O CACHORRO DO PARQUE (Republicado)

O sol da tarde caiu como um bálsamo sobre mim naquele parque praticamente deserto, as folhas secas eram levadas pelo vento brando e deixadas encurraladas próximo ao portão de entrada, poucas crianças eram vistas ali com seus pais ou acompanhantes, geralmente babás incumbidas de dar um passeio vespertino com os pirralhas. Se não me engano podia ser umas quatro da tardinha e normalmente nesse horário o local é bastante visitado, tanto pelos fedelhos como por pessoas adultas em busca de repouso, mas nesse dia alguns desavisados ali estavam distraídos com o lazer, se não ouviram falar dos avisos para evitarem o local, ali estavam para me desafiar, não acreditavam na minha presença ali. Escondido atrás de uns sacos de lixo apenas o sol me via e isso já estava me importunando, ansiava sair dali o mais rápido possível, mas antes esperava satisfazer o meu instinto animal e abocanhar uma perninha qualquer, seja de criança ou de uma pessoa mais frágil, um idoso por exemplo, a minha sede daquele líquido viscoso avermelhado me deixava em êxtase, só sairia dali quando percebesse que minha boca estava toda lambuzada de sangue e meu intestino satisfeito com pedaços da deliciosa carne humana. Era meu "fraco", já me acostumara com essa investida antes de me transformar em humano. Há alguns dias que essa metamorfose me alucina e não vejo outro recurso senão me esconder nesse parque e aguardar uma vítima que possa saciar minha sede e fome, somente esse tipo de alimento me alivia as dores que sinto quando não pego um desavisado qualquer. Minha aparência é de humano, porém quando as crises me incomodam me transformo em um cachorro de simples aparência e sem despertar suspeitas ando a solta pelo parque onde desejo me alimentar.

Os guardas do parque surgem, alertam os incautos e não dão chance para minha investida. Não tenho como agir agora, o jeito é voltar a ser humano e aguardar uma nova oportunidade, mesmo que isso me force a sentir dores terríveis no estômago durante dias seguidos.

(Texto/conto publicado em 08/02/2020)

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 16/09/2024
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