QUANDO A CHUVA PASSAR 2 - A Revelação

...Rafaela adentra na sala, com as compras do supermercado em seus braços, André está sentado num canto só de cueca, olheiras enorme, barbudo, cabeludo, cheirando mal... em cima da pia os pratos se acumulam, a cama desarrumada, peças de roupa suja por toda parte...

- Você deveria me ajudar um pouco! Eu sozinha pra arrumar tudo e você só faz bagunça André!? Você vai trabalhar hoje? Você vai voltar a trabalhar algum dia? Nossa por que você não fala comigo, o que foi que eu fiz pra merecer isso?

- Gostaria de morrer... Assim tudo acabaria!!

- Deixa de besteira André! A morte nunca foi solução pra nada... Vai fugir? A gente precisa enfrentar os problemas... (organiza a casa enquanto fala).

- Lembro de quando nos casamos... Você estava linda, ah como te amei, te amei desde o primeiro momento que te vi seu sorriso para mim era como as estrelas, brilhando no infinito azul do céu... Seu olhar era como dois faróis imensos rasgando o escurão da noite... Olhos de Lua, eu te chamava assim você lembra?

- Que lindo! Já havia me esquecido...

- Gostaria que o tempo tivesse parado, naquele momento, eternizado como nessa fotografia, onde nosso amor era maior que o universo. (começa a chorar) Agora tudo está acabado, e eu jamais poderei dizer-te essas palavras com a pureza daqueles dias, porque não sou mais a mesma pessoa... Estou incompleto... Tenho um vazio aqui no peito, uma agonia na cabeça. (Rafaela se aproxima quer colocá-lo no colo e ninar) - MEU DEUS! Preciso sair daqui este ambiente me sufoca, esse ar pesado me oprime, não consigo respirar...

(um novo alvorecer, Rafaela entra em casa e ouve uma voz de mulher, coloca a bolsa em cima da mesa e vai caminha lentamente em direção à sala, Bianca segura as mãos de André)

- Você precisa deixar Rafaela, ela deixou você!

- Não consigo, eu ainda a amo!

- Por isso deve deixá-la. Por amor! Ela se foi...

- Não...

- Não volta mais...

- Tem que haver um jeito de enganar esse carrasco...

- Não existe na terra, tal poder!

- Mas estivemos juntos... como nenhum outro casal!

- Eu sei, mas acabou agora está tudo acabado!

- Não con... sigo, imaginar nossas vidas vazias, o que antes era um agora separado, de uma forma tão estúpida... tão injusta... tão VINGATIVAAAAAAAAAAAAAA ! (chora)

- Admita, ela está...

- Não diga essa palavra, por favor!

- MORTA!!!

- Rafaela leva às mãos a boca, e num instante passa um filme na sua cabeça. (Era uma noite fria de sexta, ela dormia gostoso quando de repente ouviu um barulho e acordou-se assustada, levantou foi até a porta do quarto tentou ouvir o que se passava lá embaixo, o silêncio perpetuou-se por segundos que pareceram uma eternidade, quebrado de súbito pelo disparo de uma arma de fogo, que perpassou a porta atingindo Rafaela bem na testa... mais uma vez a bala cumpre a sua sina, perdida na noite e no espaço, disparada num susto e recebida de bom grado por uma testa macia de sonhos e o um coração saudoso de amor).