Sombria noite
Sombria noite
Eu preciso fazer isso. Não vejo outra alternativa. Estou sem saída. Também não quero refletir sobre mais nada. Estou cansada, sem forças, inerte. Parece que nem sinto mais o que acontece ao meu redor. Todo o meu corpo é um torpor, uma sensação sofrida de vazio. De que forma deter essa situação?
Nuvens pesadas cobrem o céu. O vento está forte, percebo os galhos das árvores balançando no canteiro do centro da avenida. A lógica diz que devia estar sentindo frio. Moro no trigésimo andar de um prédio à beira-mar, tão alto que, da janela da varanda, não se vê nada além do horizonte em tons mesclados de azul e verde. Azul por causa das nuvens e verde pelas ondas revoltas. Por que não consigo só admirar a paisagem, em vez de deixar que o nublado venha para dentro de mim?
Sufocamento. Angústia. Ansiedade. Dolorosas percepções que pesam o coração, que arrastam o meu ser inteiro para um abismo de lágrimas e medo. Reconheço o que se passa no meu interior, sei até de que forma posso terminar com isso. Porém... a tentação de permitir que eu seja enredada por essa triste redoma é maior que qualquer racionalidade. Só anseio me deixar levar, deixando-me engolfar pelos caminhos tortuosos do desespero. Desejo partir rumo ao desconhecido e não mais voltar. Estou errada?
Já dediquei dias e meses a essa reflexão infinita, que me leva ao pranto intenso. Já busquei ajuda de especialistas. Fiz tratamento psiquiátrico, durante anos tomando medicamentos ansiolíticos e para dormir. Insisti com veemência na psicoterapia. Melhorava um pouco, contudo, voltava às mazelas invariavelmente. Não foi falta de esforço. Não pessimismo. Sou uma pessoa insistente, esperançosa na maioria do tempo. Por que então toda essa carga negativa que faz adoecer?
Irei evitar detalhes. O que você precisa saber agora é que eu me muni de todas as armas disponíveis. Só uma coisa me faltou: você! Por isso estou escrevendo aqui. Deixando registrado só o que importa. Eu desejei o seu olhar de paciência, eu quis profundamente seu carinho quando eu falhava no cotidiano. Não precisava das suas críticas, das suas reprimendas, dos seus ataques de egoísmo e sim do seu abraço. Como não percebeu meus sinais?
Reconheço. Estou sendo fraca, covarde e todos aqueles adjetivos negativos que você já usou contra mim. Não vou te pedir perdão novamente. Eu cansei. Declaro desistência total e irremediável. Partirei. Sairei. Estou segura da minha decisão. Todas as chances foram dadas, todas as falas foram ditas, todos os gritos em silêncio foram explodidos. Assinalo aqui uma última pergunta – você não entendeu que te amo?