A viagem sem volta

Era uma calorosa tarde de verão,

Meus pais haviam acabado de dar a noticia que iríamos a praia,

Não era nada planejado.

Nós não tínhamos muita coisa,

Eu e meus irmãos só tínhamos uma velha mochila

Que usaríamos para guardar nossas poucas roupas.

Todos estávamos muito felizes,

Pois seria a primeira viajem que faríamos com um fusquinha velho

Que meu pai havia comprado há pouco tempo.

Meu pai só conseguiu comprá-lo

Porque com muito esforço ele havia economizando um dinheirinho

De “bicos” que havia feito.

Estava tudo pronto, todos já haviam entrado no carro,

Fomos até um posto de gasolina.

A semana de “bicos” havia sido boa,

Pois meu pai tinha cinqüenta reais no bolso,

Ele pegou vinte reais e encheu o tanque com gasolina,

Que tinha que por milagre durar a ida e a volta.

Depois de encher o tanque, com trinta reais no bolso,

Meu pai voltou a dirigir, desta vez com um só destino, o litoral.

Eu e meus irmãos estávamos exprimidos no banco de trás do fusquinha,

Mas a viagem inteira não tiramos o sorriso do rosto, a fome já estava batendo forte.

Já estávamos na serra,

E de repente só ouvimos um estrondo e sofremos um grande impacto,

O fusquinha havia batido.

Todos ficamos muito assustados,

Não estávamos entendendo o que havia acontecido, saímos do carro,

Nós nos demos as mãos e quando percebemos já estávamos rezando,

Mas será que nós estávamos bem?!

Estava de repente tudo ficando nublado,

Parecia que as nuvens estavam descendo.

Quando percebemos, estávamos todos de branco,

Era assustador, pois as roupas brancas apareceram como em um passe de mágica,

Ninguém tinha mais fome.

Todos nós estávamos confusos,

Entramos dentro do carro, que parecia bem mais leve,

Já havíamos esquecido do acidente,

E continuamos a viagem, até que chegamos na praia,

Brincamos o dia todo, Tudo tinha sido muito divertido,

Foi o dia mais feliz de nossas vidas.

Já estava ficando tarde, e voltamos para o carro.

Ninguém mais se lembrava do acidente e nem das roupas brancas,

O carro estava como se não tivesse sofrido um arranhão.

Começamos a ir embora para a casa, pegamos o mesmo caminho,

Até que percebemos que o transito estava parado,

Tentamos perguntar a alguém o que havia acontecido,

Mas era como se ninguém nos enxergasse ou nos ouvisse.

Percebemos que era um acidente, e descemos do carro,

Fomos ver de perto, chegando, levamos um grande susto,

Parecia que era o nosso fusquinha, na verdade era igual,

Na hora todos nós nos lembramos do acidente

Que havíamos sofrido naquele mesmo local, ficou tudo muito confuso,

Ouvimos que havia uma família inteira lá dentro,

E que ninguém tinha sobrevivido.

De repente percebemos que estávamos com nossas roupas de novo,

Elas haviam aparecido do mesmo jeito que antes havia sumido.

Mas elas estavam ensangüentadas,

Como se tivéssemos sofrido aquele acidente.

Nós nos vimos naquele carro sem vida,

Estávamos todos mortos, foi um grande choque,

Mas tudo ficou claro, era o nosso acidente,

E logo percebemos que éramos almas perdidas no mundo,

Com vidas inacabadas.

Depois disso, não me lembro de mais nada,

Só consigo me lembrar da cena que vi,

Eu e minha família dentro do nosso fusquinha,

Todos mortos e ensangüentados, que tínhamos como o único objetivo,

Passar uma calorosa tarde de verão na praia,

Sem nem imaginar o que iria acontecer,

Que nunca mais voltaríamos para o nosso humilde lar com nossa humilde vida,

Que era simples mais era feliz.

Nunca podemos prever o que irá acontecer,

Pois a vida é o que temos de mais frágil e valioso,

Por isso, não importa como seja a sua vida, ou em que condição vive,

Valorize-a enquanto você a tem, enquanto você a possui em suas mãos,

Pois nunca se sabe quando faremos uma viagem sem volta.