desvanecer no inverno
Marcus era introspectivo, devorador de livros e informações. Passava a maior parte do tempo imerso nas páginas amareladas de volumes antigos, explorando os mistérios do universo e do comportamento humano. Vivia em um pequeno apartamento no centro da cidade, rodeado por prateleiras cheias de livros, cada um com suas próprias histórias e segredos.
Numa manhã de neblina, muito frio e pés gelados, Marcus saiu para sua habitual caminhada matinal. Ao abrir a porta do prédio, demorou um pouco, mas notou algo estranho: as ruas estavam quase desertas. Não era feriado! nem final de semana...
O silêncio era perturbador, quebrado apenas pelo som de um cachorro latindo ao longe.
Enquanto caminhava, percebeu que as poucas pessoas que via pareciam alheias ao vazio ao redor. Elas continuavam suas rotinas, como se nada estivesse fora do normal. No entanto, Marcus sentia um calafrio na espinha. Onde estavam todos!?
Nos dias seguintes, a situação só piorou. O garoto que lhe vendia jornais na esquina desapareceu. O atendente da padaria, sempre tão simpático, não estava lá para servir-lhe seu café matinal. Até o porteiro do prédio, que nunca faltava ao trabalho, havia sumido.. nenhuma explicação de lado algum!
Marcus começou a duvidar da própria sanidade.
Seria possível que só ele percebesse que as pessoas estavam desaparecendo?
Seria algum tipo de complô do qual todos sabiam, menos ele? Ou seria tudo fruto da sua imaginação, uma ilusão criada por sua mente inquieta?
Decidiu recorrer aos seus livros, procurando respostas nas páginas que tantas vezes lhe ofereceram conforto e conhecimento. Leu sobre fenômenos inexplicáveis, teorias da conspiração e até distúrbios mentais. No entanto, nada parecia explicar o que estava acontecendo. Não estava nada certo, ele TINHA que entender a situação..
Certa noite, sentado em sua poltrona com um livro aberto no colo, ainda em suas pesquisas, Marcus ouviu um som estranho e muito alto vindo do corredor. Levantou-se, com o coração batendo forte, e abriu a porta de seu apartamento. O corredor estava vazio, e agora o silêncio parecia mais denso do que nunca, quase palpável..
No dia seguinte, Marcus não foi visto na padaria.. nem na livraria onde costumava passar as tardes. Os poucos que ainda circulavam pelas ruas não notaram sua ausência. A cidade continuava a desvanecer, e o mistério dos desaparecimentos permanecia sem solução
Que mistério?
A vida seguiu seu curso incerto, e um novo silêncio tomou conta da cidade. As páginas dos livros de Marcus ficaram empoeiradas, intocadas, enquanto o mundo ao redor se tornava cada vez mais vazio, envolto em névoa, amarelado..
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