Doces Ilusões... - Parte I - A Fuga
Rebeca deparou-se com o espelho no caminho do corredor: estava sujo.
Pode observar suas feições nele, e não gostou do que viu: estavam mórbidas.
Delineador nos olhos negros, batom cor de vinho nos lábios secos, e um perfume qualquer no seu pescoço pálido, fez com que se sentisse um pouco melhor, mas não menos imunda.
Já era tarde, e não importa o que acontecesse, ela sabia que estava encrencada.
Cuidadosamente, pegou as chaves em cima da mesa da cozinha, pegou sua bolsa no canto do sofá, e dirigiu-se até a porta.
Sua mão tremia, e só na quinta tentativa, conseguiu encontrar a chave certa. Por uma fração de segundos, sentiu-se aliviada. Imaginou-se chegando ao seu apartamento, descalçando os sapatos, tirando a meia-calça, prendendo os cabelos, jogando as chaves e a bolsa em cima da cama, e tomando um longo e quente banho de sais. Chegou a acreditar que era real, de tão desejado que era o pensamento. Mas enganou-se.
Um ranger de móveis a fez despertar, voltar para a realidade.
Era ele. Só de pensar na palavra "ele", ou qualquer coisa que pudesse lembrá-lo, Rebeca estremecia. Tinha que fugir, o mais rápido possível.
Ao invés disso, ficou questionando-se por tamanha falta de atenção, e ela sabia, sabia que cada milésimo de segundo estava sendo contado: uma bomba prestes a explodir.
Talvez se tivesse deixado o barulho de lado, colocado a chave na fechadura e dado duas voltas, dado os cinco passos até o elevador... Talvez, se ela fosse ágil...
Sim, era ele. Impossível não reconhecer a sua voz, o seu urro irado, sua insatisfação. Antes que pudesse pensar em fugir, ele aparece no fundo do corredor. O rosto coberto de suor do homem transmitia algo que Rebeca infelizmente já sabia: Ele poderia matá-la.