Uma Fênix
Lembro-me que estávamos sentados frente a minha casa como de costume; inicio de noite e nada para fazer, conversávamos sobre todo tipo de bobagens, eu e mais dois colegas, Cláudio e Yago.
Sempre que um grupo de amigos se reunia na rua, geralmente à noite, tínhamos o estranho costume de contar sobre histórias no mínimo estranhas, era comum conversarmos sobre fatos misteriosos e até medonhos que ocorriam nas redondezas. Nessa noite não formamos um círculo com vários amigos e tão somente nós três estávamos fazendo aquilo.
Cláudio estava sentado na calçada sobre o meio-fio recostado a um poste, eu estava junto ao muro da frente de casa e Yago frente a mim.
Cláudio Tinha contado momentos antes sobre uma daquelas lendas urbanas, mas não recordo qual; a única coisa que aconteceu naquela noite de outono da qual não me esqueço foi o que ocorreu em seguida.
Ficamos ali sentados durante bastante tempo, lembro que não haveria aula no dia seguinte, porém, subitamente todas as pessoas que normalmente costumavam ficar nos portões de suas casas tal qual nós resolveram se recolher mais cedo, isso era realmente muito raro de acontecer. Estou falando aqui de uma rua quase bucólica de um então município pequeno onde praticamente todos os vizinhos se conheciam, eu por outro lado estava recém chegado ali, tinha me mudado fazia três ou quatro anos no máximo.
Bem o fato era que, a rua, de uma hora para outra ficou completamente deserta, eu e os dois colegas permanecíamos sem perceber essa alteração súbita na realidade a nosso redor. Devia ser por volta das vinte e três horas, nossas vozes ecoavam até certo ponto sós, sem nenhum outro som que rivalizasse com elas.
Subitamente uma luz avermelhada brotou na rua, tão grande como um farol de caro iluminando o lugar onde nós estávamos sentados; a princípio nenhum dos três, ali descontraídamente, se deu ao trabalho de averiguar, pois até então pelo menos na minha mente tratava-se de um carro que logo passaria em nossa frente. Porém a luz não desapareceu, nenhum carro passou e como se não bastasse, um calor súbito emergiu sabe-se lá de onde; aquecendo não só as minhas costas como as de Cláudio sentado junto ao poste; na mesma hora lembro que nos voltamos para o lugar de onde a luz avermelhada emanava, mas tanto ela quanto o calor que a acompanhava já havia desaparecido como num passe de mágica.
Intrigado, me voltei para os outros dois, pois pensava que só eu havia tido aquela sensação insólita, mas para meu espanto Cláudio instantaneamente reportou a mesma coisa, por dois ou três segundos indagávamos a nós mesmos o que teria sido aquilo, sem perceber que um de nós não falava absolutamente nada.
Yago permanecia parado e com uma aparência pálida na face, só então percebi que ele era o único que estava sentado de frente para o lugar de onde misteriosamente havia brotado luz e calor, e tão misteriosamente quanto o aparecimento foi seu desaparecimento.
Chamei pelo nome dele, mas parecia não adiantar, ele estava quase que em transe e assim ficou durante cerca de um minuto; não sei ao certo. Sei que depois de um tempo curto, mas que parecia não ter fim eu o vi fazendo força para falar, quando já estávamos pensando em sacudi-lo finalmente ele rompeu com o silêncio e disse a seguintes palavras:
“Bola de fogo”.
Não entendendo o que aquela frase significava, Cláudio perguntou o que exatamente Yago queria dizer.
“Acabou de passar uma bola de fogo sobre a rua, bem na altura das casas”_ foi a resposta.
Nos entreolhamos e um sentimento conhecido de todos, inclusive de vocês leitores apareceu sem ser convidado. O medo.
Tudo que podia passar pela mente de três garotos, naquele instante passou em uma velocidade tão alucinante que nossos lábios não puderam acompanhar e não pronunciaram palavra alguma. Desde todo tipo de assombrações conhecidas pelo homem até a hipótese de uma visita extraterrestre; foi como tomar uma injeção de imaginação pura direto na corrente sanguínea.
Tudo ocorreu muito rápido e não durou mais do que cinco minutos; lentamente nos levantamos e fomos cada qual para sua casa; eu morava exatamente ali, o tempo todo estive encostado no muro de casa, só precisava tomar coragem para abrir o portão e entrar correndo.
Yago até hoje é meu vizinho da casa em frente, ele precisou atravessar a rua e passar pelo seu grande quintal até chegar nos fundos do terreno onde está localizada a entrada da sua casa, era de nós três, o que estava mais abalado, pois foi o único que efetivamente viu “aquilo”. E por fim Cláudio morava na rua transversal de cima, chamada Barão de Saluce, não era longe, mas naquelas circunstâncias parecia outro município; porém ele foi assim mesmo; provavelmente foi o que menos ficou abalado.
No dia seguinte estávamos todos reunidos, não somente os três que presenciamos o fenômeno, mas todo o grupo que comumente se unia para contar histórias e contos. Juntos repetimos diante de todos o que havia ocorrido na noite passada, mas Yago se negou a dar detalhes do que viu.
Os anos se passaram, cada um de nós têm sua versão dos fatos segundo suas convicções; esta é a minha, mas a verdade e que até hoje, mais de dez anos depois, não temos realmente certeza do que foi aquilo.
Aos Guerreiros da Virtude.