APARIÇÕES NOTURNAS
O velho sorrindo, na cadeira de balanço:
- Valmir, essa história de vampiro é mentira. Lenda. Não existem essas criaturas não. É tudo fantasia de quem não tem o que fazer.
O rapaz fita o rosto magro, castigado pela idade, pálido, os cabelos branquinhos, os braços longos, as pernas alvas, na bermuda folgada e não retruca. Para quê? O pai é radical, quando tem uma opinião...
- Bom... eu vou indo.
Ergue-se, aperta a mão do idoso e retira-se da salinha, para logo estar no carro e partir. O idoso volta a pensar nas aparições do vampiro que, segundo o filho, estão surgindo no início das noites, nos bairros da cidade.
- Besteira tudo isso, o povo tem muita imaginação.
Cadencia-se, cochilando, esquecendo-se. Tudo esquecendo.
No automóvel, o rapaz de repente, sente-se "diferente" e, como em vezes anteriores, a cabeça roda, o mal-estar o vence, e estaciona à lateral, enquanto os demais veículos passam, a cidade estende-se lá embaixo, com suas luzes, na paisagem costumeira e, dentro do carro, o corpo já reduzido na metamorfose, o grande morcego bate as asas e, saindo, ganha a noite, buscando a próxima vítima.