Sangue do Lobisomem

Dominic se encostou numa mureta parcialmente destruída e contemplou o que acabara de fazer.

A besta urrou com a dor da estaca de prata em seu dorso. Cambaleou e caiu se apoiando sobre uma das lápides urrou mais uma vez, como que chamando ajuda sem obter resposta.

A lua gigantesca e amarelada que iluminava todo o céu noturno agora se escondia por trás de algumas poucas nuvens.

O lincantropo possuía quase dois metros de altura, presas e garras capazes de destrinchar praticamente qualquer material e uma força descomunal; porém, sua maior arma também era seu maior defeito. Dominic sabia disto, durante as noites de lua cheia, toda a sanidade dos lua era tirada, eles perdiam completamente controle sobre seus instintos animais; somente alguns muito disciplinados conseguiam resistir a ponto de manter o pensamento humano sobre a fúria.

A luta entre eles foi algo perto de inacreditável, poucos homens raça de Dominic, conhecido por muitos nomes, sanguessugas, mortos-vivos, nosferatus, e filhos da noite; tinham condições de confrontar um lincantropo frente a frente numa noite de lua cheia.

_ Onde está sua arrogância e fúria agora? _ perguntou Dominic levando a mão ao rosto.

O monstro uivou alto e forte, mas com uma ponta de medo, não era um uivo de vitória, e sim um pedido de misericórdia.

Dominic era um homem que contrariava o estereótipo de Vampiro, aliás, ele sempre detestou esse termo, Vampiro é um termo pejorativo que ganhou notoriedade com a estória de um velho bêbado chamado Bran Stoker, e, que não faz jus à raça de seres que abençoados ou amaldiçoados eram mais do que homens; eram deuses.

O lobo gigante começou sua transformação deixando sua face bestial e tornando-se um simples homem.

_ Vocês_ disse Dominic_ tão arrogantes, tão cheios de si, mas são apenas humanos; eu por outro lado sou imortal, não sinto dores nem amores. Tenho um corpo morto que precisa de sangue para permanecer como antes, porém meu espírito é indestrutível.

O urro já se parecia um pouco com um grito humano enquanto a fera se tornava apenas um homem.

_ Olhe para mim, monstro.

O homem-lobo tentava se levantar, mas a estaca em suas costas o havia inutilizado. Ele olhava para Dominic e não podia entender como fora vencido.

_ Você é apenas um vampiro, nem vivo você é._ retrucou o homem que agora era metade lobo, da cintura para baixo.

Os olhos de Dominic se inflamaram e ele se aproximou de sua vítima.

_ A lua já não pode mais lhe ajudar._ sussurrou.

O homem se contorcia de dor e tremia também, sabia que tinha sido um grande erro tentar surpreender aquele vampiro, mesmo se utilizando de sua fera aprisionada, mas ainda não era suficientemente forte para domá-la e pagaria muito caro por sua inexperiência.

_ Você pagará muito caro, sim._ disse Dominic obviamente lendo claramente os pensamentos de seu adversário_ vai me dar algo muito precioso para nós dois, vai me dar seu sangue.

De repente o homem com a estaca nas costas retirou forças sabe-se lá de onde e saltou sobre Dominic, era uma última tentativa de não ser abatido naquela noite; ele tinha certeza que causara danos gravíssimos no vampiro e não entendia como aquilo não o tinha detido.

Dominic esquivou-se sem muitos problemas do derradeiro ataque do lobo que agora era somente um homem comum e muito ferido.

O homem caiu no solo úmido do cemitério e lá ficou bufando e tossindo; sentiu a estaca ser retirada de suas costas e seu pescoço ser violado pelas presas do seu oponente vencedor, sentiu sua vida se esvaindo rapidamente, memórias, lembranças, conhecimentos; absolutamente tudo o que era estava sendo drenado e passaria a fazer parte de um outro ser.

Dominic saiu do lugar andando exatamente como entrou, maltrapilho, pela batalha brutal que travara, mas um pouco mais forte pela ingestão do sangue do Lobisomem.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 19/09/2008
Reeditado em 13/11/2008
Código do texto: T1186816
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.