As três Marias
Era quinta-feira, todos em casa, Maria Antônia dormia na sala, pois estava assistindo um filme de terror, como ela gostava de fazer depois de terminar os trabalhos da escola, nos dias de quinta-feira. Maria Francisca e Maria Eduarda dormiam no quarto, no final do corredor. Era uma casa muito antiga. No quarto da frente, dormiam seus pais. A casa tinha vários quartos, mas eles só dormiam em dois, os quartos vazios foram ocupados por pessoas da família que não estão mais entre nós . Era uma casa que, talvez, tivesse mais de 100 anos , mas parecia nova, as paredes sempre limpas, o piso brilhando, as portas. Enfim, tudo em perfeito estado.
Maria Francisca sempre acordava no meio da noite, ou para ir ao banheiro, ou para beber água. Eram três da manhã, o galo cantava pela primeira vez naquela madrugada. Maria Francisca desperta com uma vontade de ir ao banheiro, abri a porta do quarto e segue pelo longo corredor em direção ao banheiro, que ficava próximo da porta do quarto dos pais. Quando ela ia ao banheiro, ela sempre olhava para a porta dos quartos que tinham naquela casa, ela pensava em todos os ocupantes daqueles quartos, dos seus tios, das tias, avô e avó, bisavô e até de sua bisavó, que faleceu quando ela tinha 4 anos. Ela entrou no banheiro, fez xixi e voltou para o quarto. No quarto tinha três camas, uma ao lado da outra, a da Maria Antônia estava vazia… ela não percebeu, deitou e dormiu.
Maria Antônia, de repente, deitada no sofá, acorda e vai para seu quarto, no meio do corredor, ela percebe que o quarto que era da sua bisavó estava com a porta aberta, ela entra e vê alguém sentado na cama, estava de costa, parecia uma senhora muito idosa, a menina, sem exitar, pergunta- Oque você está fazendo na cama da minha bisavó? - E uma voz rouca, que responde baixinho- Sou a Dolores, mãe da sua avó, Maristela, mãe da sua mãe Gorete- Lembra de mim?- Maria Antônia, meio assustada- Sim. A senhora dormia nesse quarto. Maria Antônia ouve um barulho no corredor e vai olhar e quando ela volta, aquela velha senhora não estava mais lá- Poxa! Ela sumiu! tínhamos tantas coisas para conversar! Ela vai para o quarto, deita na cama e dormi.
Na noite seguinte, uma noite de sexta-feira, era dia 13, 13 de agosto. Os pais já estavam dormindo, Maria Antônia na sala assistindo um filme do Jason e suas irmãs no quarto, deitadas, conversando. Maria Antônia segue para a cozinha pelo longo corredor, para beber água. Quando ela entra na cozinha, a janela está aberta, ela fecha a janela, bebi água e volta para a sala, no meio do corredor, ela percebe que a porta do quarto está aberta, era o quarto onde seu avô dormia. Fazia dois anos que ele havia morrido, ela entra no quarto e senta na cama, olha para o espelho da cômoda e vê que no espelho aparece seu avô sentado na cama do seu lado. Ela, sem medo algum, para, olha para o espelho, sentada na cama, passa horas conversando com o seu avô, até que ela sai do quarto dele volta para a sala, para terminar de assistir o filme, mas o filme já tinha terminado.
Foram várias as noites, em que aquela menina conversou com os ex-habitantes daquela casa, mas quanto mais eles conversavam, mais curiosa aquela menina ficava. Ela era tão curiosa que não contava pra ninguém o que ela fazia todas às noites antes de dormir. Talvez por isso, que os falecidos parentes dela que moravam naquela casa, só conversavam com ela. Ela ficou sabendo de muitos segredos dos antepassados do seu pai, da sua mãe, inclusive que seu tataravô era ex-escravo e nasceu na África. Hoje a noite, a Maria Antônia nem vai assistir filme de terror antes de conversar com os seus antepassados, pelo fato de seus pais e suas duas irmãs terem ido a igreja, ela está sozinha em casa. Por isso, ela vai aproveitar o tempo para colocar as conversas em dia.
SILVA, Isaias Lima.