde ver melhor a moça. Ela era realmente uma beleza. Loira, muito jovem ainda – não devia passar dos 20 anos, talvez fosse estudante ainda -, se encolhendo para se proteger do frio, totalmente sozinha, a mercê dos perigos da noite, da estrada... e dos caminhoneiros como ele.

- Moço, o senhor pode me dar uma carona até a cidade?

- Ok. Pode subir ai – disse Paulo, com um olhar guloso para cima da jovem e inocente Débora.

Débora subiu e se acomodou como pode.

Durante metade da viagem, Débora ficou calada. Paulo, de rabo de olho, não parava de observar a jovem. Um plano diabólico começava a se formar em sua cabeça.

Paulo, assim como Felipe, diminuiu a velocidade e parou o caminhão num canto deserto. Débora, mesmo pressentindo o pior, perguntou com voz trêmula a Paulo:

- Por que parou?

Com um sorriso cheio de malicia, o caminhoneiro disse:

- Por que você acha? – e se atirou em cima da jovem.

Débora, a muito custo abriu a porta, deu um pulo e começou a correr pela estrada. A jovem gritava e chorava desesperada. Paulo vinha logo atrás dela, gritando:

- Eu te alcançarei! Tu não tens para onde ir!

Para sua infelicidade, Débora resolveu correr para o meio de um matagal. Em seu desespero, acabou tropeçando e caiu. Paulo a alcançou.

- Eu peguei você, sua vagabunda! Agora vais ter o que merece! – disse, atirando-se sobre a jovem, que gritava sem parar. Paulo deu-lhe vários socos para que ela se acalmasse e finalmente a estuprou.

Depois do ato hediondo, o caminhoneiro viu que não poderia deixar rastros, então estrangulou a jovem usando o próprio cinto. Depois, deixou o corpo no matagal e seguiu viagem.

Paulo continuou tocando sua vida normalmente, como se nada houvesse acontecido. Até que numa noite, ele teve que passar por aquela estrada onde ele cometera aquele monstruoso crime contra a inocente Débora.

O imprudente caminhoneiro ia normalmente pela estrada, enquanto saboreava uma garrafa de cerveja. Foi quando a certa altura, avistou uma mulher pedindo carona. Sem escrúpulos e crente de que mais uma vez a “sorte” lhe sorria, o homem parou e mandou a mulher subir.

De pronto, Paulo não reconheceu a mulher, mesmo porque ela estava com os longos cabelos dourados a esconder-lhe a face. Mas que importância tinha o rosto, quando se tinha um corpo daqueles – pensou o libidinoso Paulo.

Paulo mais uma vez arquitetava um plano diabólico, quando a mulher, de forma dura, disse:

- Pare agora!

Havia algo de estranho na voz da mulher. Mas Paulo, envolto na cerveja e em seus pensamentos libidinosos, não percebia nada, embora estranhasse o pedido da mulher.

- Por que pediu para parar?

- Por que você acha? – disse a mulher, com voz fria. Nesse instante. Ela o encarou e finalmente mostrou seu rosto de uma maneira cruel. Ela então falou:

- Não lembra de mim?

Um calafrio percorreu o corpo de Paulo, que agora reconhecia a mulher.

- Meu Deus!

- DEUS NÃO PODE AJUDÁ-LO!!!!!!!! – a mulher após dizer isto, num além desse mundo, deu uma gargalhada diabólica que ecoou por todos os cantos. Ela jogou a cabeça pra trás, numa gargalhada vulgar e compulsiva, como uma prostituta embriagada. Ao mesmo tempo, apertava os seios e as partes íntimas, num gesto vulgar, se oferecendo. Paulo observava tudo, paralisado – E ENTÃO, NÃO QUER ME POSSUIR OUTRA VEZ MOÇO??!!!!!!! – e gargalhou. Ela jogou a cabeça mais pra trás ainda, abrindo a blusa e expondo o colo e o pescoço, marcado por uma grotesca cicatriz roxa.

Nesse momento, seu rosto sofreu uma terrível transformação: seus dentes estavam todos quebrados e podres, a pele se decompunha e o sangue escorria de sua boca escancarada naquela macabra gargalhada. – O INFERNO É LOGO AQUI!!!

Pálido e suando frio, Paulo tentou fugir, mas nesse exato instante, teve um ataque de asma e começou a se debater no caminhão. Paulo tentava desesperadamente respirar. Estava sufocando.

- Não... não consigo... respirar – disse, numa voz angustiada e rouca, enquanto apertava a própria garganta num esforço inútil de recuperar o ar dos pulmões.

Débora gargalhava e se deliciava com a cena, tocando o colo e o pescoço, com uma expressão de puro deleite.

A polícia chegou no dia seguinte, acionada por um caminhoneiro que passava por ali pela manhã e encontrou o caminhão abandonado e com as portas trancadas. Ele estava crente que o caminhão estava abandonado, pois não conseguiu de forma alguma abrir a porta.

Assim que o policial pôs a mão na maçaneta, a porta se abriu violentamente, deixando cair o cadáver de Paulo. O Policial e o caminhoneiro viram, horrorizados, o corpo de Paulo, pálido e asfixiado. Seu rosto estava contorcido numa expressão de mais puro horror, onde a boca e os olhos estavam escancarados, como que num grito mudo.

Nesse instante, outro policial vinha correndo do meio mato.

- Encontraram um cadáver de mulher ali no matagal. Parece que está ali há alguns meses...

O primeiro policial – o que encontrara Paulo – olhou para o infeliz Paulo, e ficou pensativo...

- Hehe, êta história de caminhoneiro danada sô! – dizia um caminhoneiro que se aprontava para seguir seu rumo.

- E é a mais pura verdade! – dizia um velhinho que servia um café a outro caminhoneiro.

- Como é que cê tem certeza Tio Chico? – perguntou o jovem caminhoneiro – por acaso o sinhô tava lá quando a loira matou o tal do infeliz?

Alguns caminhoneiros riram.

- Não, eu num tava não – disse Chico, calmamente, enquanto servia um café – mas a policia juntô os fato e descobriram que o mardito tinha abusado da pobre... então, se não foi vingança da condenada, o que mais foi?

- Com certeza Tio Chico – assentiu um homem de expressão assustada – dizem que até hoje aquela infeliz assombra as estradas daqui, assustando os caminhoneiros e desaparecendo em seguida, como que querendo deixar um recado... e ela faz isso mesmo depois de ter tido sua vingança...

- Não meu filho – disse o Tio Chico, tristemente – apesar de tudo, a pobre não vai descansar tão cedo. Ela não aceitou seu fim prematuro e cruel... temos que orar muito por sua alma infeliz... – disse o ancião, que se dirigia a passos lentos para os fundos da bodega.

- Balelas – disse calmamente o destemido caminhoneiro, que saía.

- Que Deus tenha piedade desses incrédulos... – disse Tio Chico, olhando o rapaz sair pela porta. – Eu não acreditaria se não tivesse visto os olhos daquele infeliz...

Um flash passou rapidamente pela cabeça de Tio Chico, que relembrava do fatídico dia em que vira Paulo morto por asfixia naquele caminhão, décadas atrás. Ele olhou dentro daqueles olhos mortos e apavorados, e parecia que ele podia ver tudo o que sucedera entre Paulo e a infeliz Débora...

O jovem caminhoneiro ia tranqüilo pela estrada. Já era tarde da noite. Foi então que avistou uma mulher fazendo sinal para ele parar. Ele, gentil e sem segundas intenções, ficou com pena daquela mulher sozinha na estrada àquela hora da noite e decidiu parar para dar-lhe uma carona...

Dama dos Mistérios
Enviado por Dama dos Mistérios em 30/10/2008
Código do texto: T1256863
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.