A Chegada
Quando Brooks Collins chegou em casa naquela noite, Champ, o seu labrador de estimação, estava de pé junto da porta, como costumava fazer. Mas parecia quase... distraído? Abanou o rabo, aceitou o carinho entre as orelhas, mas não parecia com disposição para brincadeiras.
- O que houve com o Champ? - Indagou Brooks, depois de beijar a esposa, Louise.
- Ele já estava assim quando cheguei da rua - disse Louise. - Pode ser gases... vá dar uma caminhada com ele.
Brooks trocou de roupa, colocou bermuda, chinelos e camiseta, e saiu com o cachorro para dar uma volta no quarteirão do condomínio suburbano. Casas avarandadas idênticas sucediam-se de um lado e outro da rua, suas luzes placidamente acesas naquele anoitecer de verão suburbano. Na esquina, topou com seu vizinho Morgan, que trazia pela guia o seu cão, um husky siberiano chamado Avalanche. Os dois cães se cheiraram cautelosamente, enquanto os humanos falavam trivialidades.
- Como estão as coisas, Morgan?
- Nenhuma novidade... fora o Avalanche, que amanheceu meio triste.
- Triste?
- Você sabe, ele gosta de brincar. Hoje acordou... quieto.
Brooks coçou a cabeça.
- Engraçado... está parecendo o Champ. Estava bem jururu quando cheguei do trabalho. Louise achou que poderia ser gases, mas ele continua desanimado.
- Será que é alguma virose e não estamos sabendo? - Sugeriu Morgan.
Brooks fez uma careta.
- Tudo hoje em dia é virose... espero que essa onda não chegue aos veterinários. Mas se fosse alguma epidemia, certamente a TV ou a internet já teriam anunciado.
- Talvez não tenha dado tempo - refletiu Morgan. - Só notei hoje de manhã.
- É bom ver se ele perdeu a fome - disse Brooks. - Se isso acontecer, acho que é melhor mesmo levar no veterinário.
- Amanhã eu te digo - prometeu Morgan, prosseguindo em seu caminho de volta para casa.
Brooks seguiu adiante, Champ à frente dele, mas sem fazer nenhuma menção de querer cheirar postes ou latas de lixo. Decididamente, algo acontecera com o seu cão, e ele esperava que não fosse sério. Finalmente, quando haviam dado a volta no quarteirão e começavam a voltar, o labrador parou subitamente, sentou-se na calçada e espetou o focinho para o alto. Brooks também olhou para cima, intrigado.
O céu estrelado estava praticamente sem nuvens, e ele pôde ver quando uma grande sombra circular eclipsou brevemente as estrelas, enquanto cruzava o firmamento de norte para sul. Aos seus pés, Champ ganiu baixinho. Depois, puxou a guia como se quisesse voltar logo para casa.
Brooks também decidiu que era melhor procurar abrigo, contra o que quer que aquilo fosse.
- Que cara é essa? - Indagou Louise ao vê-lo retornar esbaforido com o cão.
- Tem alguma coisa estranha acontecendo - resumiu Brooks, fechando a porta atrás de si. E olhando para a TV ligada:
- Você viu alguma coisa no noticiário?
- Alguma coisa... o quê, Brooks? Você está me deixando nervosa.
Brooks não sabia se deveria falar sobre a sombra misteriosa; talvez fosse melhor ficar quieto. Não podia ser um disco voador, pois, como todo mundo sabe, discos voadores são luminosos.
- Encontrei o Morgan... o cachorro dele também amanheceu jururu - desconversou Brooks. - Eu estava dizendo que pode ser uma virose.
- Avalanche também pegou? - Preocupou-se Louise. - Bom, amanhã eu saio mais cedo da escola, só tenho uma turma... vou levar o Champ na doutora Isabella.
- Sim, é melhor prevenir - conseguiu dizer Brooks, antes de entrar no banheiro para tomar uma ducha fria e espantar a apreensão que começava a tomar conta dele.
* * *
Na manhã seguinte, Brooks precisou abrir cedo a porta para que Champ saísse. O animal parecia agoniado, e Brooks imaginou que ele quisesse fazer as necessidades. Mas o cão apenas correu até o meio do gramado e sentou-se, o focinho apontado para o céu. Outras portas se abriram ao longo da rua, e todos aqueles que tinham cães em casa viram ocorrer o mesmo fenômeno: os animais corriam para um ponto onde pudessem olhar sem empecilhos para o céu.
Usando um robe sobre a camisola, Louise aproximou-se de Brooks, parado na porta de entrada, e perguntou:
- O que está acontecendo, afinal?
Brooks virou-se para ela, e depois para cima.
- Olha, - ele disse - olha.
Louise ficou ao lado dele e olhou para o alto.
Um imenso objeto voador metálico, lembrando dois cones achatados colados pela base, sobrevoava preguiçosamente a cidade sem produzir qualquer ruído. E então, como que despertando de uma longa letargia, todos os cães começaram a latir para ao alto, ao mesmo tempo.
- [20-03-2024]