A ESTRANHA MORTE DE ZECA PITOMBA ( 1 )

A ESTRANHA MORTE DE ZÉCA PITOMBA
Jorge Linhaça

Um corpo estendido no chão
Seu nome? Zeca Pitomba!
Uma caneta na sua mão
nos seus olhos uma sombra.
à sua volta, a multidão...
da sua morte se assombra.

Procuram uma explicação...
a polícia já o ronda...
- Terá sido o coração?
- perguntava a marafona...

Ninguém sabe donde veio,
nem pra onde ele ia...
usava um lenço vermelho,
e camisa de seda macia,
e pra baixo do tornozelo
uma meia soquete se via.

Como foi parar no meio
daquela viela vazia?
No ar um estranho cheiro...
o medo se pressentia.

Os olhos estão abertos,
na sua boca um sorriso,
quem pode dizer ao certo
se, mudou-se pro paraíso?
Estendido no concreto
fez de sua tumba, o piso

Era tolo ou era esperto,
tinha ou não tinha juizo?
Moscas saindo do septo,
no seu voo impreciso.

Algumas folhas espalhadas
pelo vento encanado...
as calças amarrotadas
alguns versos rabiscados
só se via isso mais nada...
Teria sido assaltado?

Sua morte inusitada,
foi vista como recado...
mas sem causa comprovada:
qual um desafio lançado

No meio duma multidão,
a polícia cavoca pistas,
recolhem tudo do chão
convocam logo legistas,
no ar a interrogação...
Seria, ele, um artista?

Houve certa comoção:
A foto saiu nas revistas
de grande circulação...
bolões corriam em listas.

Zeca Pitomba, quem era?
A pergunta sem resposta...
Seria um herói de guerra,
ou não passava dum bosta?
Caíra em uma esparrela
ou perdera alguma aposta?

Záca Pitomba, a quimera,
mistério pra quem gosta,
morrera na primavera,
ali, deitado de costas.

Nas folhas ali recolhidas,
versos comuns, de amor,
Era um poeta da vida,
ou talvez um compositor?
Enfeitaram com margaridas
o lugar onde ele expirou.

As mulheres : comovidas
Os homens : - Ligar nem vou!
Nos rabiscos, escondidas,
imagens simples de flor.

O mistério era terrível,
ninguém nada descobria,
parecia impossível
a resposta vir um dia,
e o que era mais incrível:
A investigação seguia...

Sem uma causa plausível,
a mídia ainda insistia.
Corria em todos os níveis
do luxo à periferia.

( CONTINUA)...