Sementes Noturnas
É dia treze. Sexta-feira.
Bateram vinte quatro horas
No meu ouvido.
Em meu pensamento
Nosferato apoderou-se
De mais uma vítima.
Numa encruzilhada
A rasga-mortalha gritou de medo
Quando um gato preto
Cruzou meu caminho.
Por entre as sombras
Um balde zelava-me medroso
Depois de uma longa semana de serviços,
E uma escada por sua vez
Nem se deu conta de mim;
Olhava o outro lado do muro. . .
Quem sabe um casal namorando?
Bem lá num cantinho escuro?
Uma corrente de ar passa
E vai chocar-se loucamente
Contra o velho portão do cemitério;
E ele range com temor
Como se alguém pedisse passagem.
A chuva se faz presente. . .
Relâmpagos trincam o céu
E o ribombar dos trovões
Insinua uma dança fúnebre.
Meus olhos pavorosos
Escondem-se atrás dos óculos.
As mãos dentro dos bolsos. . .
E o meu grito enforca-se na garganta
Com as cordas vocais.
Ouço passos se aproximando. . .
E percebo que a rua treme sob meus pés.
Fico rígido. . . e os passos. . .
Cada vez mais perto.
Uma mão pousa sobre meu ombro.
Viro a cabeça devagar. . . devagar. . .
E devagar. . .
Uma imagem vai se formando. . .
Quando vejo!
– Meu pai!
Que me despertava
Desse macabro pesadelo.
Livro: Vermelho Navalha/2023.