PESADELOS APÓS UM AVC
Os pesadelos que assolavam Scaramouche eram fragmentos sombrios de sua própria história e de medos que ele raramente admitia. Muitas vezes, ele se via preso em situações de vulnerabilidade, revivendo o momento em que acordou aos 68 anos, acometido por AVC, quando dormia, sem controle sobre seu próprio corpo, e com a incerteza esmagadora de um futuro incerto, ficou um ano falando com dificuldades, apesar de ter fisicamente recuperado em quinze dias, tendo voltado aos esportes aos 70 anos. Em outras ocasiões, as cenas eram mais abstratas, acordava aos gritos para ser acordado, as vezes sentia falta de ar e algumas vezes lutava contra o pesadelo.
Esses sonhos eram uma batalha psicológica que ele travava consigo mesmo. Scaramouche os enfrentava como enfrentava os desafios da vida: com resiliência. Nos momentos de maior intensidade, sua esposa o despertava trazendo-o de volta à segurança do presente.
Com o passar dos anos, Scaramouche aprendeu a lidar melhor com esses demônios noturnos. Ele adotou rotinas de meditação antes de dormir e desenvolveu técnicas para acalmar sua mente, como escrever sobre seus pesadelos.
Aos 81 anos, os pesadelos, embora ainda presentes, haviam perdido a capacidade de aterrorizá-lo como antes. Ele via neles um eco distante de suas lutas e uma lembrança de que, mesmo nos momentos mais escuros, ele tinha a força para resistir. Hoje continua andando de bicicleta, faz corrida de rua e nunca abandonou seu maior lazer que é o andar de moto... há 60 anos. A vida continua.
Neri Satter – Novembro de 2024. CONTOS DO SCARAMOUCHE