A Volta.

A Volta.

- Dinho.

- Dinho acorde.

- Dinho, porra. Ta de Sacanagem?

- Puta que pariu, minha mãe, Dinho não acorda. Esta sem pulso, Dinhoooo.

No dia 26/04 eu não acordei. Tive que desqbravar o desconhecido, trilhar um lugar escuro, sem luz, mesmo que fraca, nada havia, havia apenas nada. Como levantei não sei, mas, estava de pé, onde, quem saberia descrever, mas, tava de pé. Para onde ir, não havia sinais, nem placas informando a direção, e, parado ainda assim estava em movimento. Era estranho, com estranheza sentia ter pessoas ao meu redor, quem eram. Não conseguia distinguir, porém, podia sentir-los.

Eu ainda tinha lembrança do mundo que deixei, ainda tinha marcas de momentos recentes, pequenos vislumbre dos últimos olhares a mim voltados, talvez, este sentir, a impressão, estivessem ligadas a essas lembranças.

Talvez!..

De repente um choro, um lamento tão profundo quase suplicante a meu favor, apesar de estar distante eu conseguia distinguir o tom, que dizia e quem pronunciava.

- Painho, acorda painho. Sniff. Sniff. Acordaaa Painhooooo.

- Alguém pode pegar água para Lú. Lua, seu pai ta dormindo.

- Por que ele não acorda. Acorda pai, eu quero te falar uma coisa. Mãe, acorda painho.

- Filha, eu não posso fazer nada. Temos que esperar. Vem cá. Dei-me um abraço.

Era Luana, minha filha estava me chamando. O que ela queria falar, será que finalmente já esta namorando, passou em alguma faculdade, ou, só queria contar seu dia. Devido a isso, onde já era escuro, ficou ainda mais escuro, como se meu sentir tivesse mostrado uma tristeza além do incompreendido. Senti tanta falta dela que juraria ter pego suas mãos, a mesma estava me puxando tão absurdamente frenética que até os solavancos eram reais. De repente, ao fundo daquele ligar mórbido, uma ponta de claridade opaca indicava a direção, atraia-me como imã, não sei se andava, se flutuava, sei apenas que seguia a claridade, e, conforme me aproximava o que era opaco ganhava brilho. A cada passo a voz de Luana ficava mais nítida, ganhava força, supria a escuridão.

- Mãe, painho se mexeu.

- Não Lu. Você esta proxima demais deve ter esbarrado nele te dando a impressão de ter se mexido.

- Não. Meu pai se mexeu.

- Pobre garota. Ama tanto seu pai que esta vendo coisa.

- Cala boca Ana.

- Vamos leva-lo ao hospital, lá terá dois médicos que atestará o óbito. Logo em seguida vocês tratarão do funeral.

- Ok. Peguem a maca.

- Doutor você vai salvar meu pai?..

- Não criança. Seu pai partiu.

- Sniff. Sniff. Mentiroso...

- Alguém pode ficar com ela. Naty, vá ver sua prima...

- Doutor esta acontecendo alguma coisa. Estou sentindo o pulso, fraco, mais sinto...

- Corre lá, pega o estetoscópio...

Ao entrar na luz, meus olhos semi fechado pudia ver uma face estranha, era um homem barbudo com roupa branca.

- Esta tendo sinais visuais, Sr. Osvaldo. Sr. Osvaldo. Pode me ver.

- Ssiimmm. Onde estou?..

- Esta em casa. Sou o Dr. Sérgio. Olhe minha mão. Quantos dedos você vê?..

- Um...

- Bom. Agora sabe que dia é hoje?..

- Sexta-Feira!..

- Certo. Almir. Traga uma ampola da medicação. Coloque 1ml. Traga também soro.

- Ok. Doutor...

- Ccaaddê mminnhaaa ffillhaaa.

- Vamos chama-la. Chamem a garota!..

- Pppaiiinnho. Eu não disse a vocês que ele se mexeu...

- Você tinha razão garota...

- Papai porque você me deu esse susto. Vou bater no senhor. Kkkkkk

- Não Lu. Seu pai esta cançado. O que você queria me falar?..

- Pai. Passei na faculdade...

- É isso. Eu pensei que tinha um namorado(a). Porra você não namora não?..

- Eita meu painho. O Sr. Xinga demais...

- Se ele não xingar, ele esta morto.

- Kkkkkkkkkkkkkkkkkk

- É tia. Tá certa.

- Calma filha, esse abraço vai me matar...

- Não!..

- Alguém pode me explicar porque tanto alvoroço.

- Sr. Osvaldo o senhor estava morto há algumas horas. Já estavamos para te levar para o hospital afim de atestar o óbito, quando sua filha falou que você tinha se mexido. O Sr. Lembra de alguma coisa?..

- Não! Nada! Só ouvi minha filha me chamar e despertei...

- Bom! Então é isso. Sua filha o salvou! Você estava morto, mas, de alguma forma voltou. Sou espirita, porém, nunca presenciei tamanha ressurreição. Parabéns. Sua filha o resgatou.

- Que bom! Mas, da próxima vez Lú, me fale o número da Sena. Kkkk

- É gente, ele esta vivo com certeza...

- Kkkkk Mãe,... Kkkkkk.

- Bom! Vamos deixa-lo descasar.

- Doutor posso ficar com ele?..

- Não só pode, como tem todo direito.

- Lú, se me der outro abraço desse, ai sim vou morrer. Kkkkk

Ahhhh! Pai....

...

Texto: A Volta.

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 26/04/2024 às 16:38

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 26/04/2024
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