Minuciosas Percepções de um Crime sem Assassino!

Eram cinco horas da tarde de sexta-feira, dia 17.

Saímos, todos, do trabalho mais cedo, como de costume. Desci as escadas que pareciam dar voltas e voltas no edifício, até que eu cheguei à saída. Neste momento, resolvi ir pela porta lateral, a fim de não perder tempo a caminho de casa.

Meus pés estavam apressados, em passos repetidos e rápidos, típico de uma pessoa nervosa, mas não. Tinha a mente livre e limpa de qualquer culpa ou arrependimento. “Foi apenas mais um dia, comum no trabalho, o mesmo seria em casa, pra se encerrar com um humilde e duradouro sono.” Pensei, até que algo me roubou a atenção.

Um grupo de pessoas em volta de alguém, ou algo cuja imagem ainda não me foi concedida. Chegaram mais e mais pessoas, com uma expressão triste e lamentosa no rosto. De repente começou a chover, com gotas finas e arrepiantes dignas de um velório, aumentando cada vez mais e mais minha curiosidade barrada pelo meu medo. Medo de que fosse alguém que eu não queira ver, que eu não desejasse ver ali. Não ali!

Com todo esse turbilhão em mente, mas sem perder a observação, dei o primeiro passo travado, sabendo que iria custar a dar o próximo. Respirei fundo aquele ar congelante, sentindo o arrepio passar por todo o corpo, e fui. “Vou ver quem está ali!”, o “algo” tinha sido descartado. Sentia o coração apertar a cada passo que dava, batendo forte como se me dissesse: “Não vá!”. Mas naquela hora era tarde. Comecei a atravessar a multidão, decidido a encadear minha curiosidade e assassinar minha dúvida.

De passo em passo, fui passando por um e por outro, até que finalmente cheguei lá e vi que... ... Não havia ninguém ali! Não havia ninguém ao meu redor!

Estou só. Sozinho naquele mesmo beco lavado pela chuva, cujo céu escurece a cada gota ao chão, e que tudo não passou de uma alucinação da minha mente, ou do meu medo.

Os meus olhos se voltam para baixo, observo em meu gélido casaco que esqueci a caneta no escritório, e em meu relógio que perdi quase uma hora ali parado, fixo no mesmo local.

Abaixo a cabeça, pego meu chapéu no chão, coloco-o na cabeça e sigo tranqüilo para casa, em um simples dia comum a todos os outros.

O Poeta da Meia Noite
Enviado por O Poeta da Meia Noite em 12/04/2008
Reeditado em 02/10/2013
Código do texto: T941979
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