A maldiçao de OUIJA
Para Johnny K. O espectro original.
E como dentro de um impulso feminino ela pensava que poderia entrar em uma nova pratica, seus olhos bateram sobre o letreiro da loja e sentindo-se uma clandestina olhou dos lados para se certificar que não havia ninguém e, como que invisível entrou.
No interior coruja empalhadas, cheiro de incenso, livros e uma velha de turbante na cabeça. O calendário em cima do balcão indicava o ano de 1973 e na casa de bruxaria da rua Augusta Carolina desejava uma tabua OUIJA igual ao que o mestre espírita mostrara pela TV. Invocar os mortos, entrar neste portal de mistério e se comunicar com os espíritos. Em seu pensamento Carolina acreditava que poderia se transformar em uma médium.
A velha era seria e apresentar a tabua dissera:
- Muito cuidado na comunicação com os mortos! Eles podem influenciar o nosso destino.
Levara a tabua. No interior do seu carro pensara: “ Não devo temer nada pois o meu objetivo não é brincar, mas a minha curiosidade no portal dos vivos e dos mortos é maior do que tudo.
Dirigindo seu fusca adquirido pelo “Milagre Econômico” ela esvoaçava seus cabelos, com um cigarro na boca e ouvindo uma canção dos Beatles, os senso de pequenez diminuirá e ela era a garota 1973, avançada, moderna, que no meio de cabeludos, prisioneiros, censura e filme em preto e branco era apenas uma garota de 23 anos.
Vieram então as instruções do uso mágico. O a b c, o sim e o não, a pirâmide de vidro, os números, o circulo vermelho, a aura mística e então o medo.
Como se sente quando se morre? Quando se esta morto e não se sabe... o que se sente? E quando a energia exaure e o depois... do outro lado o que existe ?
As pessoas do programa de TV diziam que se sentia uma paz e um silencio. Logo após um tubo de luz e um filme da própria vida se passava em segundos. O depois era o desenrolar espiritual em uma nova dimensão.
O primeiro contacto de manifestação da sessão que Carolina arrumara fora em seu quarto junto ao medo. Ficara frustrada já que diziam que mais pessoas maior a força no ritual.
Pegara o papel de depois de rezar fez a pergunta clássica:
- Há alguém aqui? – Tremula continuara – Há alguém aqui ? – E a piramide não se mexia.
Levantara e fora ate a janela para fumar. Uma corrente de calor tomara conta de seu corpo e um êxtase a invadiu. Não, não. Não era medo da presença, mas podia sentir em seus instintos mais profundos que estava sendo vigiada, Tentara novamente e quando tocara na tabua a pirâmide correra para o sim.
“ Alguém esta lendo meus pensamentos- Afirmara para sí própria. Internamente seu medo misturara-se com a excitação e multiplicara-se em um ímpeto e como se perdesse a personalidade própria passara a Mao sobre a pirâmide e começara a fazer perguntas, anotando em um papel.
‘ Carlos, morto em 1964, acidente de carro, 25 anos” Fora a mensagem que recebera. “ Sou uma médium” – Afirmara e a pirâmide descera ao adeus.
A energia voltara ao normal e assim estava encerrada a sua primeira sessão espírita.
Nos dias que se seguiram, Carolina continuara com sua pratica e estava transformada. Não conseguia dormir e sentia-se eufórica e se surpreendia com seus novos interesses. Perdera o apetite e no meio da insônia perdia noites fumando. Carlinhos era o seu nome e ele dizia ser filho único e que morrera em um acidente, disse que do outro lado estava apaixonado por ela e que agora seria seu guardião.
E porque se morre aos 25 anos e quem é ele? Suas perguntas eram formuladas no papel, mas as respostas eram diretas e curtas e Carolina se fechara por completo.
Durante sucessivas noites, no tempo de inércia de 1973 Carolina estava presa em um mundo de mistério e incógnitas sobre a vida e a morte, onde dentro de sua realidade presente a própria vida perdera os sentidos.
E no jogo perigoso do circulo alfabético de OUIJA Carlinhos se mostrava exigente e como se dizia um fantasma apaixonado replicava suas ameaças e seus estreitamentos que sem estar sobre a obediência de uma lógica passara a caminhar no escuro.
A menina mais estranha de 1973 rondava cemitérios em busca da foto do namorado do outro mundo, em busca de mais referencias, encurralada dentro da vontade de sentir novamente o êxtase.
E o êxtase se mantinha cada vez que dedilhava a pirâmide de vidro e o arrastar das letras, e Carlinhos estava lá, estava lá e estava lá! E dentro do cemitério a prancha estava em suas mãos e tombando-a sobre uma sepultura de mármore perguntara : - É aqui? – e ouvira uma voz ao longe que dizia ; - É ali! – soprara então uma ventania forte.
Achara um tumulo claro onde um anjo repousava. Chegando mais em frente vira então a foto em preto e branco e aquele era ele; “Pedro Carlo Freitas”e 9 anos já haviam se passado. O retrato representava um menino de cabelos curtos, jovem e moreno claro.
Pegara a tabua e olhara o ambiente hostil. Se a morte era representada através das bruxuleantes velas que dançavam sob a sombra do crepúsculo ela havia perdido o medo. E como uma viva que perde o medo da morte, saira do cemitério com um vazio e a vontade de manter novamente a presença. O vazio permaneceu, a falta da presença também e uma saudade... Mas enquanto estivesse neste plano estaria ligada em seu amor pelo telegrafo dos mortos, tinha que prosseguir.
E assim passaram-se 3 meses desde então. Carolina cultuava agora um espírito e suas visitas ao cemitério passaram a ser constantes. Começara a ouvir vozes e tinha a nítida impressão de ver vultos, mas em sua mente a presença de Carlinhos estava em tudo.
Sua Mao formigava sempre que tocava a prancha, sua disposição aumentara e a ausência de personalidade própria a fazia cair em devaneios constantes. E o homem dos seus sonhos era apenas uma energia, um ponto de luz.
Estava ligada em suas sessões, mesmo que agora começasse a receber mensagens estranhas e uma febre intensa a atingira sob um só golpe. Tivera alucinações, delírios e no final de duas semanas estava morta.
Durante o funeral a família e amigos da faculdade comentavam sobre a morte súbita de Carolina e ninguém conseguia entender seu falecimento. Mas finda a cerimônia de sepultamento um rapaz jovem, todo de preto e de cabelos curtos depositara uma flor sobre a lapide:
- “ Durante um ano me procuraste, mas mau sabia que OUIJA chama a morte. Estou aqui para te acolher e a partir de agora serás minha amante eterna.
O vento soprava mais intensamente e as portas do cemitério foram fechadas para que deixasse para trás sob a luz do luar um casal, sob as juras eternas, onde o medo e a escuridão não eram mais do que sombras sob a perspectiva de um feliz e novo amor.
FIM