Satisfação
Os corpos encontravam-se encolhidos em um recinto curto, com espaço para apenas um. Ele estava sobre ela, beijando-a calidamente, afagando-lhe a face e lhe sussurrando promessas de amor com uma voz luxuriante. Ela estava embaixo, ouvindo a tudo calada, demonstrando uma frieza sobre-humana.
Ele a abraçou, mas ela sequer pareceu perceber. Estava sendo frígida, mas ele não se importava. Já lidara com casos como o dela, e sempre se saíra bem. Conseguira atingir o êxtase, mesmo que ela não o atingisse. Na verdade, ele não se importava muito com ela, nem com nenhuma das outras. Sussurrava-lhe juras de amor apenas da boca para fora, enquanto por dentro sorria e revirava os olhos de prazer. Não lhe dizia respeito se as mulheres não atingissem o orgasmo, contanto que ele atingisse o seu. Gozava com gemidos e com sussurros, com suor e saliva, com sêmen e paixão.
Ela não se importava. Continuava ali, sendo penetrada, sufocada por todo o prazer que emanava do homem. Permanecia quieta, sem sussurrar ou gemer, nem dor nem prazer. Apenas parada, esperando que ele terminasse o serviço e fosse embora, para que pudesse deixá-la em paz de uma vez por todas.
Ele, no entanto, era voraz. Não se contentava com apenas uma vez. Não. Ele queria mais. Duas, três, quatro. A noite inteira naquele vai-e-vem constante, ininterrupto. Aquele prazer sufocante, constante, infinito. Ela esperava que ele se satisfizesse, enquanto ele ofegava de cansaço e prazer, o suor escorrendo-lhe pela fronte e pelo corpo nu. Ele a beijava, lambia, apertava-lhe os seios e alisava-os, tentando encontrar todas as formas com as quais pudesse se satisfazer.
E ela esperava.
Quando finalmente acabou, era quase dia. O céu tingia-se de um azul que clareava cada vez mais. Ele não podia ficar por ali depois da alvorada. Tinha de trabalhar, e depois voltar para a casa, mulher e filhos.
Vestiu-se depressa, olhando para os lados, certificando-se de que não havia nada nem ninguém que pudesse avistá-lo. Deixou-a lá, ainda quieta. Fria.
Pulou o muro do cemitério e andou lentamente, avaliando as boas memórias da noite.