A Voz Morta ao Telefone

Era madrugada fria e turbulenta. O vento brutal assolava os galhos magros das árvores lá fora. As iras daqueles que já não vivem mais flutuando abruptamente para assolar a paz dos que não “domem” eternamente.

Ele, os vivos, estão acomodados e quentes sob os cobertores, e talvez nem saibam que a Morte os espreita.

Às três da madrugada o telefone toca fazendo grande frenesi ruidoso, como qualquer barulho durante a noite, capaz de acordar os mortos.

Ele se levanta assustado, frágil. O recanto confortável se desvanece ao sair dos doces sonhos e das cobertas para o frio enregelante e cruel da realidade.

Trililililinnnnnnnnn.

O telefone toca novamente. De pés no chão ele sente o FRIO penetrar em suas pernas e percorrer sua espinha. O cérebro exita um momento para depois queimar de horror.

O aparelho chama pela terceira vez. Ele enche a mente de pensamentos funestos que o enche que pavor, deve ser noticia ruim, MORTE, pensa.

Não quer atender, porém, mais do que tudo, não quer ouvir aquele tenebroso estardalhaço do soar da campainha, não mais.

Treme. Soa. Aguça os sentidos. Pega o telefone, mas não o coloca diretamente ao ouvido. Sente uma brisa gelada que acaricia suavemente sua nuca, como um cadáver.

Estremece! Os lábios se crispam. Os olhos sem embaciam. Ele, enfim, coloca o fone no ouvido, treme a voz ao dizer: “ Alô”, e se confronta com a horrível verdade que gela seu coração do outro lado da linha:

...

DominiCke Obliterum
Enviado por DominiCke Obliterum em 01/07/2008
Reeditado em 05/08/2010
Código do texto: T1059849
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