O Sibilo da Serpente
Em uma noite sombria, desprovida da luminosidade da lua cheia, a escuridão envolvia completamente a densa floresta e a trilha onde eu caminhava perdido, após escapar de um jaguar que me perseguira implacavelmente para proteger sua prole. Minhas pernas ágeis sentiram o solo ceder e, como um raio, precipitei-me em um buraco, mergulhando em uma lama espessa, desorientado e sem noção de minha localização na aceitação da escuridão noturna, eu me entreguei ao relaxamento e adormeci.
Ao despertar, deparei-me com uma intensa claridade emanando da abertura do buraco. Subitamente, um ruído de chocalho capturou minha atenção. Era uma cobra cascavel, postada a apenas um metro de mim, com seu bote armado, pronta para atacar. Um rato surgiu naquele momento, passando entre mim e a vigilante serpente, alterando meu destino, desviando o foco da cobra para o roedor, e o ataque foi preciso e letal. Aproveitando o momento miraculoso, afastei-me, conseguindo manter uma distância segura da faminta serpente. Após saciar-se, a cobra esticou-se, imóvel, absorvendo o calor do sol.
Permaneci imóvel, respirando com extrema cautela para não despertar o réptil venenoso; a única coisa em movimento dentro de mim eram meus pensamentos. Contemplei várias possibilidades de escapar daquela situação extremamente desconfortável e perigosa. Um sentimento familiar emergiu entre minha esperança e desespero, lembrando-me da convivência com minha possessiva esposa ao longo dos anos. A diferença residia no veneno: a serpente possuía um veneno poderoso que atingia sua presa fisicamente, eliminando-a quase instantaneamente, enquanto o veneno de minha esposa envenenava não o corpo, mas a alma, de forma tão lenta que a vítima mal percebia que estava sucumbindo psicologicamente e emocionalmente, rumo à inanição e à tristeza, até o colapso total de corpo e espírito.
Permaneci ali, imóvel, por três dias, sofrendo com fome, sede e frio, enquanto refletia, ponderava sobre toda a minha vida. No terceiro dia, ao abrir os olhos, fui recebido por uma luminosidade radiante. Procurei com os olhos a serpente, mas não a encontrei naquele espaço curto. Então, ouvi um sibilar e percebi que vinha de uma fenda no canto do buraco; minha companheira de infortúnio havia entrado para pegar sua presa, que tentara escapar após o ataque. Sem perder tempo, saltei em direção à borda do buraco e consegui agarrar-me a algumas raízes expostas, escapando. Naquele momento, gritei bem alto: é impossível um homem conviver com uma serpente dentro do mesmo espaço.