Caminho das sombras
E tudo começara em uma noite escura de um breu tão intenso como uma brincadeira de cobra cega. Mas era reta como um destino traçado, dentro da escuridão e da solidão não havia mais retorno, o avanço seria uma forma de vencer e de alcançar um sonho.
Seria o retorno, a volta e ele conhecia muito bem o ultraje e a desaprovação dos que ficaram para trás. Mas dentro de suas escolhas tomara um rumo e sentia-se forte, como um notável.
Assim o motorista pegara aquela reta perigosa para a conclusão de um projeto e dentro desta via o vazio, a noite e acima as estrelas.
A única companheira era a estrela guia que aparecera em uma visão sobrenatural, mas no firmamento do céu podia vê-la. Friamente ela perguntara:
- Você esta preparado?
E ele tremula mente, em seu medo mais profundo, sentindo o desafio e a presença, respondera:
- Não, ainda não estou!
Entretanto ele tinha que enfrentar e concluir o seu projeto. Assim seus interesses misturavam-se e ele sentia medo e alegria, dor e prazer, solidão e mistério. O percurso era longo e escuro e as fases de sua via passavam como o tempo.
Aquele percurso sempre fora conhecido e Barcelo sempre atravessara sem medo, mas naquele instante o enfrentamento seria outro e ele sentia-se 3 vezes em divisão.
Dentro de uma nostalgia doente ele pensara do tempo que era jovem e de quando saíra daquele lugar para sempre, sobre juras e pragas dos que ficaram. Mas como o homem mais independente do mundo a frente o conduzia e os sentimentos do ser mais só e feliz, pleno e competente.
Tinha que seguir e prosseguir. Então levara o possante azul como marca e lembrança do que restara. Muito tempo se passara desde que pegara aquela estrada, mas Barcelo conhecia com perícia todo o caminho e um senso de expectativa dentro do que iria encontrar, a velocidade e uma estrada reta.
E a velocidade era a sua luz e a única marca daquele caminho seria seu carro solitário e egoísta que passava por cima dos outros que ficaram, do medo e da morte.
E agora noturno e solitário, em sua solidão sentia uma ultra-força . Os anos se passaram e a conclusão de um objetivo chegara, Barcelo avançava e não queria encontrar a sua realidade. Porem quanto mais avançava ,mais estes pensamentos se dissolviam, dentro de uma sensação de plenitude e onipotência.
Dentro de todo o tempo o motorista fora dividido internamente em 3 partes e como uma arvore que ganha flores, ele voltara a amar e o condicionamento era uma prisão.
Barcelo sempre quisera amar como um selvagem livre, sem estreitamentos ou medo de perder. Mas agora na velocidade da luz ele encontrara em sua reflexão duas pessoas e amá-las era morrer.
O amor chegara, o estreitamento também e, existia um carro, um caminho dentro de uma direção reta – frio.
Fora então que diversas cruzes começaram a aparecer nos canteiros da estrada e quanto mais ele acelerava mais elas apareciam. Como um sinal de sua solidão e reflexão ele pensava que estava entrando em um cemitério, mas antes que formulasse este pensamento o carro perdera o controle. Desgovernado ele caíra sobre um barranco e tudo desaparecera de sua mente.
Acordara em um sobressalto. No lado esquerdo da estrada Barcelo podia visualizar as cruzes e tudo naquele ambiente representava a hostilidade e era estranho o que sentia. Tinha que prosseguir, e na escuridão percebera que abaixo da estrada poderia avistar um pântano, porem uma coisa estranha acontecia: Eram vozes, gritos e uma musica fúnebre que tocava ao longe.
Assim uma serie de seres começaram a surgir, acima podia ver as estrelas, mas os seres se rastejavam no chão e podia ouvir gritos e gemidos. No pântano pode sentir a umidade e única luminosidade que pudera avistar era ao longe onde muitos dos seres faziam reverencia. Neste cenário o motorista viajante entrara em desepero.
Queria encontrar alguma explicação sobre o que se sucedera e em seu desatino de aproximara de um dos seres.
- O que significa este lugar? –Perguntou Barcelo ofegante.
- Aqui é o vale das sombras.-respondeu o ser –Todos aqui seguem aquela direção!- disse apontando para o ponto de luz ao longe.
Barcelo ainda não conseguia identificar, se situar e perdera a noção e o senso critico. Formulando seus pensamentos se lembrara da estrela guia e conseguira se lembrar da estrada e do caminho, entretanto não conseguia entender o monte de seres ao seu lado.
- O que estou fazendo aqui?
- Todos que aqui permanecem é porque estão mortos, cada cruz é uma morte que foi ceifada e a estrada que você dirigia era o caminho do inferno. Você acaba de chegar ao seu novo lar.
Dentro da estrada um carro fúnebre parara e Barcelo se aproximara , entrara dentro do carro e pudera perceber que era seu corpo que estava a caminho do velório e que sua morte fora decretada. De agora em diante seria morador da zona escura, junto com o vale das almas aflitas em busca de luz.
Sentia suas dores e sentira o sofrimento, mas tinha que prosseguir. Pegara a estrada para o inferno e seria de agora em diante um morto. Avistara sua cruz e pudera ler o seu nome, e na nova morada não haveriam mais desafios e nem medos, solidão ou repulsa, porque chegara a ter a noção nítida de que seria apenas uma pobre alma, aflita e ávida por luz.
Fim
Joaquim Dark
joaquimdark@ibest.com.br