O mapa do tessouro

Em uma mansão construída com muito esmero, em frente a um lago rodeado por vegetação nativa, onde vários ribeiros serpenteavam quilômetros de floresta para desaguar na grande lagoa que, por sua vez, desaguava no mar, morava uma família composta por oito membros. Agripino Góes, um político veterano e corrupto, havia ficado milionário com suas falcatruas eleitorais durante décadas de roubalheira. Agripino era o patriarca da família, mas estava acamado, desenganado pelos médicos com um câncer terminal, seus dias contados.

Seus filhos, que pouco frequentavam a mansão, começaram a aparecer com mais frequência ao saberem que seu pai poderia morrer a qualquer momento. Sempre estavam lá, como urubus sobrevoando em círculos um boi moribundo e indefeso, esperando a hora de, como hienas ferozes e famintas, dividirem a carcaça e brigarem entre si pelos pedaços mais suculentos. O astuto político, conhecendo bem a família que tinha, transformou toda sua fortuna que estava nos bancos em barras de ouro e mandou cinco homens de sua alta confiança enterrarem nas proximidades de sua grande fazenda, rodeada por quilômetros de Mata Atlântica a poucos metros do mar. Depois de esconder seu tesouro, contratou pistoleiros e mandou matar todos que sabiam da localização de sua riqueza, ficando com o segredo só para ele.

Em um dia em que toda a família estava comemorando o aniversário da matriarca, dona Hermina Pereira Góes, o velho Agripino participava da celebração em uma cadeira de rodas. De repente, passou mal. Imediatamente, levaram o enfermo para o quarto e chamaram o médico da família, que chegou rapidamente, mas apenas para confirmar o óbito. Por alguns minutos, houve um silêncio sepulcral na mansão, até que Paulo Góes, o filho mais velho de Agripino, levantou-se de uma cadeira de mogno colonial e chamou toda a família, proferindo um breve discurso:

— Este momento ficará em nossas mentes pelo resto de nossas vidas. Hoje perdemos nosso pai, e nossa mãe perdeu seu companheiro de mais de cinquenta anos. Devemos nos unir como um feixe de trigo para, com sobriedade e sabedoria, cuidar de todo o legado que nosso pai deixou. Eu sei que agora não é a hora, mas após o sepultamento, com muito respeito, devemos obedecer ao testamento. Depois da divisão, cada um retoma sua vida.

Uma semana depois, chamaram o advogado responsável pela divisão dos bens. Quando todos estavam na sala da mansão, o advogado disse:

— Eu fiz o que Agripino Góes me pediu. Talvez vocês não aceitem o que vou dizer, mas foi a vontade dele.

Rui Góes, o terceiro filho, disse impaciente:

— Diga logo, não demore mais.

— Pois bem, essa foi a vontade de seu pai. Todos os imóveis serão doados para uma instituição de idosos chamada Lar Irmã Dulce.

Tamires Góes levantou-se, indignada:

— Meu pai não faria uma coisa dessas com seus filhos! Mostre-nos o testamento e nos explique com minúcias os motivos que o levaram a doar todo seu patrimônio para a caridade de pessoas que ele nem conhecia.

O advogado, preparado para a situação estressante, mostrou o testamento e deixou tudo bem claro. Leonardo Góes, atônito e revoltado, questionou sobre a fortuna que ele tinha em bancos brasileiros e estrangeiros. O advogado respirou fundo e explicou:

— Ele converteu toda a fortuna que estava nesses bancos em barras de ouro.

Daniela Góes, precipitada, gritou:

— E onde estão essas barras de ouro? Não diga que ele doou também para algum abrigo de desocupados!

O advogado respondeu calmamente:

— Tenham calma. — Pegando sua pasta de documentos e tirando um papel plastificado, mostrou a todos. Nesse momento, Patrik Góes, o filho mais novo, disse incrédulo:

— Que diabo é isso? Você está brincando com a gente?

— Não, não é brincadeira. Seu pai mandou cinco homens de confiança enterrarem as barras de ouro. — Nesse momento houve uma discussão na sala. Paulo Góes deu um tapa na parede e gritou:

— Parem! Vamos ouvir a conclusão do doutor Ricardo Montes, por favor.

— Isso é um mapa. Fui incumbido por seu pai de entregá-lo a Paulo Góes. Ele liderará vocês na busca por esse tesouro enterrado aqui nas terras da família.

Até aquele momento, dona Hermina estava calada, pois conhecia seu marido e aquilo não foi surpresa para ela. Ela perguntou ao advogado:

— Onde estão os homens que enterraram as barras de ouro?

— Mortos. — Respondeu o advogado.

— Foi ele quem mandou matar? — Questionou Tamires.

— Isso eu não sei. — Disse o advogado tranquilamente.

Dona Hermina insistiu:

— E quem lhe disse que eles estão mortos?

— Ele mesmo. Eu não perguntei quem os matou nem por que motivos foram mortos. Bem, o que tinha para dizer a vocês, já disse. Tenho que ir. O mapa está aí. Boa sorte a todos. — E foi embora rapidamente.

A família ficou semanas desnorteada, mas precisava agir rápido, pois os patrimônios não pertenciam mais a eles. Paulo reuniu novamente a família e abriu o mapa. O mapa estava desenhado em um pedaço de papel com bordas douradas. Na parte superior, em letras garrafais, estava escrito "Mapa da Família Góes". No canto inferior direito, estava a grande lagoa com uma linha pontilhada sobre ela até chegar ao lado leste do lago, terminando em um grande pé de ipê roxo. No lado esquerdo do ipê, dentro da floresta, havia uma trilha de caçador. No final da trilha, chegava-se a um riacho e outra linha pontilhada seguia o riacho até sair da mata, chegando à praia. O pontilhamento começava na areia e entrava no mar; havia uma ilha com um grande penhasco de pedras, e o pontilhamento ia até o cume do monte de pedras, onde havia um X vermelho.

Eles se prepararam, foram até a lagoa, pegaram um barco e remaram até a grande árvore de flores roxas. Todos ficaram muito ansiosos, pois estavam dentro da mata fechada e escura. Alguns quiseram voltar, mas foram ameaçados por Paulo, que disse:

— Quem voltar está fora da partilha do ouro.

A ambição serviu como combustível para os medrosos, como Tonico, que renovaram sua coragem. Paulo falou com autoridade:

— Fiquem todos juntos. As árvores são muito semelhantes. Se alguém se perder, ficará andando em círculos, entrará em pânico e se embrenhará mais e mais na mata.

Rui percebeu algo estranho pendurado em uma árvore. Ficaram um tempo pensando no que fazer, até que Daniela disse:

— Temos que examinar tudo que está no caminho do tesouro.

Ela pegou o saco pendurado na árvore e abriu ligeiro. Tinha um bilhete que dizia: "Cuidado com aquele que não é herdeiro, mas quer herdar."

Tamires disse:

— Não entendo. Todos que estão aqui são herdeiros.

Mas todos ficaram desconfiados. Daquele momento em diante, ninguém confiava em ninguém. Finalmente, chegaram na trilha dos caçadores, que era muito estreita. Em alguns lugares, Paulo, que ia na frente, precisava cortar galhos e ramas que obstruíam o caminho. Todos se ajustaram quando o facão de Paulo fez um barulho estranho, como se tivesse batido em algo de ferro. Paulo gritou:

— Tem algo estranho aqui, enganchado nesses cipós.

Era um prato de uma velha balança, e estava escrito em baixo-relevo na lâmina: "Cuidado com aquele que prometeu ser o fiel dessa libra."

Carlos Góes, que ainda era adolescente, falou no ouvido de Rui:

— Dos nossos irmãos, o mais fiel ao papai era Paulo.

Rui beliscou Carlos e disse baixinho:

— Deixe de pensar besteira. Tudo vai dar certo no final.

Seguiram a trilha sempre apreensivos, sem entender o que de fato o velho Agripino tinha tramado para sua família, já que ele era um político sem empatia e havia doado quase toda sua fortuna para a caridade. Finalmente, chegaram à praia. Foi uma alegria total. Pularam, rolaram na areia e tomaram banho no mar. Mas Paulo disse:

— Temos que continuar. A tarde já está terminando. Talvez tenhamos que dormir por aqui.

Tamires disse:

— Olhem a ilha que está no mapa.

Carlos disse:

— Está longe. Como chegaremos lá?

Patrik avistou algo:

— Olhem todos, estão vendo lá no aceiro da mata? Parece um barco.

Correram para lá e realmente era um barco grande, com muitos suprimentos: água, remédios, alimentos enlatados, etc. Paulo disse:

— Papai pensou em tudo.

Quando puxaram o barco para o mar, Daniela disse:

— Esperem, tem algo enterrado na areia onde estava o barco.

Paulo foi e arrancou uma garrafa de vidro transparente. Dentro da garrafa havia outro bilhete. Tamires disse:

— Tem que quebrar a garrafa para lermos o bilhete.

E assim fizeram. Tamires pegou o bilhete, abriu o papel e leu:

— "Eu matei cinco, mas cuidado com o número seis."

Paulo pegou todos os bilhetes e chamou os irmãos, mas não conseguiram decifrar aquele enigma tão estranho. A noite chegou, armaram algumas barracas e passaram a noite ouvindo o barulho do mar e pensando naqueles bilhetes confusos.

Quando o dia amanheceu, colocaram o barco no mar e remaram com destino à ilha de pedras. Chegando lá, viram o grande penhasco. Nesse momento, a tensão aumentou. Começaram a subir ao encontro do X vermelho. Chegaram ao topo do penhasco e viram o grande X vermelho com uma pedra grande bem no centro. Paulo foi lá e retirou a pedra, encontrando mais uma pista de papel. Rui disse:

— Essa eu quero ler.

Pegando o bilhete, disse:

— "Se vocês não decifrarem agora as pistas do bilhete, aquele em quem mais confiei toda minha vida herdará toda a fortuna."

Rui e Carlos, que já vinham desconfiando de Paulo, convenceram os irmãos a imobilizá-lo. Houve uma luta intensa, mas no final conseguiram amarrar Paulo e começaram a cavar o tesouro. Foi quando Daniela disse:

— Não é o Paulo. Tragam os bilhetes rápido.

Deram os bilhetes a ela. Ela disse:

— Papai matou os cinco homens que enterraram o dinheiro, mas por que não matou o sexto?

Tamires disse:

— Só tinha um que ele não podia matar.

Paulo, amarrado, disse:

— O advogado.

Daniela continuou:

— A próxima pista é o prato da balança.

— Exatamente — disse Paulo. — Qual é o símbolo dos advogados?

Todos responderam quase em uníssono:

— Uma balança!

— E a última pista? — concluiu Paulo.

— Papai sabia que não podia matar o advogado e sabia que ele, corrupto como era, iria nos acompanhar, nos matar e roubar as barras de ouro. Então ele teve que criar esse mapa e colocar as pistas. Vamos nos esconder e esperar ele chegar.

— Mas ele não vem só — disse Rui.

— Ele vem sim — retrucou Paulo. — Não iria correr o risco de dividir esse tesouro com outro.

Prepararam uma emboscada e assim o fizeram. Paulo escavou até descobrir o tesouro, que estava em um caixote. Os outros vigiavam. Então, ouviu-se um disparo. Paulo caiu. Todos correram, mas Patrik, que havia saído, surpreendeu o advogado. Na briga, caíram os dois do penhasco.

Os irmãos ficaram desesperados. Rui disse:

— Vamos embora.

Tamires disse:

— Sem o tesouro, não.

A maioria estava focada apenas no tesouro. Paulo baleado e Patrik morto não importavam. Juntaram-se e puxaram o caixote para fora, mas foram surpreendidos por uma alavanca que havia sido colocada para catapultar o tesouro, e assim aconteceu. O tesouro foi jogado no mar pela engenhoca feita por Agripino. Desapontados, todos voltaram a si. Ajudaram Paulo, lamentaram por Patrik e, ao olhar para o grande buraco vazio, viram mais um bilhete. Pegaram para ler e estava escrito:

— "Não juntem tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam... Assinado, Agripino Góes, o moribundo, que ganhou o mundo, mas perdeu a alma. Não quero que vocês percam a de vocês."

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 11/06/2024
Reeditado em 11/06/2024
Código do texto: T8083500
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