1205 - O CONVITE
o CONVITE
MINI – NOVELA EM CAPITULOS “PERDIDOS NA DIMENSÃO Z” CAP. 5 -
Capitulo 1 – Tempestade de Areia
Capitulo 2 – Assassinatos
Capitulo 3 – Crimes em noite de tormenta
Capitulo 4 – Fugindo do inferno
Capitulo 5 - Convite
A história daquela noite, relatada por mim e pelo Ivã com detalhes aos amigos e muitos curiosos, nos valeu muitas gozações e a pecha de maiores mentirosos da cidade.
Ficamos chateados, é claro. Muito chateados mesmo, pois, além de perdermos as bicicletas dos dois colegas de trabalho, e tivemos que entrar numa acordo para indenizá-los.
Quando sentimos que as pessoas da pequena Arroio Raso estavam nos considerando grandes mentirosos, paramos de falar ou comentar os acontecimentos daquela terrível tarde, noite e madrugada.
Mas os comentários eram persistentes, e os boatos espalharam-se rapidamente, chegando até onde eu jamais poderia imaginar, provocando outros acontecimentos tão ou mais assustadores como os daquela terrível noite de terror.
Mais de um mês se passara desde aquela terrível noite quando presenciamos fatos do passado e a destruição da velha casa abandona distante apenas alguns quilômetros da margem da Lagoa dos Patos. A boataria corria pela cidade e já éramos tratados como mentirosos e querer causar sensação com nossa “aventura”.
Preocupava-me a possibilidade de que o gerente da agencia bancária onde trabalhávamos, pudesse impor algum tipo de sanção por nos considerar simples mentirosos e causadores , que podia denegrir a imagem dos funcionários e até do banco,
Certa tarde, em pleno expediente ao público, fui procurado por Zenilda, uma garota com quem já havia trocad o olhares e até alguns cumprimentos. Era alta, elegante, morena de longos cabelos pretos, bonita por demais. Desembaraçada, ela mesma, há cerca de um mês, havia provocado um encontro á saída do colégio onde estudava, quando eu me dirigia ao banco para iniciar o trabalho da tarde. Não deu em nada, pois logo “estourou” nossa história e fiquei desacreditado.
Zenilda me procurou na agencia do banco, e quando a atendi no balcão, disse muito séria:
— Oi, Antonio. Preciso falar com você.
Tremi nas bases, logo imaginando ter feito algo de errado com ela.
— Pode falar.
— Aqui não dá. Pode sair um pouquinho?
— Claro.
Dei a volta pelo fundo do salão de atendimento ao publico, sai pela entrada dos funcionários e logo já estava na porta da agenca, onde ela me esperava.
Por educação e também para sentir o contato gostoso de sua mão, apertei-a entre as minhas, abri um sorriso dizendo:
— Que bom estar conversando com você e...
— Estou aqui porque meu pai me pediu para te fazer um convite. Pra ti e para o Ivã. — Meu pai .....
— Seu pai,,, ?
— Sim, sou filha de Don Leoncio. Ele...
— Xííííí´- estou encrencado, pensando no ligeiro encontro que tivera comZenilda ´algum tempo. — ......Estou ferrado!
Procurei levar a coisa na brincadeira, mas Zenilda podou o gracejo:
— É sério, Antonio. Ele esta convidando vocês dois para um churrasco na estância. Domingo que vem. Ele manda buscar vocês. Vão de carro.
Não gostei do tom seco e um tanto formal na sua fala. Não me deu tempo de dar uma resposta, disse “boa tarde”
Até que, questão de uma semana depois, fomos convidados por um grande proprietário de terras e de gado em Arroio Raso, para um churrasco em sua fazenda. Chamava-se Leoncio Aguirre. Tanto eu como Ivã não tínhamos muito conhecimento das pessoas mais idosas da cidade, pois estávamos residindo em Arroio Raso há pouco tempo.
Perguntei ao colega Saldanha, grande conhecedor de todo mundo no lugar
— Leoncio Aguirre? É o maior fazendeiro do município. Gosta de ser chamado de Leon. Boa conversa, mas tem umas manias engraçadas. Gosta de ler e acha que um dia o homem irá a Lua, que gente e gado que desaparece passa vivo pra outros mundos, umas coisas esgtranhas. Or essa coisas, não se dá muito bem com o Padre Belchior, mas sua mulher é muito religiosa...
Lá fomos, sem saber qual a razão do convite.
Familia grande, estavam lá todos os membros da clã: seu Leoncio, Dona Izabel, cinco filhos e suas mulheres, mais uma quantidade inumerável de netos.
O dono da casa era um senhor de estatura mediana, rosto comprido onde um grande bigode escondia a boca; olhos escuros e tez morena, como acontece com pessoas que vivem ao ar livre. Era idoso, pois os cabelos brancos e a barba grisalha indicava idade avançada.
Dona Izabel era alta, talvez fosse mais alta que o marido, rosto moreno e cabelos longos, muito pretos. Teria quantos anos? Cinquenta, cinquenta e cinco? Voz sonora e e modo de falar autoritário, me deu a impressão de que era ela quem dirigia a família.
Fiquei tão fascinado com o casal que pouca importância dei aos demais da família. impressionado com o cal
Comida excelente: carne de primeira, assada á moda gaúcha, uma galinhada e diversos outros pratos, regados a um bom vinho. Como sobremesa, delicioso doce chamado ambrosia que realmente fazia jús ao nome: um néctar digno dos deuses.
Assunto não faltou: fizeram-nos relatar mais de uma vez nossa “aventura” naquela noite, e ninguém debochou nem mesmo manifestou o mais leve descrédito.
Assentados, após o churrasco, no alpendre da casa, foi-nos oferecido, a mim e ao Ivã, delicioso café, enquanto a maioria dos adultos tomavam chimarrão, que diziam ser digestivo.
— Bem, seus moços, nós ouvimos a história de vocês, e como sou um dos mais velhos habitantes daqui - da cidade e da região - devo dizer que, ao contrário da maioria das pessoas, acredito nela. Por isso, convidei vocês dois para contar-lhes outra história.
Parou de falar e puxou um gole do chimarrão, que lhe passaram ás mãos. Senti um clima de suspense.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Lagoa Santa-MG, 10 de julho de 2024,
Conto # 1205 da Série Infinitas Histórias