Quarto 347 - assassinato no hotel
Eram 5 da manhã quando o telefone tocou. O toque estridente cortou o silêncio do apartamento de Camille, fazendo seu coração disparar. Atendeu com a voz carregada de sono e apreensão. Do outro lado da linha, a notícia que já temia.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, segurando o celular com força. Pensou diversas vezes se essa realmente era a única alternativa. Mas não tinha jeito. Essa era a saída.
Respirou fundo, meticulosamente calculou cada detalhe e marcou o encontro. Fez a reserva no Copacabana Palace, o hotel cinco estrelas da cidade.
Camille era conhecida por sua beleza hipnotizante. Seus cabelos longos e castanhos emolduravam um rosto de feições delicadas, enquanto seus olhos penetrantes escondiam segredos. Seu sorriso sedutor era a arma que sempre funcionava.
Pegou o telefone e discou.
— Renato, podemos nos encontrar hoje? Não aceito não como resposta. Já reservei aquele hotel onde nos hospedamos no mês passado. Esteja lá às 20h.
Do outro lado da linha, Renato demorou a responder. Por fim, soltou um riso baixo.
— Tudo bem, sua gostosa, dessa vez vamos…
A ligação foi encerrada antes que ele terminasse a frase. Ele ficou ansioso. A lembrança do último encontro ainda queimava em sua mente. Mal podia esperar para reviver aqueles momentos.
Camille chegou no horário marcado. Já passava das 21h quando ela ouviu uma voz grave atrás de si.
— Desculpe o atraso, fiquei preso no trabalho com uma cliente.
Ela se virou lentamente, cruzando os braços, um sorriso desenhado nos lábios vermelhos.
— Que bom que veio, Renato. Já estava achando que ficaria sozinha esta noite.
— Claro que eu viria. Não poderia recusar um convite tão… tentador.
Ela riu. Mas havia algo frio no seu olhar.
Foram para o quarto 347. O som suave da melodia que vinha do bar do hotel foi desaparecendo à medida que a porta se fechava atrás deles.
Renato estava ansioso. Ela sabia disso. O desejo estava estampado no seu rosto.
— Você sabe por que estamos aqui? — a voz dela saiu como um sussurro.
Camille se aproximou devagar, seu vestido vermelho e justo revelava apenas o suficiente para provocar. Deslizou as mãos sobre o peito dele, desabotoando sua camisa.
— Claro que sei, sua gostosa! Hoje você será toda minha.
Ela o puxou para um beijo intenso. Renato ardia de desejo. Seu coração acelerado, suas mãos a percorriam com pressa. Ele queria mais, mais e mais.
Mas o que viria a seguir não seria uma noite romântica repleta de fantasias.
Enquanto o beijo se intensificava, a mão direita de Camille deslizou para dentro da bolsa. Seus dedos encontraram a adaga fria.
Foi rápido. O corpo de Renato enrijeceu ao sentir a lâmina perfurar entre as costelas. Seus olhos se arregalaram, a respiração ficou presa na garganta. Tentou falar, mas tudo o que saiu foi um gorgolejo sufocado. O sangue quente escorreu pelos lábios.
Cinco punhaladas. Rápidas. Precisas.
Camille o segurou com delicadeza, guiando-o para a cama. Seus olhos estavam vidrados, vendo a vida escapar num sussurro.
— Eu sinto muito… — murmurou ela. — Mas ninguém me engana duas vezes.
O som de passos no corredor fez seu coração acelerar. Depressa, limpou a adaga no lenço de seda e a guardou. Caminhou até o espelho, pegou o batom vermelho e retocou os lábios. O seu reflexo mostrava uma expressão de medo… e satisfação.
Cinco minutos depois, uma batida suave ecoou na porta.
Camille abriu devagar. Do outro lado, um homem de terno escuro a observava com um olhar avaliador.
— Você demorou — disse ela.
— Saiu como combinamos?
Ela deu um meio sorriso.
— Foi melhor do que imaginamos.
Fechou a porta atrás de si sem sequer olhar para trás, deixando apenas o cheiro do seu perfume amadeirado… e um corpo que jamais contaria qualquer história.
No Dia Seguinte, as manchetes dos jornais da cidade não falavam de outra coisa:
“Mistério no quarto 347: empresário é assassinado em hotel de luxo.”
“Investigação em andamento para desvendar o assassinato de um empresário no quarto 347 do Copacabana Palace.”
“Empresário assassinado em um hotel cinco estrelas deixa esposa e dois filhos.”
Camille leu as notícias enquanto tomava um café. Um sorriso discreto surgiu no canto de seus lábios. Pegou o batom e retocou mais uma vez.
O jogo estava apenas começando.