- O BERÇO VAZIO - IOLANDINHA PINHEIRO
Hoje quem passa por Campanário mal se dá conta de que ainda existem pessoas morando lá. Não se vê movimento nas ruas, calçadas, ou na praça da igreja matriz.
Nem sempre foi assim, aquele pedaço de terra com montanhas e riachos, já havia tido o seu tempo de glória, quando o dinheiro corria fácil e a gente da cidade vivia sem maiores percalços.
As coisas saíram do rumo quando proibiram a fabricação do amianto, o principal produto comercializado pelas empresas do lugar.
Camila, casada há quatro anos com um jovem fabricante, vivia um romance de revista até o dia em que descobriu a própria esterilidade. A despeito do veredicto médico, ia sempre à capital fazer tratamentos para engravidar. Voltava triste, apelava para tudo, aceitava qualquer mandinga que lhe ensinassem, sem sucesso.
As coisas pioraram quando o infortúnio se abateu sobre a sua casa. Falido, o outrora abastado marido de Camila se matou. Dias depois a justiça mandou fechar as fábricas e guardar tudo que havia lá em um depósito, como garantia do pagamento das dívidas. O antigo patrimônio dos moradores se havia transformado em um refúgio para os pássaros e gatos sem lar.
Em um primeiro momento, os que ainda se mantinham de pé, acolheram a jovem viúva, mas, com o tempo, Camila começou a agir estranhamente e foi sendo deixada de lado pela população que já tinha seus próprios problemas
Sozinha e desemparada, Camila passou a viver de sonhos e ilusões. A ruína familiar e a obsessão pela maternidade fizeram-na perder o juízo.
Colocava um travesseiro amarrado na cintura sob roupas largas e saía pelas ruas cumprimentando as pessoas.
Um dia pegou um boneco com feições e corpo de bebê, e o meteu no carrinho que havia comprado para o seu desejado filho. Nesta tarde foi encontrar com as amigas que tinham filhos pequenos na praça da matriz. Meio desgrenhada, um tanto faminta, mas orgulhosa ao mostrar a todos o seu bebê de plástico.
Uma vizinha, penalizada com a situação, ia à casa da viúva levando comida, e a fazia tomar banho. Camila ficou mais apresentável, mas nada a demovia da vontade de ir à praça levando o seu filho artificial.
Ela se sentava perto das outras mulheres e ouvia suas conversas sobre os filhos: quem já havia parado de mamar, ou começado a dar os primeiros passos e notava que seu “filho” não fazia nada daquilo.
Em casa, Camila chacoalhava o brinquedo para que chorasse, falava com ele, mas o boneco permanecia em sua imobilidade perpétua.
Certa vez perguntou a uma das mulheres porque o seu filho não fazia as mesmas coisas das demais crianças, e a mulher respondeu que quando um bebê não se movia, era porque estava morto.
Camila foi para casa com o coração partido, apertando o brinquedo contra o peito e chorando. Por alguns dias, ficou deitada em sua cama, e nem a visita de sua benfeitora conseguia lhe animar.
Percebendo a sua recorrente ausência, as mulheres da praça foram até a sua casa. Ficaram ao seu lado e falaram que quando um bebê morre é necessário enterrar.
Então improvisaram um enterro no jardim da casa, colocaram o boneco na maior caixa que encontraram, e cobriram tudo com a terra que abrigava as rosas.
Uma semana depois, Camila parecia ter se curado. Andava limpa, vestida adequadamente e sorria. Para se ocupar, brincava com os filhos de suas amigas.
Tudo permaneceu bem por um tempo. Camila parou de ter atitudes estranhas, e conversava sobre coisas corriqueiras como se tivesse voltado ao normal.
Quando o bebê de D. Lucinha desapareceu, ninguém desconfiou dela.
Depois de procurar por toda parte, finalmente foram procurar em sua casa. Não havia nada lá. Olharam por todo lado. No quarto do bebê apenas um berço vazio de filhos ou esperanças.
No jardim, sem que ninguém desconfiasse, uma nova caixa abrigava um bebê de verdade que havia parado de se mexer.
Outros bebês desapareceram e as pessoas de Campanário começaram a abandonar a cidade acreditando que ali havia uma maldição.
Sem ter a quem culpar, acabaram acreditando no sobrenatural, e pouca gente continuou morando lá, nenhuma família que decidiu ficar tinha filhos pequenos.
De Camila, ninguém mais soube nada.
Nem sempre foi assim, aquele pedaço de terra com montanhas e riachos, já havia tido o seu tempo de glória, quando o dinheiro corria fácil e a gente da cidade vivia sem maiores percalços.
As coisas saíram do rumo quando proibiram a fabricação do amianto, o principal produto comercializado pelas empresas do lugar.
Camila, casada há quatro anos com um jovem fabricante, vivia um romance de revista até o dia em que descobriu a própria esterilidade. A despeito do veredicto médico, ia sempre à capital fazer tratamentos para engravidar. Voltava triste, apelava para tudo, aceitava qualquer mandinga que lhe ensinassem, sem sucesso.
As coisas pioraram quando o infortúnio se abateu sobre a sua casa. Falido, o outrora abastado marido de Camila se matou. Dias depois a justiça mandou fechar as fábricas e guardar tudo que havia lá em um depósito, como garantia do pagamento das dívidas. O antigo patrimônio dos moradores se havia transformado em um refúgio para os pássaros e gatos sem lar.
Em um primeiro momento, os que ainda se mantinham de pé, acolheram a jovem viúva, mas, com o tempo, Camila começou a agir estranhamente e foi sendo deixada de lado pela população que já tinha seus próprios problemas
Sozinha e desemparada, Camila passou a viver de sonhos e ilusões. A ruína familiar e a obsessão pela maternidade fizeram-na perder o juízo.
Colocava um travesseiro amarrado na cintura sob roupas largas e saía pelas ruas cumprimentando as pessoas.
Um dia pegou um boneco com feições e corpo de bebê, e o meteu no carrinho que havia comprado para o seu desejado filho. Nesta tarde foi encontrar com as amigas que tinham filhos pequenos na praça da matriz. Meio desgrenhada, um tanto faminta, mas orgulhosa ao mostrar a todos o seu bebê de plástico.
Uma vizinha, penalizada com a situação, ia à casa da viúva levando comida, e a fazia tomar banho. Camila ficou mais apresentável, mas nada a demovia da vontade de ir à praça levando o seu filho artificial.
Ela se sentava perto das outras mulheres e ouvia suas conversas sobre os filhos: quem já havia parado de mamar, ou começado a dar os primeiros passos e notava que seu “filho” não fazia nada daquilo.
Em casa, Camila chacoalhava o brinquedo para que chorasse, falava com ele, mas o boneco permanecia em sua imobilidade perpétua.
Certa vez perguntou a uma das mulheres porque o seu filho não fazia as mesmas coisas das demais crianças, e a mulher respondeu que quando um bebê não se movia, era porque estava morto.
Camila foi para casa com o coração partido, apertando o brinquedo contra o peito e chorando. Por alguns dias, ficou deitada em sua cama, e nem a visita de sua benfeitora conseguia lhe animar.
Percebendo a sua recorrente ausência, as mulheres da praça foram até a sua casa. Ficaram ao seu lado e falaram que quando um bebê morre é necessário enterrar.
Então improvisaram um enterro no jardim da casa, colocaram o boneco na maior caixa que encontraram, e cobriram tudo com a terra que abrigava as rosas.
Uma semana depois, Camila parecia ter se curado. Andava limpa, vestida adequadamente e sorria. Para se ocupar, brincava com os filhos de suas amigas.
Tudo permaneceu bem por um tempo. Camila parou de ter atitudes estranhas, e conversava sobre coisas corriqueiras como se tivesse voltado ao normal.
Quando o bebê de D. Lucinha desapareceu, ninguém desconfiou dela.
Depois de procurar por toda parte, finalmente foram procurar em sua casa. Não havia nada lá. Olharam por todo lado. No quarto do bebê apenas um berço vazio de filhos ou esperanças.
No jardim, sem que ninguém desconfiasse, uma nova caixa abrigava um bebê de verdade que havia parado de se mexer.
Outros bebês desapareceram e as pessoas de Campanário começaram a abandonar a cidade acreditando que ali havia uma maldição.
Sem ter a quem culpar, acabaram acreditando no sobrenatural, e pouca gente continuou morando lá, nenhuma família que decidiu ficar tinha filhos pequenos.
De Camila, ninguém mais soube nada.