O Zoológico
As madeixas cor de mel sobre um rosto angelical faziam dela única. Olhos vivos e castanhos. Passeando sozinha no zoológico, com seus cartoze, sentia-se uma mulher formada. Adorava bichos e a natureza. Queria ser bióloga. Depois da jaula dos elefantes deparou-se com um portão de ferro lacrado que dizia: Área Reservada. Um homem estava sentado numa das extremidades do portão embaixo de um quiosque. Tinha um ar amigável. Sorriu ao vê-la.
- Oi moço!
- Olá.
- O que tem aí?
- Ahh! É uma área reservada muito interessante. Só convidados podem entrar.
- Como faz para ser convidada?
O homem se levantou. Arrumou os óculos, limpou a garganta e disse com um ar muito sério:
- Basta querer.
- Só isso?
- Só. Querer.
- Ahhh! Então...
- Você quer? – Sorrindo.
- Sim! E quem tem o poder de convidar.
- Eu.
- Uau! Então posso entrar moço?!
- Pode. Mas, antes... – Abaixou-se até a altura dela – Tem que me prometer algo.
- Sim, o que é?!
- Quando sair me dizer o que sentiu.
- Tudo bem! E... O que tem lá...?
- Coisas muito legais! Diferentes. Espero que goste.
Bateu duas palmas pausadamente. O portão rangeu e abriu sozinho. O homem fez uma mesura e convidou-a a entrar.
- Bem vinda ao meu mundo. Siga as instruções e não se perderá.
Era uma rua muito bem asfaltada. Do lado direito uma escuridão sem limites, do esquerdo um imenso nada. A garota parou.
- Que instruções para eu seguir? Não há nenhuma... !!
Na frente dela uma luz brilhou e palavras em vermelho surgiram no ar: Siga em Frente.
- Nossa! Realmente...
Prosseguiu. Do lado esquerdo um galpão se materializou. Suas paredes eram vermelho-terra com um teto de bronze polido. A entrada coberta de ouro e cravejada de diamantes. Em cima uma inscrição em pérola: Xadrez. Não entendeu nada. Olhou para o outro lado da rua e tomou um baita susto! Na escuridão gelatinosa dois imensos olhos brilharam. Do tamanho de automóveis. De alguma forma não ameaçadores, apenas observavam a cena.
Entrou no galpão.
O seu interior iluminou-se revelando um maravilhoso escritório de luxo com uma imensa biblioteca. Adentrou mais um pouco e viu um homem de terno. Era jovem.
- Olá garota! Gosta de jogar xadrez?
- Oi moço, não sei jogar...
- Aahhh, que pena! Meu chefe me ensinou, jogava comigo, mas morreu.
No aposento um gemido baixo ecoava: “Mmmmmmmmmmmmmmmmm...”
- Que é isso?
- Não se preocupe... É apenas meu chefe que...
Ela não quis ouvir o resto saiu correndo para fora dali. Os olhos ainda estavam lá. Outro galpão apareceu. Uma inscrição em vermelho dessa vez: Caçada Noturna.
A escuridão era total. Ela não enxergava nada. No fundo uma sombra se mexeu. Brotava do chão. A garota estacou. A coisa tinha espinhos e calombos por todo o corpo, seus olhos magentos e gotejantes a observaram.
Uma luz começou a iluminar o negror. A adolescente de cabelos melados olhou suas mãos. A luminosidade vinha dela. Brilhava com uma luz crescente alaranjada. Sorriu! Sentia-se muito bem. A coisa no fundo flutuava olhando-a. A menina com passos largos afastou-se de costas para a rua. O brilho cessou. Outro galpão: O Contador de Histórias.
Um homem de chapéu e todo vestido de negro estava agachado no centro. Ouvindo-o, várias crianças cercavam-no. Num canto uma carroça escura e macabra com dois corcéis negros, olharam-na. O homem de preto levantou a cabeça e o chapéu revelou olhos apodrecidos fitando a recém chegada. Convidou-a.
Um arrepio correu-lhe pela espinha. O olhar daquele homem congelava seu sangue. Os olhares das crianças... Meu Deus... As crianças! Ela pôs a mão na boca abafando o grito. Os rostos infantis estavam apodrecidos e cheio de bichos. Murmuravam algo ininteligível. Com lágrimas nos olhos meneando a cabeça quis sair dali o mais rápido possível. Os infantes zumbis estavam em pé agora, paralisados, fitavam-na. O homem ergueu os braços e transformou-se num monstro de asas.
Na rua os olhos ainda observavam atentos.
- Que lugar é esse? Estou...
No ar uma inscrição brilhou dourada: Continue. Nada lhe acontecerá.
Mais um galpão: Restaurante Labinak.
Uma atmosfera maligna, morta preenchia o ambiente. O cheiro de podre e o nevoeiro esverdeado causaria náuseas num abutre. A garota forçou a visão e um homem, sentado numa mesa, apareceu. Parecia muito doente com a pele enrugada numa tonalidade amarelada e verde. Olheiras profundas e negras. Uma das mãos ossudas pediram auxílio. Ela apenas observou. Não estava com medo, apenas o cheiro de podre, que aumentava, sufocava-a. Do nada, senhora idosa apareceu.
- Bem vinda ao meu restaurante mocinha linda! Quer uma mesa?
- Não obrigada... - Sentindo o hálito de carne estragada.
- Sou a Dona Euvira – Estendeu a mão carcomida e apodrecida.
Saiu correndo. Dona Euvira voltou a seus afazeres.
Mais um galpão: Assassinos.
Pensou muito antes de entrar. Lembrou-se da inscrição: Nada lhe acontecerá.
Meia luz. Várias jaulas. Parecia uma prisão. Ouvia-se vário ruídos:
PLAM! PLAM PLAM! – SLAPT! – Aaaaaaauuuuuuuuuuuuuuhhhhhh!!!
Novamente o frio na espinha...
Um farfalhar de asas.
Numa das jaulas viu um imenso cão branco. A cela tinha obstáculos onde o animal de pelúcia macabro pulava e despulava, não fazia um ruído sequer. Sua boca pingava sangue.
SLAPT! - Na jaula ao lado. SLAPT!
- Venha cá belezinha... – O homem tinha um olhar frio e maligno. Estalava um chicote negro a cada momento: SLAPT!
Caminhou até outra cela e PLAM! PLAM! Viu as sombras no chão. Não teve coragem de olhar.
No fundo uma cela prendia duas mulheres. Uma mais nova. Ambas belíssimas. Em cima da cela estava escrito: Amanda e Karol. Ao lado delas: Thom. Ao vê-la o homem levantou-se devagar segurou nas grades. Lambia-as, sorria e olhava para ela. Sentindo nojo continuou andando. Reparou que os olhos das duas, pregados nela, gotejavam labaredas.
Uma porta abriu-se. SAÍDA.
Na rua deparou-se com um magnífico casarão. Olhava-o quando um homem de cabelos longos e negros saiu. Era um rapaz lindo. Viu-a.
- Olá. Gostou da minha casa?
- Nossa! É muito linda!
- Não quer conhecê-la por dentro?
- Não. Acho que não é uma boa idéia.
- Está bem, outro dia talvez. – Sorriu mostrando suas enormes presas. Retirou-se.
Ainda estava paralisada olhando o estranho desaarecer na esquina quando ouviu barulhos de martelos, picaretas, máquinas de concreto. Ao lado do casarão uma construção. Misteriosamente chamou-lhe a atenção. Chegou perto dos compensados negros que se estendiam como muros. Um deles se abriu. Entrou. Todo o barulho cessou. Os trabalhadores quando a viram estacaram. Dezenas deles moveram-se ao mesmo tempo. Não mexiam as pernas, flutuavam. Podia-se enxergar através deles. Novamente correu e saiu dali.
Ofegante pôde ouvir o início dos barulhos da construção iniciarem outra vez.
Na sua frente dois galpões se materializaram com suas inscrições: O Terceiro Grau e Cães. Não estavam completos. Não tinham entradas. Não soube explicar, mas, sentiu vontade de voltar para ver esses dois.
Caminhou dois passos quando duas explosões de luz irromperam na sua frente. Duas magníficas figuras apareceram. Dois homens enormes e espetacularmente bonitos que brilhavam como o sol, mas, não ofuscavam sua visão, apareceram e sorriram para ela. Muito altos e fortes. Um deles tinha uma imensa espada curvada com um brilho azul O outro, mais brilhante, tinha na mão direita uma trombeta transparente que refletia sua luz. Dos dois emanavam beleza e muita simpatia. Sentiu-se extremamente bem na presença deles. Com uma respeitosa mesura deram passagem à ela e com os braços estendidos indicaram o portão da saída.
Lá fora o homem de óculos aguardava sorrindo. Duas palmas, o portão fechou-se.
- E então mocinha? O que achou?
- Nossa moço! Algumas situações eu me amedrontei, outras eu chorei. Em um dos galpões eu quase não entrei. Amei os dois anjos na saída. Eram anjos não eram?
- Sim. Eram. Elkron e Sawel.
- Que legal!! - Bateu palmas e deu pulinhos.
- Agora, diga-me, qual o seu nome menina.
- Ahh, é Milena.
- Lindo nome, assim como você! - estendeu a mão sorrindo – Muito prazer Milena, meu nome é Alex Holy Diver.