A SOMBRA NAS PAREDES
A chuva fina tocava o telhado, um som constante e quase hipnótico. Dentro da casa, o homem estava sentado no sofá, assistindo televisão, quando algo o fez desviar o olhar. Uma sombra humana, caminhando pelas paredes.
Seu coração acelerou. O som de passos ecoou pela casa vazia. Ele estava sozinho, e aquilo não fazia sentido. Os pés da sombra moviam-se sem tocar o chão, seus gestos eram ágeis, como se soubesse que ele a observava.
O homem virou a cabeça para a direita, e a sombra acompanhou. Olhou para a esquerda, e ela o imitou. Um frio subiu por sua espinha. O que quer que fosse não era apenas um jogo de luz e escuridão.
A casa mais próxima ficava a cem metros dali. Correr não parecia uma opção, gritar muito menos. Um ano antes, ele havia comprado àquele imóvel. O corretor mencionara, com um tom casual, que a antiga moradora era uma senhora solteirona, de hábitos estranhos. Morreu ali, aos noventa e três anos. Poucos se aproximavam dela, e histórias sussurradas afirmavam que, em noites de lua cheia, sons indecifráveis vinham daquela casa. E aquela era uma noite de lua cheia.
A sombra se moveu velozmente para a cozinha. O homem ouviu pratos sendo arremessados, torneiras abertas jorrando água. Estava completamente paralisado. Ele pensou em se levantar, mas antes que pudesse concluir o movimento, a sombra voltou. Rápida. Furiosa.
Ele voltou a se sentar. A sombra pairou por alguns minutos, encarando-o, e então retornou à cozinha. O barulho da geladeira sendo aberta e objetos caindo no chão ecoaram pela casa silenciosa. O medo pulsava nele. Sua respiração estava entrecortada e audível, quase um soluço.
O som de gavetas sendo abertas, de talheres tilintando, fez seu coração se apertar. Quando a risada feminina soou, gutural, macabra, ele sentiu um arrepio gélido tomar conta de seu corpo. Lentamente, a sombra retornou para a sala, agora segurando um objeto pontiagudo. Seus olhos arregalados refletiam a figura distorcida que caminhava pelas paredes.
A chuva aumentou de intensidade, tocando mais forte no telhado. Um trovão retumbou no céu, seguido por um clarão. A luz se apagou.
A escuridão foi absoluta.
O homem ficou imóvel, as mãos cravadas no peito, esperando o inevitável. O silêncio tomou conta da casa.
Vinte minutos depois, a energia voltou.
A sombra desaparecera. Mas nas paredes da sala, manchas vermelhas estavam espalhadas.
E a casa nunca mais foi a mesma, para aquele homem.