A garota do DVD
Eram quase oito horas da noite, de um sábado chuvoso, quando me lembrei que tinha o costume de todos os sábados, alugar filmes na locadora, estava com meu aparelho de DVD quebrado, mas, alguns dias o técnico viera em casa e o consertara. Decidi que era hora de matar as saudades, pois era louco por filmes.
Estava cansado, pois havia trabalhado o dia inteiro, por isso decidi pedir à minha filhinha querida, Tâmara, de apenas oito anos que, fosse até a locadora, em companhia da empregada, escolher alguns filmes para nós assistir-mos. Tâmara era pequenina ainda, mas, tinha bom gosto para filmes.
- Claro que vou papai, eu sei escolher filmes muito melhor do que aquelas porcarias que o senhor pega – Disse ela, rindo, pois não gostava de filmes policiais, apenas desenhos e comédias.
Pedi à empregada que fosse com ela, e que não se deixa-se ela exagerar na quantidade de filmes, afinal, estava quase no final do mês e o salário estava quase chegando ao fim.
Fiquei sentado no sofá, fumando meus cigarros fedorentos, como dizia Tâmara, e esperando as duas chegarem.
Acabei pegando no sono, e acordei apenas depois de duas horas, vi um DVD, em cima da estante, e notei então que Tâmara e a empregada já haviam voltado.
- Que filme você pegou, Tâmara? – Perguntei a ela – E por que pegou apenas um?
Ela veio correndo até mim, e disse-me com um ar tristonho:
- Ah, papai. A moça da locadora me disse que já era tarde e que haviam alugado todos os filmes e só sobrara este.
Ela me disse isso e saiu emburrada para o seu quarto, queria mesmo era ver seus desenhos, mas fazer o que.
A empregada, Natalia, que morava conosco, viera até mim então e me disse:
- Desculpe, senhor, foi o que sua filha disse, ela nem quis pegar o filme, saiu correndo chorando pela rua, eu peguei depressa este filme, e corri atrás dela, nem sei direito que filme é este.
Disse à empregada que não tinha nada que se desculpar, afinal não era culpa dela, a despedi e disse que já podia ir dormir.
Fiquei sozinho na sala, peguei o DVD e fiquei olhando ele, que filme será este, nem capa tem, nem mesmo nome.
Decidi então, por ele no aparelho e assistir sozinho mesmo, afinal, teria que pagar por ele mesmo.
- Espero que não seja uma daquelas porcarias, de anos e mais anos atrás – Disse comigo.
Retirei o DVD da capa, estava todo coberto de poeira, limpei-o com a camiseta mesma, e o coloquei, no aparelho para rodar. Que surpresa foi a minha, quando começou a passar o filme, diretamente sem abertura nem nada, parecendo uma produção caseira. O cenário parecia o de um bar, ou de uma boate, onde uma bela mulher, que aparentava ter seus 25 anos, e que tinha uma estranha tatuagem entre as sobrancelhas, em cima de uma mesa, fazia um strip-tease, tirando toda a sua roupa, os homens que perto dela estavam iam à loucura, parecia que ia ser uma noite de muita orgia, mas...
De repente aqueles homens que aparentavam ser clientes, daquela garota de programa, vão para cima dela, um deles se achega, e a puxa pelos cabelos, fazendo-a gritar, e logo após atirando-a ao chão.
Logo após começa uma sessão sinistra de tapas, murros, mordidas, e a pobre moça estava toda ensangüentada, no chão daquilo que parecia uma boate. Eram psicopatas, só podiam ser, pois além de matá-la, sentiam prazer em beber seu sangue, sem se importar em talvez, com o fato de ela ter alguma doença.
Estava acabado, eles pegam o corpo sem vida daquela bela jovem que se foi tão cedo, e o jogam em uma lata de lixo, montam em suas motos e se vão.
De repente o DVD sai do aparelho, dando a impressão que era só isto o filme.
- Mas que porcaria, é só isto o filme, nem fala o nome da produtora e nem se quer o titulo! – Digo eu, bradando de fúria – Eu não vou pagar por esta porcaria, aquela locadora vai se ver comigo amanhã quando ela abrir.
De tanta raiva, peguei o DVD e o atirei contra a parede, sem me importar de ter que paga-lo depois.
Estava acabado o meu sábado, afinal, na televisão mesmo, não havia nada que preste, e o DVD que era minha única salvação, havia me desapontado. Decidi então, ir dormir, fui até o quarto de minha filha e lhe dei um beijo de boa noite, não a perturbei, pois já estava dormindo.
-Ah, que dia – Digo eu me deitando na minha solitária cama de solteiro, e durmo.
Era quase de manhã, o Sol estava quase a nascer, quando de repente acordo com os berros de minha filha, vinha de seu quarto, corro até lá e a vejo, deitada, em sua cama, estava gritando feito louca, e se debatendo na cama, corro até ela, mas percebo que estava dormindo e que com certeza seria algum pesadelo.
Eu dou uns gritos com ela, para acordá-la, ela demora-se um pouco, mas finalmente acorda suando frio, com outro berro:
-Não! – Grita ela se levantando da cama e saindo correndo, eu a seguro antes que cruza-se a porta, a tento acalmar, dizendo que foi apenas um pesadelo, mas ela estava descontrolada, até que depois de alguns minutos consigo convencê-la.
-Papai – Disse ela em prantos – Aqueles homens maus queriam arrancar minha roupa e me bater.
Estranhei aquele sonho dela, isto não era sonho de uma criança de oito anos, será que ela havia assistido escondido aquele maldito DVD?
Bem, fiquei com ela mais alguns minutos, e depois a pus para dormir, voltei para a sala, nem adiantava voltar para cama, pois já havia perdido o sono.
Procurei aquele maldito DVD, mas qual não foi minha surpresa quando descubro que ele não estava mais onde eu havia deixado.
Procurei por todos os lugares da casa, e quando amanheceu perguntei a minha filha e a empregada se alguma delas havia pegado ou pelo menos o visto, mas não, ele havia desaparecido mesmo. Droga. Não acreditava que teria que pagar por aquela porcaria.
O domingo correu bem, bem tranqüilo, mas a segunda, me lembro daquela maldita segunda, onde o meu pesadelo começou. Acordei bem cedinho como de costume e fui chamar minha filha para se arrumar e ir para a escola, mas quando chego a seu quarto, descubro que ela já havia acordado e estava no banheiro se arrumando.
- Acordou cedo, dorminhoca – Disse a ela, pois todos os dias era uma verdadeira guerra faze-la acordar cedo.
Pensei comigo se na verdade ela não havia dormido a noite por causa dos pesadelos, mas resolvi deixar este assunto de lado, acho que no final das contas ela deve ter visto o filme escondida.
Levei-a até a escola, e na volta passei na locadora para justificar o ocorrido, foi então que os problemas começaram a aparecer:
-Sinto muito senhor, mas o computador, não acusa nenhuma retirada em seu nome, muito menos do tal filme que o senhor mencionou, acho que o senhor se equivocou – Disse a moça da locadora, me deixando cada vez mais intrigado.
Voltei para casa e fiquei pensando no ocorrido, mas acabei deixando para trás, poderia ser apenas uma seqüência irônica de coincidências.
O resto do dia foi calmo, e quando chegou o final da tarde, sai do trabalho e fui direto para casa, as estas alturas, a empregada já deveria ter trazido Tâmara para casa.
Cheguei em casa e chamei por ela, mas nada dela me responder, procurei pelos quartos e não achei nem ela e nem mesmo a empregada. De repente ouço sons estranhos vindo do banheiro, e corro até lá. Mas que visão aterrorizante, minha filhinha de oito anos, toda nua, com sangue espalhado pelo corpo inteiro, e com uma faca na mão, gritando e chorando.
- Eles vão me pegar, papai!
Não entendia o que estava acontecendo, corri até a ela e tomei a faca de sua mão, dizendo que nada ia acontecer, a abracei e ela desabou em meus braços exausta, mas percebi examinando ela que aquele sangue não era seu, que estranho.
Dei um banho na pobrezinha, e a pus para dormir, jurando que não teria mais aqueles pesadelos horrorosos. Ela acreditou e acabou adormecendo depois de alguns minutos.
Fui tomar um banho e logo após cai na cama exausto. Esta noite fora tranqüila, pois Tâmara não tivera os pesadelos de sempre, acho que era coisa de criança, influência das imagens chocantes do filme.
Acordei no outro dia, e percebi que minha filha estava mais calma, nem uma palavra sobre óntem, decidi poupar a pobrezinha, tão doce, delicada e meiga.
Levei-a para a escola, e ao voltar perguntei à empregada se tinha sobrado mais café, mas ela não respondeu, andei pela casa inteira e percebi que havia sumido.
Passaram-se dois dias, e nada da empregada, desgraçada, deve ter fugido com aquele drogado vagabundo do namorado dela, melhor assim, encontro outra que cobre mais barato que ela os serviços.
Tudo corria bem, até que o telefone tocou, corri para atendê-lo, quem sabe não seria a irresponsável da empregada ligando para justificar sua falta.
- Alô. É da casa do senhor Lucas? – Era a diretora do colégio – Por favor, venha urgente até a escola, sua filha não esta nada bem.
Fiquei desesperado, larguei o telefone fora do gancho e sai em disparada com meu carro, até à escola, onde minha filha estudava, o que diabos estaria acontecendo, afinal.
Chegando lá, me dirigi ata a diretoria, onde a diretora estava me esperando, entra-mos e percebi que em uma das cadeiras, que havia na sala, estava minha pobre filhinha, chorando amargamente, um choro de tristeza e vergonha.
- Lamento senhor, mas teremos que expulsar sua filha do colégio.
-O que? Mas por quê? O que ela fez de tão grave?
-Também estou espantada como o senhor, demorei a acreditar, mas a inspetora flagrou sua filha, no banheiro dos homens, toda nua, se esfregando neles, segundos os garotos, de repente, ela ficou violenta e começou a atacá-los querendo mordê-los e arranha-los. A inspetora chegou bem na hora em que ela estava em cima de um deles, tentando enforca-lo.
Fiquei apavorado com aquela situação, mas devido aos fatos ocorridos nos últimos dias fui obrigado a acreditar. Levei Tâmara para casa e no caminho ela tentara se justificar:
-Eram eles, eles queriam me matar, papai...
- Olha Tâmara, tudo bem que você deve ter ficado chocada com aquele filme horrível que assistiu, mas isto já esta passando dos limites.
- Que filme, papai, aquela porcaria que eu aluguei para o senhor? Eu nem se quer cheguei perto dele.
- Mas se não chegou filha, então me diga, quem afinal quer pegar você?
- Eles...
-Eles quem?
Perguntei isto e de repente, ela fica daquele jeito novamente, sua face fica vermelha, seu corpo aparenta ter enegrecido, e de repente ela pula em cima de mim, me tapando a visão do caminho, ela pega em meu pescoço e tenta me enforcar, então de repente o carro acaba batendo bem na frente de nossa casa.
Ela abre a porta e sai correndo, entrando em nossa casa.
- Filha! – Grito eu, sem resposta.
O carro tinha tido uma bela batida, vou então até o porta-malas, e ao abrir um susto, encontro o corpo, de nossa empregada, toda nua, ensangüentada inteira, com facadas por todo o corpo.
- Mas quem diabos pode ter feito isto? – Pergunto eu apavorado.
- Fui eu papai... Ela tentou me matar também, e agora o senhor, não é mesmo.
Fiquei aterrorizado mais do que já estava, minha filha, havia cometido um assassinato, mas como uma criança tão doce como ela pode ter feito isso.
Não poderia entregá-la a policia, a amava demais e acreditava com certeza de que isso era apenas uma fase ruim para ela, pai é pai, porra.
Então olhei em seus olhos, e disse:
- Filhinha, papai não vai fazer nada com você, se me prometer que nunca mais ira fazer isso, pois é muito feio.
Ela me olhou nos olhos, parecia que havia voltado ao normal.
- Ta bom papai, eu não faço.
Nos abraçá-mos e entra-mos em casa, depois é claro de fazer um fundo buraco no quintal e enterrar o corpo da empregada, que no final das contas não valia lá grande coisa mesmo.
Passou-se um mês e as crises haviam acabado, coloquei minha filha para ser analisada por um psicólogo, e parece que realmente as consultas estão dando certo.
-Você esta muito melhor filhinha, parabéns.
- Não agradeça a mim papai, mas à minha amiga.
- Que amiga, filha?
- Minha grande amiga, Estrela, que eu conheci já faz um mês, ela me protege.
-Que bom, filha, agora tem uma amiguinha.
Fiquei pensando nas palavras dela, será que existira alguma amiga mesmo, ou será tudo coisa da cabecinha infantil, cheia de imaginação dela.
Dias se passaram e a crise havia acabado mesmo, os policiais deram busca em minha casa atrás da vitima, mas nada encontraram, grande idéia ter enterrado ela em meu quintal.
Tudo ia bem, até que certo dia minha filhinha me chamou toda alegre, feliz da vida e me disse:
-Papai, já que nós não temos mais empregada, eu disse isso a minha amiga e ela veio pedir emprego para o senhor.
- É verdade meu amor – Disse sorrindo, será que finalmente ia conhecer a famosa amiga de Tâmara.
-Vamos até a porta, ela esta lá fora te esperando.
Tudo bem, amorzinho, vamos.
Fomos até a porta, e a abri-mos, lá estava à amiga de Tâmara, era uma jovem moça, que aparentava ter seus vinte e cinco anos, muito bonita.
Era loira, dos cabelos cumpridos, da pele bem branca, mas espere, na testa, em sua pequena testa, bem entre as sobrancelhas, havia algo, era uma tatuagem, uma estrela.
Era nada mais, nada menos, do que a garota do DVD.