Nova vida // Sumiço do pintor
Terror
NOVA VIDA
Às dez da manhã, ele chegou com a mudança. Meio dia e meia, tudo já estava dentro da casa. A esposa e as filhas chegaram às 14h00 e iniciaram o trabalho de reorganização dos móveis e da vida. Às dez da noite, não tinham chegado nem à metade do trabalho. Cansados, arrumaram um cantinho e foram dormir, todos no mesmo quarto – no chão mesmo.
Mal se ajeitaram e ouviram três pancadas na janela. – Deve ser o vento. – Acalmou-se. Dois minutos depois, bateu a porta do banheiro e logo em seguida, a porta da cozinha. Ele sentou-se e acendeu a luz do quarto. Arrepiados, ele, a esposa e as três filhas viram a luz do corredor acender sozinha em meio a gritos e pancadarias como se fosse uma briga.
Cinco minutos depois, cheio de malas e roupas, um táxi saía rumo ao hotel mais próximo. Estavam certos de que, no dia seguinte, o trabalho voltaria à estaca zero.
++++
Horror
O SUMIÇO DO PINTOR
Trabalhava como pintor de casas e usava jornais para forrar o chão. Logo após o almoço, movido pela curiosidade, enquanto descansava, resolveu matar o tempo com leituras. Foi algum tempo depois de levar um tremendo susto com sua esposa e com as filhas, no dia de sua mudança. Pegou um jornal e sentou-se para ler. Ao olhar a primeira página, o pintor ficou perplexo quando viu a manchete ao lado da foto de uma casa. “Polícia fecha cerco a quadrilha... Oito morrem em tiroteio”.
Estático, quase sem respirar, olhou manchete, textos, fotos e legendas e tudo o que a matéria trazia sobre a ocorrência. Na última parte da reportagem, viu os corpos enfileirados em um dos quartos da casa, que tinha o piso completamente lavado pelo sangue. O mesmo quarto em que ele e sua família descansariam depois do duro trabalho da mudança. Por um instante, ele passou os olhos pela data do jornal. Viu apenas o ano: 1971. Sob o olhar dos colegas de trabalho, enrolou o jornal, colocou em baixo do braço e saiu. Seis anos se passaram. Familiares e amigos nunca mais tiveram notícias dele.