Minicontos

A) PAPAI

Era muito legal meu pai. Sempre saía comigo, jogava bola, me dava presentes, era carinhoso e eu o amava.Minha mãe estava no hospital, sofria de diabetes sabe? Papai chegava do trabalho pouco antes de mim da escola. Todo dia trazia algo para mim. Um dia ele estava esquisito. Disse que tinha algo especial para mim. Vibrei! Pegando-me no colo, como sempre fazia, me beijou. Foi quando sua língua entrou na minha boca sufocando-me. Suas mãos seguravam minha cabeça enquanto ele me sorvia e lambia minha boca. Tirou nossas roupas. Segurando-me forçou seu membro contra meu ânus. Eu tinha nove anos. Aguentei até os treze. Odiei-o.

Hoje é o grande dia! Sairei da Casa de Detenção para Menores Infratores, já tenho dezoito. Louco para ver minha mãe, cuidar dela. Nunca visitou o túmulo de papai. Nem eu. Quero também resgatar o símbolo da minha liberdade: coberto de plástico o manchado machado escondido no tronco da árvore.       

 

B) FUGITIVO

Consegui! Estava do lado de fora! Escapei do inferno! Nunca me pegariam! Malditos! Policiais corruptos! Lazarentos!! Corri, corri, corri. Estava faminto. No meio da floresta avistei um casebre. Fumaça fina na chaminé? Devem estar cozinhando algo. Entrei sorrateiramente. A velha cozinhava na lenha. Peguei um pedaço de madeira e num golpe rachei sua cabeça.

Eu comia o guisado quando a porta abriu com um estrondo. A monstruosidade humana viu a velha estatelada no chão, o sangue, a arma do crime e... o criminoso. Através dos cabelos ensebados e brancos vi dois olhos em cima de mim. Dei um salto pela janela. Corri novamente. O homenzarrão, mesmo com aquela deformidade toda, estava no meu encalço. Em suas mãos o mesmo pedaço de madeira com a qual matei a velha. Corri, corri, ele, correu, correu. Desapareceu na escuridão. Não agüentando mais, desfaleci. Ofegava. Sentei um pouco. A manzorra no meu ombro! Virei-me com os olhos fechados, e, colocando as mãos na frente berrei por misericórdia para a sombra enorme. A arma em suas mãos. O macacão todo sujo de graxa e sangue. Seu rosto deformado e a voz cavernosa: - VOCÊ ..... !! – Estendeu o pedaço de pau há dois centímetros da minha cara miúda. Eu dava passos para trás, e, esperando a paulada ... tremia .... Pesada, pausadamente, gutural – Você .... – A madeira a dois centímetros do meu nariz. Caí. Arrastei-me. Encurralado numa árvore: Me desculpe, eu estava com fome e ... ele estendeu novamente o

pedaço de madeira: - VOOOCÊÊ ... Parou. Fechei os olhos - Você ... Esqueceu isssso ... – A coisa suja, obesa, sebosa e velha me entregou a madeira e, virando as costas desapareceu na escuridão.

Levantei-me. Sorri. Gargalhei. Corri, corri, corri ... 

C) HOSPEDARIA

Chovia a cântaros. O carro enguiçado na estradinha molhada irritava o casal. Cobrindo-se andaram até a velha hospedaria de estrada. O casal de velhos que cuidava do estabelecimento tinham um ar sinistro. Parecia que uma sombra medonha e insistente cobria seus semblantes. Os olhos predadores, as mãos ossudas.

- Olá queridos! Vejo que precisam de um quarto! E comida também. Jack, meu velho, acompanhe nossos hóspedes até o quarto. Amanhã ajudaremos com o carro. Não se preocupem com nada. – Sorrindo malignamente a velha os acompanhou com os olhos. Chegando ao quarto o velho abriu a porta. Eles juraram terem visto a velha esgueirando-se pelas sombras dentro do quarto! Entreolharam-se. Derem de ombros. A viagem de seis horas numa chuva torrencial os exauriu. Passou-se um tempo.

- Eles já devem estar dormindo Jack!!

- Vamos averiguar minha velha, pegue a lanterna

Subiram nas pontas dos pés, os sorrisos e a sombra acompanhava-os.Usando a chave mestra abriram a porta silenciosamente e entraram. O casal estava na cama

.AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHRRRRRRGGGG ......... – Um grito e ... silêncio. Quase dia.- Como foi querida?- Bom! Eu acho que ele sofria de pressão alta. E você?

- Bom também. Saborosa. Precisamos descansar agora. Já é quase dia. - Tem razão.

Os donos da hospedaria jaziam na banheira. Vazios. Secados.

C) MINHA VEZ

Adoro fila! Aguardo com ansiedade minha vez! Saciar e ser saciado! Que delícia! Uma vida breve e prazerosa. Invadindo o que é meu!   Quando minha vez chegar ... Ah! Entrarei com prazer desmedido! Atacarei lenta e calmamente. Quando perceber será tarde demais.  Tenho muitos amigos e um parceiro inigualável, o fogo. Eu e o fogo somos inseparáveis! Sem ele, nada teria graça. Minha vida nem existiria. Eu e ele juntos podemos matar aos poucos ... Ah! Não somos notados. Quando somos, bem, na maioria das vezes fatal. Opa! Chegou a minha vez! Ah Ah! O hospedeiro pegou-me com prazer! Breve estarei em seus lábios. Aí vem meu companheiro. Uniu-nos. Ahhhh que delícia invadir as vias respiratórias, grudar nas veias, pulmões, dentes. Metamorfoseio-me. Entro branco e brilhante e saio opaco. Sempre envenenando. Sempre aos poucos. Adoro! 

D) REINOS 

Reino do Norte – Reino do Sul: Inimigos mortais. Os monarcas foram amigos outrora. Príncipes amigos desde mais jovens. Até dividirem o amor da mesma mulher. O Sul ganhara. A nobre princesa duplamente amada escolheu ser Rainha do Sul.  O Líder do Norte alimentou o ódio mortífero durante anos. Investiu pesadamente e em silêncio em cavalaria e infantaria. Seus puros-sangues, negros e couraçados, montados por cavaleiros, que com sangue puro, corriam e rasgavam ébrios com sucessivas vitórias.O Reino do Sul recebeu a notícia da iminente batalha.  - Avante soldados! Cavaleiros cubram os flancos! – Gritou o Monarca atacado.  - Arqueiros aguardem! A cavalaria do Norte avança ao lado da infantaria. Cavaleiros do Sul protegendo os flancos. Baixa dos dois lados. - Temos uma falha na formação! Reagrupem! – O Líder do Sul percebeu a estratégia desigual do Norte. Temeu. O inimigo, percebendo, avançou sem dó nem piedade! Os duplos puros-sangues galopantemente negros eram a figura da própria destruição. Nas batalhas medievais era comum líderes religiosos trabalharem. Encomendavam almas ao além.  Vupt! Um cavaleiro arrancou a cabeça do padre. - O Inimigo está implacável! Não perdoa nem os vigários ! – Berrou o Rei pressentindo a iminente derrota.- Arqueiros! Preparem-se! Mais baixas. - Estão no nosso território! Defendam-no!Os puros-sangues investiram. Na mira: A Rainha traidora! Tombou. - Nããããããoo! Minha Rainha! – O Monarca engole a dor e põe-se a lutar também!Vingança a todo custo. Ao seu lado muitos mortos. Viu-se só e em terreno inimigo.Olhou para os lados. Cheiro de sangue. Barulho de galope. Na sua frente o Rei do Norte. Parado. Incólume. O Rei derrotado pegou sua espada e atravessou-se. Caiu. Uma atitude nobre.Os dois amigos se levantam. Cumprimentam-se.No meio dos dois, sobre a mesa, a arte de Caissa com suas sessenta e quatro casas. 

Alex Holy Diver
Enviado por Alex Holy Diver em 14/10/2008
Reeditado em 20/11/2011
Código do texto: T1227629
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