A RECOMPENSA

Estava de viagem, porém desta vez ia sozinho e sentia-me de certo modo solitário, pois ainda teria de enfrentar uns quinhentos quilômetros até o meu destino.

Quase sempre eu parava ali, naquele restaurante da estrada, onde almoçava, quando coincidia passar pela cidade na hora do almoço. Por ser churrascaria e pela qualidade da comida, eu sempre fazia minha viagem coincidir no mesmo horário para que eu passasse por ali na hora do almoço.

O restante da estrada que era um pouco menor seria facilmente vencido no restante da tarde antes de a noite chegar.

Sentei-me à mesa e antes mesmo de ir até o balcão, para servir-me dos frios e outros acompanhamentos do rodízio, fiquei observando discretamente as outras pessoas que ocupavam as mesas que estavam mais perto da minha.

Na mesa que ficava logo a minha frente, um casal se fartava de maneira voraz e até de certa forma grotesca de enormes nacos de carne que o garçom havia servido momentos antes.

A minha direita havia um homem de mais ou menos cinqüenta anos de idade, uma velha que parecia ser sua mãe e outra mulher que poderia ser sua esposa.

Na outra mesa que ficava a minha esquerda, um jovem negro acabava de sentar-se depois que colocou um prato já completo de diversos acompanhamentos e, enquanto esperava a passagem do garçom que lhe serviria a carne, levantou-se e se dirigiu ao banheiro. Deveria ter esquecido algo nele, pois sua atitude demonstrava isso. Quando saiu, dois jovens se encontravam do lado de fora da cobertura da churrascaria, um deles esticou um braço e pegou o prato que se encontrava servido sobre a mesa.

Quando tentei falar alguma coisa contra aquele ato reprovável, o ocupante da mesa já retornava, viu o acontecimento, porém, ao invés de recriminá-los, sorriu de forma condescendente e foi pegar um outro prato. Um garçom, ao ver que os indigentes haviam pegado o prato do cliente, ia-se se dirigindo a eles para tomar-lhes os pratos, mas foi impedido pela vítima que, ao ver a cena, disse-lhe:

- Pode deixar não se preocupe que eu pago, deixe que eles comam a vontade, devem estar com fome.

Aquela cena, de certa forma, chocou-me, mas, no mesmo momento, me veio à lembrança um fato que havia ocorrido comigo já há mais de vinte e cinco anos. Enquanto meu rápido pensamento tentava recompor as cenas de muitos anos atrás, ouvi da vítima do furto, uma interrogação:

- Senhor, eu posso sentar-me aqui?

- Ah, sim, sente-se e esteja à vontade.

Enquanto o jovem negro se sentava a minha mesa, mesmo com esforço, não consegui evitar que algumas lágrimas escorressem dos meus olhos, quando me lembrei da cena de segundos atrás e aquilo que me veio à lembrança de muito tempo atrás.

Passei a mão sobre o rosto, tentando limpar as lágrimas, de modo que o companheiro de mesa não percebesse, então comentei:

- Gostei de ver sua atitude e agora mesmo me lembrei de um fato que aconteceu já há muito tempo, quando eu morava em Goiânia.

Ao que ele comentou:

- Sabe, senhor, esta é em parte um retrato de nosso país, que, embora rico, tem tanta gente miserável.

- Pois é, além disso, está sendo dilapidado por essa corja de bandidos, que se intitula de políticos.

Depois de nos apresentarmos, conversamos por alguns momentos, tendo como assunto os maus políticos que tomaram o país de assalto. Em certo momento da conversa, ele interrompeu, no exato momento em que o garçom voltava a nossa mesa para nos oferecer, desta vez, picanha mal passada.

Durante nossa conversa, fiquei sabendo que ele era um médico- recém formado e viera para aquela cidade para viver ali e praticar sua profissão na região, em gratidão, segundo ele, a coisas do passado. Sem querer me aprofundar no assunto que ele havia dito, falei:

- Isso demonstra que você é um bom sujeito, por ser grato a alguém e agora recompensa aos outros por alguma coisa de boa que um dia lhe fizeram. Isso eu pude notar no momento em que os dois indigentes pegaram sua comida.

- Mas o senhor ia dizendo no início de nossa conversa, que isso havia-lhe lembrado alguma coisa de seu passado?

- Sim, isso aconteceu já há mais de vinte anos, quando eu morava em Goiânia, mas comparado ao seu gesto o meu é bem menor.

- Mesmo assim conte-me o que aconteceu.

- Deixa para lá, isso não tem importância mais.

- Por favor, senhor, conte-me, pois gostaria de conhecê-lo melhor e talvez possa me servir de exemplo em algum momento de minha vida.

- Está bem, mas depois não fique decepcionado, com a pouca importância de minha história.

- Não se preocupe.

Depois de tomarmos o cafezinho que nos haviam servido, eu comecei.

“ Há mais ou menos vinte e cinco anos, não sei exatamente o tempo, eu morava em Goiânia e, certo dia, quando estava perto da hora do almoço, ao olhar pela janela do sala, de onde podia observar as pessoas que passavam na rua, vi um homem parado, olhando para dentro de minha casa. Quando ele observou que eu o havia descoberto, foi-se retirando, mas eu o chamei e pedi que se aproximasse. Mesmo demonstrando certa desconfiança e meio arredio, ele se aproximou da janela e antes mesmo que ele falasse qualquer coisa, pedi a empregada que providenciasse sanduíche para ele. Naquele dia era o almoço que eu comeria. A empregada juntou dois enormes pedaços de pão e colocou presunto e queijo dentro deles e me entregou. Quando fui entregar-lhe os sanduíches, vi que ele estava acompanhado de uma menina de mais ou menos uns quatro anos. Naquele momento, pensei em pedir-lhe a criança para que minha família criasse, mas recuei, para não ofendê-lo e fiquei quieto. Ao ver a criança que o acompanhava, mandei fazer outro sanduíche, mas ele recusou e disse que aquilo que eu lhe havia dado já era suficiente e sem mais demora, depois de agradecer ele foi embora. Eu notei que ele se sentia constrangido por aceitar, parecia que sua dignidade estava sendo ferida por aquele ato. Mas, por outro lado, ele deveria ter família para alimentar.”

- Foi só isso, depois disso nunca mais o vi pelas redondezas e mesmo pela cidade, talvez estivesse só de passagem.

- É muito interessante a sua história, o que o senhor fez, foi muito mais do que o que aconteceu hoje.

- Talvez, mas de qualquer forma a sua atitude é de quem tem um bom coração. Continue, e sempre que exercer sua profissão de médico cobre mais daqueles que têm, mas quando atender alguém que não pode, dê-lhe o mesmo tratamento e, se possível, nada cobre.

-É exatamente o que meu pai sempre fala e aconselha.

- Você ainda tem pai?

- Sim ele tem uma fazenda em Uberlândia e mora nela, a minha irmã também é formada, só que ela é enfermeira e mora na cidade. Eu resolvi vir morar aqui, por influência da namorada que nasceu aqui.

- Você é casado?

- Sim e é justamente por isso que estou aqui.

- Entendi, ela o fez vir para cá?

-Exatamente.

- E por que está almoçando sozinho aqui na churrascaria?

- Bem, é que ela foi passar o fim de semana na casa dos pais e por eu estar sozinho resolvi vir almoçar aqui.

- Por que não foi com ela?

- Estou de plantão, sabe como é a vida de médico. Além disso, a fazenda do meu sogro é bem perto daqui e logo que termine o plantão eu corro pra lá.

- Vocês já têm filhos?

- Ainda não.

Depois de conversarmos por mais algum tempo, despedimos-nos e trocamos nossos endereços e telefones.

Eu tinha pressa, pois mais quinhentos quilômetros de estrada me aguardavam.

Fiquei quinze dias em Goiânia e neste período aproveitei para ir até ao Araguaia,a fim dar uma pescada, já que fazia mais de ano que eu não visitava aquele lugar.

Ao retornar a minha cidade, quando voltei ao escritório, minha secretária havia colocado sobre minha mesa vários recados e, dentre eles, havia um telefone e rapidamente eu liguei à pessoa. Era o jovem médico que eu havia conhecido na churrascaria, quando da minha passagem na cidade onde ele clinicava.

Olhei os outros recados e, vendo que nada de urgente havia para ser resolvido, pedi para a secretária fazer a ligação para o telefone que ela havia anotado.

Depois de muito custo, ela passou a ligação para mim e logo ao pegar o telefone, falei:

- Pois não, quem fala?

-Doutor é o Marcos, o médico que o senhor conheceu na churrascaria quando estava almoçando. Lembra?

- Claro e como eu haveria de esquecer? O que aconteceu?

- Meu pai gostaria de falar com o senhor.

- Por telefone?

- Não, pessoalmente.

- Pois então lhe diga que pode vir à hora que quiser. Sabe do que se trata?

- Sim, mas ele proibiu-me de falar sobre o assunto, ele mesmo quer falar com o senhor pessoalmente. Talvez queira comprar alguma fazenda aí na região.

- Tudo bem, diga-lhe que pode vir o dia que quiser e quando chegar à cidade, telefone que eu vou buscá-lo onde estiver.

- Está bem, eu dou o seu recado e muito obrigado.

- Obrigado por quê?

- Depois o senhor entende.

Após desligar, falei com alguns contatos que sabiam de fazendas que estavam à venda. Eu deveria estar preparado, pois se o pai do médico vinha me visitar devia ser por motivo de algum negócio que gostaria de fazer na região.

Uma semana depois meu telefone celular tocou e, quando atendi:

- Doutor, é o Marcos, já chegamos à sua cidade, como se faz para chegar até aí?

- Onde vocês estão?

- Em frente à rodoviária.

- Vieram de ônibus?

- Não, estamos de carro e queremos que nos oriente para chegarmos até aí.

Expliquei todos os detalhes e dez minutos depois a secretária veio me falar:

- Doutor,há dois senhores e uma moça que desejam-lhe falar, disseram que o senhor os está aguardando.

- Tudo bem, mande-os entrar.

Segundos depois o trio, adentrou a minha sala. Ele, um homem de mais de sessenta anos, já com muitos cabelos grisalhos, o jovem médico e, ao lado destes, uma linda mulher da raça negra, embora bem clara. O que mais denunciava a sua descendência eram os cabelos muito ondulados.

Depois de nos cumprimentarmos e eles se sentarem, perguntei:

- Então, Dr. Marcos, essa é sua família e essa moça é sua esposa?

- Bem, é minha família, embora ela não seja minha esposa mas, sim, minha irmã.

- Ah sim! O senhor, com certeza, é o pai deles?

- Sim, doutor, e estou aqui para conversar sobre eles e o senhor.

- Como, não estou entendendo?

- Doutor, o senhor não está me reconhecendo?

- Não, acho que nunca o vi; ou vi?

- O senhor se lembra daquele sujeito a quem num dia de sábado, há mais de vinte anos atrás, deu alimento?

- Sim, claro, eu até contei essa história para seu filho.

- Pois é, sou eu.

- O que; como pode ser isso?

- Bem, eu vou contar com todos os detalhes do que aconteceu naquele dia.

Embora ele afirmasse ser a mesma pessoa que já há muito tempo estivera na porta de minha casa e eu havia-lhe dado comida, eu não imaginava o que o teatro da vida nos reservava.

Ele, depois de tomar o café que havia sido servido pela secretária, começou o relato:

“Doutor, naquele dia, eu, minha esposa e essa minha filha, que o senhor está vendo, estávamos de passagem pela cidade. Eu havia comprado nossas passagens para Uberlândia, onde pretendíamos trabalhar numa fazenda que havia perto dali. Eu sabia que estavam precisando de um peão para serviços gerais. Eu estava sem emprego já há mais de seis meses e, para dizer a verdade, estávamos passando fome. Depois de comprar a passagem, deixei minha mulher na rodoviária e saí com a Ritinha.( ele apontou para a moça que estava ao seu lado.) Estávamos indo à procura de alguma coisa para comer, já que o dinheiro que restava mal dava para um prato feito. As passagens eu já havia comprado, portando o dinheiro que havia sobrado era destinado a nossa refeição até o dia seguinte, quando estaríamos no local para onde íamos. Lá havia pessoas da família, portanto não iríamos passar fome. Na rodoviária, pensei em comprar pastel para nós três, mas não iria satisfazermos, então saí andando, tentando encontrar alguma coisa diferente e mais completa para comermos antes da viagem, já que os preços na rodoviária eram muito caros”

Ele parou o relato, olhou para os filhos, sorriu e depois de solicitar um copo d’água, pigarreou e continuou:

“Bem, saímos da rodoviária sem destino e antes mesmo que eu me desse conta, estava em frente a sua casa olhando através da janela. Ainda lembro que quando o senhor me viu, tentei sair dali, o mais rápido possível, mas o senhor pediu que eu me aproximasse.”

- Bem, e daí, como se explica o resto, sua riqueza, esses filhos formados, dos quais um é médico?

Ele sorriu mais uma vez e reiniciou a narrativa.

“Depois que saí dali, fui diretamente para a rodoviária, onde minha esposa, grávida do Marcos, estava aguardando. Eu levava os sanduíches, satisfeito da vida, uma vez que economizara o dinheiro e se precisasse no meu destino eu poderia comprar alimentos para os três. Depois que comemos os sanduíches, deixei a Ritinha com minha esposa e saí andando ao léu, dentro da rodoviária, mas em minha mente eu falava ininterruptamente: Obrigado, meu Deus. Quando ia passando em frente a uma casa lotérica, alguém falou para mim: Por que não aproveita e faz um jogo de loteria?”

“Sabe, doutor, eu nem mesmo sabia como fazer o tal jogo, entrei na casa lotérica meio desconfiado e, mesmo sem saber como funcionava, alguém dentro de minha cabeça dizia: O que está esperando, faça o jogo? Enfiei a mão no bolso para tirar o dinheiro e, quando ia pegar a carteira pra retirar a minha fortuna, o dinheiro caiu no chão. Ao me agachar para pegar o dinheiro, este havia caído sobre um papel onde nele havia anotado os números. Novamente a voz dentro de minha cabeça disse: São esses os números. Sem pensar, peguei uma cartela, rabisquei os números que estavam no papel, coloquei o papel no bolso e fui ao caixa fazer o jogo. Depois de jogar, coloquei-o na carteira e três horas depois viajamos para nosso destino”.

Parou novamente o relato, tomou outro copo d’água, bebemos um cafezinho e ele reiniciou a última parte da sua história:

“Quando chegamos ao nosso destino, eu até havia esquecido do jogo, pois estava tão preocupado em procurar o novo emprego que nem tempo de me preocupar com outra coisa eu tinha. Somente uma semana depois me lembrei de conferir o jogo e, para minha surpresa, eu havia ganho. Depois que recebi a fortuna que havia ganho, resolvi visitá-lo para agradecer, mas um dia antes de minha viagem sofri um acidente e fiquei desacordado por mais de dois dias e havia perdido totalmente minha memória. Quando recobrei a memória, quase um ano depois e que vinha de forma lenta, eu fui procurá-lo, mas o senhor havia se mudado. Quando o Marcos contou-me a sua história, então eu soube que era a mesma pessoa”.

Terminado o relato, vi que todos tinham lágrimas nos olhos, inclusive eu. Naquele momento, lembrei-me da pequena menina, agora uma linda mulher. Eu sentia como se o tempo para mim não tivesse passado.

Depois de mais de hora de conversa, ele disse-me:

- Sabe por que estou aqui doutor?

- Bem, de acordo com o Marcos, pretende comprar umas terras!

- Nada disso, eu vim agradecer-lhe.

- Agradecer o quê?

- Por tudo que tenho hoje.

- O que eu tenho a ver com isso, você ganhou na loteria e isso dependeu de sua sorte.

- Engano seu, doutor, eu só ganhei na loteria porque o senhor me deu comida naquele dia e por isso não tive que gastar o único dinheiro que eu tinha.

- Bem, se olhar por esse lado, eu concordo, mas de qualquer forma a sorte foi sua e não minha.

- Aí é que está a trama da vida.

- Como?

- Doutor, em razão do alimento que o senhor me deu, eu joguei e ganhei na loteria, coloquei meus filhos para estudar e os dois se formaram. Minha esposa morreu anos depois, mesmo assim foi em razão do seu gesto que tudo se modificou em minha vida. Se eu tivesse gasto o dinheiro comprando comida, não ganharia e tampouco meus filhos estariam formados hoje. Não fosse isso, eu estaria talvez ainda trabalhando como peão na fazenda e quanto ao destino deles nem posso imaginar.

E complementou o raciocínio.

- Entendeu agora o que nos reserva a vida?

E antes mesmo que eu retrucasse ou tentasse falar qualquer coisa, ele continuou:

- Lembra do papel que eu disse ter pegado no chão com os números?

- Sim, parece que você disse tê-lo colocado no bolso.

- Pois é, doutor, até hoje eu tenho o papel, quer vê-lo?

- Claro, por que não?

Ele enfiou a mão na bolsa da filha que se encontrava ao seu lado e dentro desta retirou uma velha e antiga carteira e retirou de dentro desta uma figura de Santo Expedito e me entregou.

Peguei o santinho, olhei atentamente e não vi número algum. O papel já se encontrava amarelado pelo tempo, porém fora muito bem conservado, pois só havia uma dobra nele.

Ele sorriu e antes que eu falasse se adiantou:

- Pois é, depois que guardei o papel no bolso, me esqueci dele até o dia em que me lembrei de conferir o jogo. Quando fiquei sabendo que havia ganhado, procurei o papel no bolso e apenas encontrei este santinho, só que não havia nenhum número anotado nele.

- É muito estranho o caso, se não fosse o senhor quem estivesse me contado o fato, eu poderia até duvidar.

- Até hoj,e doutor, sempre eu me lembro do senhor como sendo um anjo que Deus mandou para mudar minha vida e da minha família.

- Ora, deixe disso, até agradeço o seu reconhecimento, isso demonstra ser o senhor um homem de caráter, mas eu não tenho nada de santo e tampouco anjo, sou um homem comum com todos os defeitos dos outros.

Ficamos conversando por mais de três horas e cada um falou de seus dias depois daquele encontro do destino e quando ele disse que queria me recompensar, disse-lhe:

- Meu caro, as coisas que o teatro da vida nos coloca, têm por objetivo aproximar as pessoas e até mesmo fazer com que elas consigam aparar as arestas e acabar com as rixas e as inimizades que acumulamos durante nossas outras vidas. O que aconteceu com o senhor, fazia parte de um plano estratégico, criado para ser vivenciado por todos nós até chegarmos a este momento. Quanto ao futuro, ainda não sei o que ele nos reserva, mas sei que será para mim um grande prazer, de hoje em diante, poder chamá-lo de amigo.

- Mas, doutor, eu quero recompensá-lo pelo que fez por mim.

- Meu caro Joaquim, o senhor nada me deve e tampouco eu aceito recompensas por um ato que eu fiz, já que era de minha obrigação fazê-lo. Além do mais, tudo que aconteceu estava previsto para acontecer e eu apenas fui coadjuvante nesta história, o mérito foi seu. Se você não fosse um homem de bem, de bom caráter, poderia ter-se perdido nos caminhos da vida, em razão daquilo que lhe foi ofertado de riqueza através da loteria. Poderia ter-se perdido nos meandros da tentação e pensado apenas na satisfação pessoal. No entanto, procurou educar seus filhos e, além disso, ficou todo esse tempo guardando este seu ato de grandeza, que se chama gratidão, tentando me recompensar.

E antes que ele falasse qualquer outra coisa, complementei:

- Entende o que quero dizer e por que acho que não tem nenhuma obrigação de me recompensar?

- Sim, doutor, mas...

- Por favor, Joaquim, deixe-me apenas poder dizer que sou seu amigo.

- Está bem, mas se precisar de alguma coisa, já sabe onde poderá encontrar um amigo.

Sorrimos todos e depois de algum tempo saímos para o almoço, que ele fez questão de pagar.

28-04-08-VEM.

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 28/04/2008
Reeditado em 07/10/2010
Código do texto: T966167