SONHEI QUE ERA UM VAMPIRO (Republicação)
Juvino acordou se sentindo estranho, apesar da manhã estar bonita ele teve a impressão de que aquele dia não seria agradável, como se algo de ruim fosse acontecer. Pegou o relógio de pulso que se encontrava na cabeceira da cama para conferir a hora, estranhamente era meia noite, até pensou que estivesse o mesmo parado, mas nesse momento viu o dia se transformar em noite, viu até o clarão da lua lá fora através da vidraça da janela. Ainda sentado na beira da cama olhou instintivamente para um espelho que se encontrava alí no quarto, sua imagem nele refletida não era a de quem havia acabado de acordar e sim de um cavalheiro, vestia um terno preto e tinha na cabeça um chapéu tipo cartola. Assustado levantou-se rapidamente para verificar a roupa que vestia, realmente era aquela que o espelho mostrava. Gostou, mesmo estando ainda assustado com essa cena.
Olhou a cama vazia, estava um pouco desarrumada, mas não se preocupou, o importante era ele estar se sentindo um perfeito cavalheiro, alguém que nunca imaginara ser. Repentinamente sentiu uma enorme vontade de sair, sendo tarde da noite não seria problema, pois tinha outra secreta vontade, queria encontrar alguém, de preferência uma mulher, saindo em seguida para um passeio noturno pelas ruas da cidade.
A lua brilhava no céu sem nuvens, a noite estava encantadora, Juvino sentiu um enorme desejo de beijar um pescoço feminino, cheiroso a perfume da melhor qualidade, teve um ímpeto traiçoeiro de abocanhá-lo mesmo não dispondo alí de um corpo com esses requisitos, mas se dispôs a esperar, talvez surgisse uma bela mulher para se tornar sua presa. E foi nesse exato momento que uma figura assim desejada apontou no começo da rua, a luz do poste clareou seu rosto juvenil, Juvino sorriu satisfeito, realizaria agora o seu estranho desejo. A moça caminhou tranquilamente em sua direção, parecia que ia diretamente para seus braços, melhor dizendo, para suas garras. Atrás de uma pequena árvore aguardou o momento oportuno para o ataque, estava decidido, nada poderia atrapalhar a sua abordagem nessa noite de lua cheia. Notou ele que salivas escorriam de sua boca sedenta, até arrepiou-se com isso, jamais se sentira assim nessa situação, era um perfeito vampiro... êpa! Vampiro? Não era exatamente isso que queria, nunca desejou fazer mal a quem quer que fosse, apesar de nessa noite enluarada estranhamente ser acometido dessa vontade louca, queria a sua frente um belo pescoço de mulher, sentir o seu cheiro, beijá-lo e depois... ah! Era um desejo irresistível e ele não conseguia se controlar.
Enfim a mulher estava alí diante dele, era bonita, vestia um elegante vestido, mas possuía um véu que cobria o seu rosto nesse momento, Juvino não via a hora de iniciar seu ataque e agarrar aquele corpo indefeso. E assim o fez, se viu grudado àquele corpo feminino, um prazer enorme invadiu sua mente doentia, a jovem mulher apenas tentou desvencilhar-se dele devido a surpresa, mas acabou por aceitar o seu abraço. Ele fez exatamente o que seu cérebro determinava, agarrou-a por trás, sentiu o suave perfume que a envolvia, particularmente o pescoço, beijando-o carinhosamente. A mulher não resistiu e isso não lhe agradou completamente, ele queria que ela gritasse, que tentasse escapar, isso seria mais prazeiroso para ele, queria ver a sua reação quando mordesse aquele pescoço e o sangue começasse a fluir diretamente para sua garganta, já sentia até o gosto do saboroso líquido vermelho que satisfaria o seu primeiro desejo desde que se entendia como gente. Pensou em desistir dessa investida criminosa, teve vontade de deixar aquela pobre mulher ir embora em paz, mas o seu desejo era bem maior, ele queria sangue, bebê-lo, sugá-lo daquele pescoço lindo, já ia cravar os dentes nele quando viu uma tatuagem que ele bem conhecia, uma tatuagem de uma borboleta colorida. Juvino conhecia por demais essa tatuagem, o perfume também lhe fôra familiar, momentaneamente teve um ato de reflexão e pegou o véu que encobria o rosto dela, levantou-o e teve uma crise de choro. Alí estava sua namorada, Sônia, aquela que muitas vezes dormia em seu quarto de pensão quando ele se sentia solitário e ela dispunha de oportunidade para tal, pois morava com a mãe já idosa e dificilmente a deixava só, salvo quando recomendava uma amiga para fazer as suas vezes e ir ao encontro de Juvino, com quem pretendia casar-se o mais breve possível.
Juvino deu um pulo da cama, suava tal qual uma chaleira no fogo, sentado na beira da cama daquele quarto de pensão pegou o relógio para verificar a hora, o mesmo encontrava-se na cabeceira, era quase seis da manhã, olhou-se no espelho que tinha alí próximo e se viu num surrado pijama e barba por fazer. Agradeceu a Deus e pensou em Sônia, logo mais ia ter com ela, pois era um dia de sábado e pretendiam sair para algum lugar.
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Publicado em 16/02/2019
Reeditado em 03/10/2024