O Chamado do Poço: Parte II

O Chamado do Poço

Parte II

Cardoso I.

Desde que Haru desapareceu no poço, a vila de Yamagata nunca mais foi a mesma. Noites tornaram-se mais silenciosas, como se o próprio vento temesse sussurrar. As lanternas das casas tremulavam sem motivo, e os aldeões começaram a ver sombras onde não deveriam existir.

A família de Haru deixou oferendas no antigo poço, rezando para que sua alma encontrasse paz. Mas, em vez de sossego, a escuridão pareceu se aprofundar. O fundo do poço não era mais visível — mesmo sob a luz do dia, parecia um buraco sem fim. Os mais velhos da vila diziam que algo despertara ali.

Então, uma noite, uma criança ouviu um sussurro vindo do poço. Chamava seu nome. Com passos hesitantes, ela se aproximou e viu um reflexo na água parada. Não era o dela. Era o de Haru.

Mas Haru estava de costas.

A criança gritou, e a vila acordou com o eco de seu pavor. No entanto, quando chegaram ao poço, a criança estava parada, imóvel, encarando o vazio. Seu rosto pálido, os olhos arregalados. Ela apontou para baixo e, com uma voz rouca e tremida, sussurrou:

— Ele quer que alguém desça.

A pergunta que ninguém ousava fazer pairava no ar: quem queria que a garota entrasse no poço? Seria haru ou algo macabro?

O pavor tomara conta de todos novamente.

A garotinha, após alguns segundos, virou-se para a multidão e, com um olhar vazio, falou friamente:

- Em breve todos vocês estarão lá em baixo também!

E saltou para dentro do poço, de onde sumiu na escuridão sem fim.

No eco do pulo, podia-se ouvir subir para cima, um nome.

- Julia.... Julia juntou-se a nós!