Não Se Aproxime da Fonte de Sangue
Cansada da Monotonia da cidade, da pressão e stress do dia-a-dia, resolvi reunir alguns amigos, e cair no mundo!
Chamei três amigas e dois amigos para passar alguns dias numa casa da minha família que fica numa cidade vizinha. É um lugar simples e inacabado, herança passada a várias gerações de pai para filhos, mas nunca foi residida assiduamente, talvez pelo tamanho afastamento da civilização, ou até pelas historias mirabolantes que os mais velhos inventaram sobre supostas assombrações existentes no local.
Quando saímos era por volta das 3 da tarde. Mal sabíamos quão longe seria o caminho.
Enchemos o carro com comida, colchões, cobertores e caímos na estrada!
Depois de algumas horas de viagem já se notava a mudança de tempo e de humor também. O dia rapidamente virou noite, e uma tempestade nos obrigou a uma parada de emergência. Chegamos até um pequeno e malcheiroso bar, onde iríamos esperar a chuva ficar menos intensa, e aproveitamos para comprar bebidas, já que isso era a única coisa que não estava em nossa bagagem!
O dono do bar, homem gordo, de vestes surrada, ar estúpido e olhos intimidadores veio em nossa direção, tratamos logo de pedir nossas bebidas. Depois que pagamos, minha amiga deu pressa de ir embora, pois já estava com medo. O homem indagou que a chuva ainda era forte e puxou conversa perguntando para onde íamos. Após falarmos a localização do nosso destino ele esbugalhou os olhos, deu alguns passos para trás até encostar-se no balcão, e disse com voz tremula para que voltássemos, que fossemos para nossas casas, pois aquele lugar não era seguro.. Mas a gente já estava tão perto, íamos passar apenas aquela noite e ir embora logo pela manhã. E além do mais, a gente nem conheciam aquele homem! Devia estar tentando amedrontar-nos. Quando eu disse que seguiríamos ao nosso destino, o homem pegou uma faca de tamanho assustador, e nos escorraçou do seu bar. Assustados com atitude tão inesperada corremos para o carro, arrancamos dali apavorados em meio aos gritos, tudo que ouvíamos eram muitos xingamentos e mau agouros, e um aviso: Não se aproximem da fonte de sangue!!!
No primeiro momento, estávamos apavorados, alguns choravam, outros queriam voltar para casa, mas em pouco tempo foram se recompondo, e passamos a rir da situação.
Em meia hora chegamos a casa, que se encontrava imunda, cheia de insetos e o pior, sem energia elétrica por causa da tempestade.
Limpamos apenas um cômodo, estendemos colchões e acendemos algumas velas, que acabaram por deixar o clima ainda mais tenso. A chuva já tinha passado, e o clima tornara-se quente e abafado. A casa era tão velha que não tinha mais portas nem janelas, havia buracos no telhado e as paredes ameaçavam cair sobre nossas cabeças.
No auge da embriagues dois amigos e duas das amigas resolveram sair para “tomar um ar”, deixando eu e a outra amiga sozinhas. Não iríamos sair, afinal supomos que eles saíram no intuito de ter mais privacidade, porém ficou tudo muito entediado.
Quando o sono ameaçou me tomar, resolvi ir atrás dos casais junto com minha amiga. Andamos floresta adentro, levando algumas garrafas, é claro. Ouvimos barulho de cachoeira e seguimos. Eu andava rápido, já estava com medo, pois a mata se tornava cada vez mais fechada, e tudo o que eu enxergava era pela luminosidade da Lua, que se exibia cheia e vistosa. O pânico me tomara por completo ao me ver perdida, pois a essa altura minha amiga se afastara de mim, e não conseguia localizá-la, mas no extremo do meu pavor ouvi risadas um pouco perto, até que avistei uma espécie de rio de água barrenta, e lá estavam todos, completamente nus, bebendo na parte rasa do rio. Senti um alivio.
Parei, e todos me olharam, incentivando a despir-me também para mergulhar. Eles estavam com aparência estranha, lívidos. Hesitei ao primeiro instante, mas logo me deixei levar pela empolgação da embriaguez.
Despi-me. Fui entrando naquela água avermelhada, quando me lembrei do que o homem dissera á algumas horas, meus amigos pararam de rir, e me mandaram voltar, pois já estava muito fundo, bem que eu tentei, mas minhas pernas travaram, e era como se algo me puxasse cada vez mais fundo, o pânico novamente me tomou, eu tentava em vão retornar, mas a água já cobria meu rosto. Meus amigos gritavam para que eu não abrisse os olhos, não olhasse dentro do rio, porque havia muita gente morta lá dentro. E foram todos pulando na água e afundando junto comigo.
Minhas lagrimas se misturava naquela água morna e viscosa, eu cada vez mais fundo, tomada por muitos temores, de não saber nadar, do que o homem dissera, do que meus amigos disseram também...
Eu já estava totalmente submersa. Abri os olhos, e vi que estava embaixo daquele rio, porém podia respirar normalmente. Até que alguns vultos passaram a me cercar, e foram tomando formas, até eu estar cercada de crianças. Minha respiração era ofegante. Uma menina, de aproximadamente cinco anos se aproximava. Era bonita, loira de pele muito branca, mas estava mal vestida e suja de sangue.
Aos poucos muitas crianças povoaram aquele local, bebês também. E vinham todos ao meu encontro, penosas e humilhadas, pele suja e ensangüentadas. Até que perguntei onde eu estava, e para minha surpresa ela me disse tranquilamente que ali era o inferno! Eu ainda confusa, questionei, Como? Porque crianças, seres tão indefesos e inocentes mereceriam algo tão ruim? Ela então me deu um espelho, senti um choque ao ver que eu também tinha forma de uma criança. Entre as outras crianças estavam meus amigos. Aquela menina era o homem do bar que disse para não irmos á fonte de sangue.
A gente aprendeu tarde a não insistir em ir de encontro ao Mau. É uma trilha que não possui volta. A fonte de sangue agora é nossa eterna morada.
Não se aproxime da fonte de Sangue.
*Esse conto teve como base um sonho (melhor dizendo, um pesadelo) que tive na ultima sexta-feira.