O vizinho. (miniconto)
Espiou, antes, pela fresta da porta, o corredor. O medo constante do encontro: o vizinho. Novato, desde que chegara, bordando o limite da inconveniência enquanto mantinha o corpo enorme para os medos. Se apresentava como um pêndulo oscilante da bobice e da violência. Ninguém saía enquanto seus ruídos pudessem ser ouvidos no corredor ou em qualquer lugar. Ele, certamente, como imaginava o morador do 34, escolhera justamente o vizinho da porta da frente como alvo; dessa forma, o trinta e três qualquer pregado na porta em frente à sua morada tomou um tamanho incalculável, a estatura do medo. Viu, de imediato, a porta fechada, e buscou o alívio do corredor vazio. Respirou. Com sua maleta, fechou a porta numa velocidade mínima para diminuir o zunido do ferrolho. Descalços: tomou o hábito de pôr os sapatos somente depois de garantida a sua segurança — dali distante — para passar mudo completo naquele vão. Não se ouvia mais cumprimentos, tudo um silêncio só, calado somente pelo novo inquilino. O terror de todos os moradores, que, quando se pergunta, não sabem explicar a própria aflição sem gaguejos e demais incompreensões. Desceu as escadas, variando entre a pressa e a cautela. Quando, enfim, viu a portaria aberta, vazando aa luz do dia, tomou voo. Ao aproximar o pé na rua, a sombra: seu vizinho surgiu.