1201-TEMPESTADE DE AREIA

TEMPESTADE DE AREIA

Capitulo 1 da série

Perdidos na Dimensão Z

Tarde suave, sol ameno e o pampa verdejante estendendo-se até o horizonte infinito. Domingo radiante, convidando a pedalar pelas estradas plainas e por trilhas desconhecidas.

Ivã e eu, voltando de um passeio de bicicleta pela zona rural de Arroio Raso à tardinha, fomos atingidos, sem aviso nem previsão, por um vendaval de areia. Acertados em cheio e repentinamente, sem visibilidade, descemos das magrelas e fomos andando a pé, com as bicicletas ao lado, numa dificuldade tremenda.

Cegos, ensurdecidos pelo uivar do vendaval, perdemos a trilha, no nosso caminho de volta. Cabeças baixas, mal protegidas pelos bonés, ficamos sem orientação, tropeçando nas moitas de capim baixo.

Erramos por uma pastaria e entramos por um campo de lavoura de arroz, o que dificultou mais ainda a labuta. Andamos talvez um quilmetro ou mais pela extensão ressecada, pois a colheita do arroz já feita há meses, deixara apenas a soca, as moitas cortadas a vinte centímetros do chão, um terror para se caminhar ás cegas.

^ Não enxergávamos mais que meio metro á frente. De repente, a sombra escura de uma edificação surgiu fantasmagórica, nas cores cinzentas e tristes do entardecer.

— OPA! - Exclamou Ivã. — Para aí, Toni, Tô vendo uma coisa aí na frente.

— Vamos devagar. Cuidado. Parece uma casa.

Eu temia que fosse qualquer coisa, menos uma casa na qual pudéssemos pedir abrigo.

Ao contrario, então foi que apuramos o passo. E logo chegamos ao lado de uma parede de madeira, de uma casa ou galpão.A estrutura se apoiava em pilares de tijolos a coisa de um metro do chão.

— É uma casa!

— Vamos dar a volta, encontrar a frente dela.

Viramos no primeiro canto e demos com a frente da casa: uma modesta casa de madeira construída sobre pilares para enfrentar as cheias da lagoa, que aconteciam sempre que do sul soprava o Minuano.

Quatro ou cinco degraus levavam a um pequeno alpendre. Deixamos as bicicletas no chão e depressa subimos para o abrigo oferecido. Uma porta e uma janela estavam fechados, o que era natural, com aquele temporal. Nada de bancos ou cadeiras. Deitamo-nos, exaustos que estávamos, no assoalho, já coberto por uma fina camada de areia.

Ficamos ali, deitados, por uns bons minutos. Nenhum sinal de vida dentro da casa. O vento agora ia de encontro ás quinas das paredes e do telhado, e zunia com força.

As paredes de madeira estavam enegrecidas, algumas ripas em torno da porta e da janela estavam soltas e dependuradas. Frestas entre as tábuas, velhas e ressecadas. A parte do telhado que eu podia ver mostrava telhas afastadas, e até faltava uma, talvez levada pelo vento. Felizmente não havia goteiras sobre o pequeno alpendre.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Lagoa Santa-MG, 10 de julho de 2024,

Conto # 1201 da Série Infinitas Histórias

Cap. 1 de “Perdidos na Dimensão Z”–

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 30/10/2024
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