Viajem além do ponto
O ar-condicionado está quente, e essa viagem parece não ter fim. Ramalho sussurra naquele velho ônibus interestadual.
— Moço, o senhor vai descer onde?
— Ah, minha senhora, do jeito que esse ônibus anda, parece que vou chegar só no ano que vem.
— Mas, senhor, para onde está indo?
— Pergunta Carol, agoniada no banco ao lado de Ramalho.
— Ah, sim, minha cidade está bem pertinho, senhorita.
— Vamos ter 15 minutos para fazer um lanche e beber água — exclama o motorista do velho ônibus.
— O senhor não vai descer para relaxar um pouco?
— Ah, vou sim. Estou com muita sede.
— Eu vou adiantar, senhor!
— Pode ir, minha filha, mas daqui a pouco consigo sair desse carro onde ainda estou preso. Já faz mais de 100 anos nesse sobe e desce de gente.