1202-UMA VELHA CASA ABANDONADA

UMA VELHA CASA ABANDONADA

CAPITULO 2

DA MINI-SÉRIE

PERDIDOS NA DIMENSÃO Z

Tão cansados estávamos que cochilamos alí, apesar do barulho. Cochilamos ou dormimos de verdade, pois acordei dentro de uma escuridão total, quando Ivã me chamou.

— Cara, acorda. Já tá de noite. .

Abri os olhos. A escuridão era total. A intensidade da tempestade diminuíra. O vento ainda soprava e gemia , mas não havia mais areia no ar.

— Hã?

— Vamos ver se tem gente ai dentro. Faz algum tempo que acordei, e não ouvi barulho nenhum. Nem luz pelas frestas das tábuas das paredes.

Levantei-me. Olhei para meu relógio de pulso de números luminosos: eram onze horas. Ivã acendeu um isqueiro e bateu forte na porta.

Silêncio. Bateu ainda mais uma e duas vezes. Nada de resposta.

— Tá abandonada. O pessoal vem aqui só no tempo do plantio ou colheita do arroz. — Arrisquei o palpite.

— Vamos ver. - Ivã disse, ao mesmo tempo que empurrava a porta. Parecia que estava trancada, mas não. Apenas emperrada por falta de uso, e cedeu ao nosso esforço. Poeira caiu da parte superior do portal.

— Tem gente aí?

— Ô de casa !

Nenhuma resposta. A luz do isqueiro iluminou uma sala com uma mesa e quadro cadeiras, arranjadas corretamente ao seu redor.

Chão empoeirado e com detritos de morcegos. Um portas aberta dava acesso á cozinha, onde um fogão de lenha sujíssimo, com alguns galhos secos ao redor. Uma bancada com pia e torneira, uma mesa e armário. Teto sem forro, que dava um aspecto fantasmagórico ao ambiente.

— Está tudo abandonado faz muito tempo.

— Vamos ver o quarto.

Volamos à sala, e abrimos a porta do único quarto de dormir. Duas camas de solteiro, nuas, sem colchão, e um armário ao canto. Vazio. Poeira e fezes de morcego por todo o chão, sobre as tabuas das camas, e armário.

— Cruzes. Tá sem gente faz tempo. — Falei após observar tudo à luz do isqueiro .

— A sujeira é tanta que o melhor lugar prá gente ficar é no alpendre. Apesar do frio. — Sugeriu Ivã.

Voltamos ao alpendre e nos deitamos sobre o fino colchão de areia recém trazida pelo vendaval.

Minha barriga roncava de fome. Antes de cair no sono, começo a pensar na vida, como dizemos lá em Minas.

Quem diria? Eu, sossegado lá em Belo Horizonte, ter de vir trabalhar neste fim de mundo. E o Ivâ, nordestino de Fortaleza, veio estudar em Porto Alegre, a morar com seu irmão, contraiu pneumonia devido á diferença do clima e foi para Arroio Raso, onde o clima poderia lhe ser mais propício. E nós dois alí, desgraçadamente perdidos, famintos, sedentos, cansados sem saber como sair daquela situação.

Devo ter caído no sono novamente, e de novo fui acordado por Ivã:

— Acorda, Toni.

— Hã? Que foi .

—Tem gente ai dentro. Tô ouvindo barulho.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Lagoa Santa-MG, 10 de julho de 2024,

Conto # 1202 da Série Infinitas Histórias

Cap. 2 de “Perdidos na dimensão Z”–

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 31/10/2024
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