Um dia medonho
Inda me lembro como hoje aquele dia e precisamente a data: primeiro de junho do ano de dois mil e sete. Poderia ter sido uma manhã como todas as outras, mas logo percebi que não seria. Era a primeira manhã daquele mês e estava próximo o inverno.
Acordei uma hora mais cedo, era cinco ao invés de seis e logo ao acordar senti algo diferente, tipo de um mal presságio, mas eu não poderia fugir, tinha que encarar a labuta e tudo que aquele dia viesse a oferecer, ainda que sob um certo suspense.
Abracei fortemente a esposa ( justa companheira ) a beijei não como de costume, agora era nada rotineiro. Meu filho dormia um bom sono e, e eu não queria acorda_ lo, beijei - o de leve. Minha filha tomava banho para ir à escola, apenas me despedi à distância, mal deu para ouvi- la responder.
O peito, como num sufoco, ardia inesplica-
velmente e, sob calafrios e desconforto saí
Para o trabalho; coberto por tão grande in-
certeza. Agora, as horas são como bigornas
Arrastadas, fazendo do dia um peso em lentoMovimento. Aquele pressentimento aumentava espantosamente, era como se
Fosse meu último amanhecer, talvez, meu último por-do- sol já houvesse passado.
Veio então um forte desejo de ouvir as vozes de várias pessoas, aquelas que para mim eram todas como as mais importantes da vida , desejo esse que acabara de tornar- se nessessidade; não tinha outro jeito,
Precisava fazer inúmeras ligações...
Liguei primeiro para minha mãe, era apenas sete e meia da manhã: - está tudo bem! Eu disse para acalmá- la do susto ( não era costume ligar tão cedo para ela ) . Conversamos muito, como se eu me despedisse sem previsão de retorno. Depois liguei para irmãos e amigos, falava com cada um como de fosse pela vez derradeira. Passou- se então, sob tensão e fadigas as longas voltas do relógio, evidenciando que em fim, a manhã e a tarde, pesadamente chegara ao fim e que, era hora de um inacreditável regresso. Durante todas as horas , em todo o tempo, não foi possível pensar em nada de agradável, vez em quando, vinha até uma quase certeza de que terminaria alí o meu último fôlego e para sempre meus olhos se fechariam.
Regressando aos meus, abracei- os de novo: Esposa , filhos, a mãe na casa ao lado, vi pessoas vizinhas no movimento da rua, e me foi tudo muito confortante. Mas , mesmo assim, me faltou o sono, até, que, num bocejo e outros, finalmente consegui me adormecer num sono bem melindroso, quando já era alta madrugada. Como num piscar de olhos acordei- me. Já era um novo dia. Ao mirar- me no espelho, pensei ser a manhã daquele ontem a última, e, felizmente não foi. Também pensei nas pessoas que gosto e achei que jamais as ouviria novamente depois daquela medonha manhã, e, felizmente também não foi assim. E esse dia também se passou, porém, tranquilo.
Na segunda manhã depois daquela, na certeza e no gostoso de estar bem, voltei a ligar para as mesmas pessoas, desta vez com calma e risos. Algumas não consegui efetuar a ligação, mas , não foi motivo para tristeza, era bom acreditar que em breve as veria novamente. Aí, fiquei bem.