Cognitivo

I

Era uma manhã de sol e céu azul na região da Vila Mariana, bairro da região sul da cidade de São Paulo.

Henry Luchesi tinha uma vida regrada aos olhos de quem via, por volta das 6:00h saia para caminhar, voltava por volta das 6:45h. As 7h levava sua filha, Alina, de 16 anos para o colégio Batista e sua esposa Selma ia para sua clínica de fisioterapia.

Henry normalmente chegava em seu consultório de psiquiatra e psicologia localizado no Itaim Bibi por volta das 8:30h. Saía às 18:30h e chegava por volta das 20h em sua casa, salvo alguns dias esporádicos. Henry sabia que tinha uma vida perfeita e que tudo estava dando certo.

O que Henry talvez não soubesse e que mais alguém também sabia disso.

Naquela manhã de primavera, Henry saiu para sua caminhada matinal, colocava seus shorts de corrida e seu fone de ouvido, ele sempre fazia o mesmo trajeto e sempre parava para dar uma pausa em uma praça.

Henry se sentou no banco da praça e tomou um pouco de água.

-Olá, bom dia! - disse um rapaz que sentava ao lado do doutor - Dia bonito, não é mesmo?

-É sim - Respondeu Henry com um tom meio ríspido.

-O senhor caminha sempre por aqui?

-Sempre - Disse o médico com um ar de incomodado

-Desculpe se estou te incomodando - O rapaz mantinha a simpatia - É que as vezes não temos com quem conversar e…

-Olha, estou na minha caminhada da manhã, eu não conheço você…

-Entendi, posso só te fazer uma última pergunta?

-Qual?

-Se você soubesse que gritar faria você morrer agora e ficar em silêncio e fazer o que eu mando talvez te deixe vivo, o quê você faria?

-Mas que merda de pergunta é essa? - Henry olhou para o rapaz e o viu apontando uma - Olha, se isso é um assalto, eu só tenho meu celular, pode levar…

-Você acha que eu quero essa merda?

-Entāo, o que você quer?

-Você! Anda, levanta, vamos dar uma volta.

-Para onde?

-Vamos para seu apartamento…

-Que porra de brincadeira é essa?

-Fala baixo! - o rapaz deu uma coronhada na cabeça do médico - a próxima é uma bala!

Henry percebeu que não se tratava de brincadeira e se levantou: - Eu sei onde você mora e se você desviar o caminho, você também morre! - Henry estava em uma encruzilhada, pois se fosse verdade o que o rapaz disse ele morreria, mas se fosse mentira ele também poderia tomar um tiro.

Começaram então a andar pelas ruas do bairro.

-Escuta garoto, eu não sei porque está fazendo isso, mas podemos nos entender, você tem PIX? Eu faço a quantia que precisa…

-Você realmente acha que isso é um assalto? - Outra coronhada na cabeça do médico, que sente o sangue começar a escorrer - Obrigado pelo "Garoto" normalmente as pessoas dizem que já tenho 40.

Henry estava chegando perto de seu apartamento e decidiu testar, faltando dois quarteirões para chegar, ele deu o sinal de que viraria à esquerda.

-Tem certeza que vai virar esquerda, Henry?

O médico sentiu um frio na espinha, o rapaz sabia seu nome - Pode virar, mas será triste a notícia de que um psiquiatra fora achado morto em seu bairro, você faz tanto pelos outros, não é?

-Olha, eu não sei quem você é, mas tenho certeza de que não quer jogar sua vida fora, me deixe ir e fingimos que isso não aconteceu!

-Você está tremendo? - o homem ria - Você realmente está com medo. O garoto abaixou a arma por um instante: - Você está vendo aquele morador de rua dormindo?

-Sim.

- Veja só - O homem mira sua arma no morador e dá um tiro em sua cabeça no meio da rua que estava vazia.

-Meu Deus do céu!

- Acha que eu me importo ou que tenho algo a perder? É bom fazer o que eu mando!

-Você pode me informar as horas?

-Se seu medo é que Selma e Alina estejam em casa, fica sossegado que não farei mal nenhum a elas.

Henry estava quase em estado de choque, e para quem estudou a mente humana chegava a ser irônico.

-Se na portaria do apartamento você tentar alguma graça, bem, já sabe…

Chegaram até a portaria do prédio e Henry entrou com o seu convidado normalmente, como se fossem melhores amigos. O porteiro talvez tenha achado estranho, mas como gente rica é arrogante, ele preferiu ficar quieto.

No Hall do apartamento Henry chamou o elevador.

-Oxi, o que você pensa que está fazendo?

-Chamando elevador

-Nós vamos de escada!

-Mas eu moro no 15° Andar!

-Problema seu, anda logo! De escada, nem parece que caminha todos os dias…

Henry então pensou que isso poderia ser seu aliado, pois se Alina e Selma ainda estivessem lá, daria mais tempo para elas saírem.

-Eu sei o que está pensando, Henry - Eles subiam as escadas - Eu acredito que elas já tenham saído, afinal já são 7:25h.

-Olha, se você puser as mãos nelas!

-Olha o que? - Tome outra coronhada na cabeça - Você não está em posição de nada, seu filho da puta! Se você se preocupasse tanto com elas, você teria escolhido levar um tiro na praça e não torcer para que elas já tenham saído, seu lixo! - Foi a primeira vez que o homem mudou seu tom de voz para sarcástico e psicótico.

Chegaram à porta do apartamento 151. Henry exitou em colocar a chave na porta.

-Aí é que está a pergunta de um milhão de dólares! Elas estão aí? Tantanran

Um barulho de chave virando de dentro da porta, a porta se abre, era Selma: Nossa, bem o que houve? Você demorou!

-Perdeu, Otário! - o rapaz dá uma bicuda nas costas do médico, o empurrando para dentro do apartamento junto com sua esposa.

II

Henry é jogado em sua esposa os faz caírem em cima do sofá, o homem entrou já fechando as portas.

-Mas o que está acontecendo? - Selma estava um pouco desnorteada - Meu Deus, Henry. Você está sangrando?

-Selma, cadê a Alina?

-Está no quarto, quem é você? - perguntou a mulher olhando para a porta.

-Que barulheira é essa? - Era Alina que havia saído do quarto

-Tudo ao seu tempo, minha querida DarkAngel - Alina arregalou os olhos - Vai pra junto do seu pai e da sua mãe.

Os três estavam juntos no sofá e Henry abraçava as duas.

-Isso é um assalto? - Perguntava Selma

-Vocês ricos tem a mania de achar que tudo é roubo, neh? Não, não é assalto, apesar que acredito que vocês desejam que seja.

-Por favor, não nos faça mal!

- É muito sentimentalismo em lugar só, culpe seu marido por isso.

-Pai, o que está havendo?

-Seu pai preferiu colocar a vida de vocês em risco ao invés de tomar um tiro lá fora, acredita? O que já faz cair a tese babaca que ele criou que o ser humano é capaz de controlar seus instintos…

-Como você pode saber dessa tese, se eu só a palestrei no conselho….

-Na associação bra…

-Na associação brasileira de blá blá blá, você acha que eu sou algum idiota?

-Eu acho, e muito…

-Só não te dou um tiro porque foi a primeira resposta sincera sua de hoje.

-O que você quer, seu desgraçado?

-Olha o palavreado, seria tão triste algo que você falasse acabar com a vida de sua filha!

-Você me disse que não poria as mãos nelas!

-E você sai por aí dizendo que vai ajudar os outros, estamos empatados.

-Você é algum paciente insatisfeito? Não estou entendendo o que você quer.

-Não diria paciente, mas estou muito insatisfeito e isso é óbvio, se não, eu estaria aqui?

-Moço, por favor…

-Moço? Alina, esperava mais do que um "moço" quer saber, cansei de não ter um nome a partir de agora vocês me chamaram de Deus.

-Como é?

-É isso mesmo que escutou! Vocês são religiosos?

-Eu sou médico!

-E eu escritor, o que não tem nada haver uma coisa com outra…

-Eu parto da ciência!

-E que ciência bonita não? Fazer as pessoas acreditarem que podem ser mais do que são?

Deus está puto!

-Eu não acredito em Deus!

-Mas é melhor começar a acreditar, porque Deus não vai pensar duas vezes antes de explodir os miolos da sua esposa nessa parede, você entendeu?

-Entendi

-Entendi o que?

-Entendi, Deus.

-Ah, muito melhor agora - Deus deu uma pausa acendeu um cigarro - Vamos começar essa terapia em família então. Você - Apontou para Alina - Traz os celulares aqui pra mim e busque três cadeiras e se tentar' alguma gracinha…

-Já sei, Deus vai me punir…

-Que filha arrojada em Henry - Uma coronhada na cabeça de Selma - Entregue-me os celulares e pegue as cadeiras!

-Filha, faça o que ele - o rapaz coçou a garganta - faça o que Deus manda - o rapaz acenou positivamente.

A garota entregou os celulares e trouxe as três cadeiras.

-Agora não preciso dizer que vocês se sentarão nelas, Henry, amarre-as com essas cordas - Deus tirava de sua mochila - E depois eu te amarrarei.

-É preciso isso?

-Questiona minhas ordens?

-Não, mas elas estão sujas de sangue…

-É porque foram aproveitadas de outro rolê…

Henry amarrou as mulheres nas cadeiras e sentou.

-Você as amarrou direito?

-Sim

-Eu vou conferir e está valendo uma bala na cabeça de Selma.

-Pode conferir!

Deus conferiu e viu que Henry havia feito o trabalho correto, pegou o restante das cordas e amarrou o médico.

-Bem, estamos todos prontos e estou excitadíssimo para ver o resultado dessa terapia, vocês não? - Silêncio - Imaginei que não responderiam assim - Deus pega uma machadinha de sua mochila - Foi um presente especial de uma amiga, sabiam? - Finca na canela de Henry que urra de dor.

-Uma colega minha, disse que é antigo usar esse instrumento, mas eu gosto ainda do grito de desespero que ela traz da vítima, vocês estão excitados?

-Sim - responderam com extremo medo - É assim que gosto!

III

-O que você vai fazer com a gente? - Selma começava a chorar

-Ó meu deuso, num chora! - Deus passava a mão em seu rosto - Se você cooperar e for sincera, nada vai te acontecer.

-Por que está fazendo isso? - Henry também chorava - O que fizemos pra você?

-Ainda é muito cedo para saber o plano de Deus, não acha? Vamos começar - Deus pegou uma agenda de capa amarela - Nossa, tinha esquecido de anotações perturbadoras neste caderno, e olha que nem são minhas. Quem quer ser o primeiro?

Ninguém se prontificou, só os murmúrios de medo.

-Vocês estão dificultando - Deus pegou uma chave de roda de sua mochila - Vamos ver na cabeça de quem eu vou acertar, já sei, Alina! - Deus levantou a chave de roda para sentar na cabeça da garota.

-Eu começo! - Disse a menina chorando - Eu falo.

Deus se acalmou: - Prossiga!

-Eu detesto estudar no colégio Batista, eu detesto aquele lugar e eu não quero a vida de vocês pra mim!

-Hmm muito bom, começou bem, apesar de que isso não é nem um terço do que você tem escondido, não é?

-Eu quero começar assim.

-É justo, e então pai e mãe têm algo a dizer?

-Filha, não se sinta pressionada por medo, não diga o que não quer…

-Como é? Vocês acham que a filha de vocês disse isso só por mero capricho? Vocês não levaram em consideração de que ela disse a verdade? Alina, você mentiu?

-Eu não menti

-Certeza? Pois se você mentiu, Tudo bem, inclusive liberto você agora

-Não! É verdade! Eu odeio tudo isso!

-Mas minha filha, damos tudo o que não tivemos para você e é assim que você se sente?

-Boa, senhora Selma! Ponto pra você, esse o questionamento que todo pai se faz, mas você se questionou se o seu tudo é nada pra ela?

-Como assim? Isso é ingratidão!

-Perdeu pontos, ingratidão é quando alguém te pede algo e depois não é grata, quando você faz algo por alguém e essa pessoa é forçada a fazer se chama doutrinação!

-Se chama bem estar!

-Quer a verdade? Os filhos cagam para esse bem estar, vocês os podam a partir de seus traumas, achando que os estão suprindo e aí eles seguem dois caminhos, o primeiro é ser alguém completamente passível de "bullying" e o segundo é se rebelar contra os pais. Sabe por que? Porquê você os impede de refletir sobre quem são perante a sociedade e quão seu comportamento vai interferir…

-Isso é besteira! Você quer ensinar sobre a criação da minha filha?

-Isso não é besteira, isso é "Chomsky" - Disse Henry enquanto recuperava a consciência.

-Ponto para você! Achei que tinha desistido

-Você disse algo conexo, criamos nossos filhos para impedir que eles passem por nossos traumas, mas isso os impede de criar os próprios questionamentos

-Que bom que disse algo verdadeiro, Henry. Bom, quem é o próximo? Lembrando que a chave de roda agora vale na cabeça da Selma. Vou contar até 3

-Eu! - Disse Henry - Eu preciso falar sobre a "TCC"

-Estou começando a gostar.

-Eu pratico a terapia comportamental cognitiva quando não sei o que fazer com o paciente - Deus deu um sorriso - É algo que está na moda e o que fazemos é descobrir seus traumas e aliviarmos a dor.

-Como é?

- O ser Humano busca ajuda, e qualquer coisa que falamos se torna um alívio para quem quer se tratar

-Entāo você acha certo cavar o trauma na pessoa e fazer isso ser mascarado?

-Isso as ajuda, do contrário o conselho não aprovaria! Eu não faço nada errado.

-As pessoas precisam enfrentar seus traumas!

-As pessoas não sabem lidar com seus traumas!

-Porque vocês se baseiam em quem tem a doença, mas vocês nunca tiveram!

-Acha que eu nunca tive um trauma, Deus?

-Acho que todos vocês têm traumas, e escondem da maneira mais sórdida possível! Como bater punheta pensando na secretaria no intervalo de uma consulta ou outra…

-Henry, do que ele está falando?

-Selma, cala a sua boca que é a vez dele…

-Bater punheta? Seu nojento!

-Se você abrir a boca mais uma vez, essa chave de rodas será sua dentadura, entendeu?

Selma acenou que sim.

-Continue Henry.

-É isso, eu realmente bati não uma, mas umas 4 punhetas pra Sheila! Meus Deus, minha filha escutando isso…

-Se você soubesse…

-Ó quê?

-Ó que nada, foi só isso mesmo que aconteceu, Henry?

-Claro que sim, me desculpa, Selma..

-Alina, o sal está em que parte da cozinha?

-Acho que você deve procurar sozinho!

-E eu acho que você vai ficar órfã - Deus pega a chave de rodas e da na costela de Selma que quase desmaia de dor - Alina, onde fica a droga do sal?

-Fica em cima do fogão! - A garota chorava

-Não chore DarkAngel, você já aguentou coisas piores…mostra os pulsos a eles!

-Não!

-Não? - Deus deixava a chave de rodas pegava o estilete - Minha primeira ex me mostrou que isso arranca sangue, vou tentar no seu pai…

Alina então sem jeito mostra os braços cortados com navalhas

-Que vergonha doutor Henry, você tratando pacientes e o maior deles está aqui…

-Eu não posso tratá-la! Ela é minha filha!

-Mas bater uma punheta no trabalho você pôde, tem certeza que foi só isso? - Deus se encaminhava a cozinha - Vai pensando, Henry.

-Amor, Como está sua ferida?

-Estou bem, Selma…

-É Selma ele está bem - Dizia Deus com uma seringa com um líquido branco.

-O que é isso? - Perguntou a mulher

-Isso meu amor, é o soro da libertação, se seu marido estiver falando a mentira ele morre e se ele estiver falando a verdade ele vive, então, Henry. O que aconteceu entre você e sua secretária?

Henry viu que Deus preparou uma solução salina e aquilo em sua veia seria mortal.

-Está bem! Eu transei com a Sheila! Eu comi minha secretária! Está feliz?

-Como você comeu ela?

-Você só pode estar brincando..

-Estou, e o bom é que quando esse soro for injetado em sua mulher, você não precisará contar.

-Ela precisava de um estágio assinado, e eu não poderia assinar pelo curso dela, e eu caí em tentação, droga!

-Eu perguntei como e não o porquê! - Deus segurava o braço de Selma para injetar

-Ela estava de saia, e camisa social e ela me pediu ajuda, sua calcinha apareceu e eu fiquei de pau duro, encostei nela para ajudar e aí aconteceu…Porra!

-Fala baixo, seu arrombado! Aconteceu o que?

-Eu transei com ela gostoso, aquela garota de 22 anos me fez gozar pra caralho! Satisfeito? - Henry estava ofegante

-Eu? Claro que estou, a verdade é libertadora, não acha, Selma? - A mulher não podia acreditar no que ouvira de seu marido - Não faça essa carinha de Santa Selma, pois você tem muito a contar.

IV

-O grande problema do homem é achar que conhece como tudo funciona, aqui temos um médico que em teoria disse que o ser humano era capaz de controlar seus instintos, mas estava vivendo tudo isso porque preferiu ficar vivo, porque agiu pelo instinto de sobrevivência. O que acha de tudo isso Selma? Consegue perdoar o Henry por fazer vocês passarem por isso? Consegue perdoá-lo por transar com a Sheila?

Selma balançava a cabeça dizendo que sim enquanto chorava

-Olha Henry, pra essa mulher ter te perdoado, ela deve te amar muito! Perdoar uma traição com uma jovem de 22 anos? E colocar a vida em risco? Se não é amor, tem coisa errada aí também. O que acha Alina? Sua mãe é santa?

-Nenhum de nós somos santos!

-Vocês deveriam ter vergonha! A filha de 16 anos é a mais sincera e conectada aqui, estamos esperando você, Selma.

-Vai pro inferno, seu doente!

-Ah, eu vou - Deus caminha até sua mochila e pega um martelo e um pedaço de pano, enfia o pano na boca de Alina - Vou com prazer! - Deus martela o joelho esquerdo da garota que grita abafadamente.

-Seu monstro! Ela é uma criança! - falava Henry - Ela é só uma criança! - Soluço

-Criança? Isso é cada vez melhor…- O rapaz acendeu um cigarro - Então Selma, é amor ou rancor?

-Eu amava meu marido! E cada escolha que fiz pra tentar salvar esse casamento que estava indo ladeira abaixo!

-Amava? Temos nossa revelação, o que fez você deixar de amá-lo? A Sheila? A prepotência? Ou o gostosão da academia?

-Selma…-Henry estava com a voz fraca

-Me desculpa, amor, mas não aguentava mais os nossos problemas. A falta de comunicação verdadeira, a barreira criada por nós nesses dezesseis anos de casados, mal nos importamos com nossa filha - Selma, olhou para Alina -Eu queria ter dado mais atenção para você…

-Incrível! Muito bem, estão vendo? Esse não é o consciente da Selma falando, isso foi o instinto dela, como ela sabe que está perto de morrer, o subconsciente dela projetou uma redenção para que ela possa ir sem culpa.

-Eu disse isso de coração!

-E ninguém disse ao contrário, mas então porque não disse isso em um dia normal? E porque não conta sobre sua atividade filantrópica pós clínica?

-Atividade filantrópica?

-Henry, sabia que sua mulher gosta de fazer fisioterapia peniana com o instrutor da academia?

-Cale a boca!

-Como é? - Deus pegou o martelo, e alisou na têmpora de Selma - Não me mande calar a boca - Um sorriso de maldade foi dado ao ver o desespero da mulher.

-Mãe, por favor, continue.

-É, Selma, toda nossa família quer ouvir sua história de adultério - Deus andava de um lado para o outro.

-Está bem - Selma respirou - Há 2 anos eu conheci Jefferson

-Dois anos, Selma?

-Fica quieto, Henry, não é sua vez. Continue.

-Eu estava cansada das discussões sem cabimento que eu e o Henry tínhamos. Jefferson foi solícito comigo, me ajudava nos exercícios, conversava sobre nossos filhos e alguns meses depois saímos para jantar. Eu tinha em Jefferson tudo que eu não tinha em Henry, atenção, carinho, cumplicidade. Quando me dei conta eu já estava em um relacionamento extraconjugal há 6 meses e eu me sentia culpada por trair meu marido e quando voltamos da viagem em família há 3 meses, eu iria terminar com Jefferson, mas quando voltamos eu descobri que ele havia ido embora para Fortaleza e nem se quer mandou uma mensagem se despedindo - Selma estava chorando - E eu me senti usada, e traída…Eu só queria me sentir amada de novo

-Mas, Selma. Eu sempre te amei! Eu sei que caímos em rotinas, mas nessa viagem nós fomos tão felizes…

-Eu sei, e por isso eu iria terminar com Jefferson…

-Mas não aceitou que ele terminasse primeiro - Deus continuou - O que é perfeitamente normal no ser humano, não queremos ser quem apanha, mas sim quem bate.

-Do que você está falando? Isso não tem nada haver…

-Quer dissertar e explicar para sua esposa, Henry?

-Baseado em Skinner, as ações e reações são constatadas a base de estímulos que resultam no ambiente, o comportamento muda a partir da alteração deste. No caso você iria ter a ação, mas tomou a reação, a grosso modo, você não aceitou a consequência porque você não teve a ação.

-Nada mais do que o reflexo com a correlação entre estímulos e respostas. É como pessoas que tem a necessidade de se auto afirmar falando mau de alguém, essa pessoa na verdade é a destruída, a vítima da reação, e de alguma forma ela busca nessa atitude a forma de ter a ação e recuperar o controle, mesmo que normalmente seja uma vergonha alheia, esse comportamento é incentivado por imbecis que tem medo de dizer a verdade e batem palmas.

-Onde você quer chegar com isso?

-A pergunta certa é, onde um psiquiatra e um psicólogo podem fazer uma pessoa chegar. Se uma pessoa como Selma procurasse ajuda há um profissional correto, sem balela de TCC ou outras "formas de abordagens" ela não precisaria mentir para si mesma, ela poderia entender que somos falhos e limitados e que a culpa não leva a nada! Ela te traiu por carência, por se sentir inútil e você Henry? Por uma saia e blusinha social, você pode dizer o blá blá blá do relacionamento, mas verdade é que poderia ser o melhor do mundo, você transaria com Sheila de qualquer forma, isso é instinto e você usaria alguma mentira para maquiar essa ação.

-Você está dizendo que eu não respeito a minha esposa?

-Estou dizendo que você é "macho" e não se sinta culpado por isso, as mulheres gostam disso, homens que raciocinam e ponderam antes de enfiar o pênis em algum lugar, são postos em cheque, como inseguros, sem atitudes e fracos…

-Último romântico - disse Alina, dando um sorriso sarcástico.

-Não use esse termo chulo - Disse Deus se aproximando, possesso - Esse termo é estúpido, usado por vagabundas e vagabundos que se relacionam com lixos por simples caprichos de se sentirem desejados!

-Nossa, parece que eu peguei na ferida de alguém.

Deus olhou para cima, passou a mão no rosto, segurou o martelo e disse: - Eu deveria te dar uma martelada, mas o seu tá guardado, Alina. E você está certa, não posso te penalizar por dizer a verdade.

-Entāo você concorda que minha tese está certa, Deus? Você consegue controlar seus instintos..

-Henry, vai toma no seu cu, se eu controlasse meus instintos você acha que eu estaria com um martelo na mão torturando uma família inteira? Eu lutei contra meus instintos, você acha que eu não queria ser como os outros? Eu tenho inveja de pessoas assim! Por isso eu as julgo tanto e as odeio tanto, porque quanto menos você pensa, mais feliz você é. E isso é inadmissível!

-O seu jeito de andar, essa mão esquerda incessante mexendo, está claro o seu transtorno de ansiedade generalizada, é isso…

-Cala a boca, cala essa maldita boca! Agora você se importa? Precisou estar lutando pela vida pra fingir que se importa!

-Agora? Como assim?

-Desde quando eu virei a vítima nessa merda? - Deus pega o pano, põe na boca de Henry e dá-lhe uma martelada na clavícula.

-Por favor, pare! - Dizia Selma

-É só eu afrouxar um pouco e vocês põe as

asinhas de fora - Deus se sentou - Tem cerveja?

-Na geladeira

-Posso pegar uma?

-Que pergunta é essa?

-Eu tenho educação, caralho!

-Pode…

Deus se levantou do sofá, abriu a geladeira e viu umas garrafas de cervejas artesanais: - Cerveja de homem não tem?

-Isso é cerveja IPA, importada

-É cerveja de churrasqueiro corno, pois bem - Deus abriu uma garrafa e voltou a sentar no sofá - Bom, espero que estejam preparados, pois o clima ficará bem tenso a partir de agora.

V

Deus estava mexendo em seu celular, parecia conversar com alguém, sua calma e o silêncio fez com que Selma perguntasse: - Como você pode ser tão sádico? Como pode gostar disso?

-Acha que eu gosto disso? - Deus parou de digitar - Eu não sinto prazer nenhum nisso

-Entāo porque está fazendo isso?

-É porque ele é um maldito psicopata - Respondeu Henry.

-Discorre, Henry, Classifique-me. Quero fontes sobre seu discurso, ou não passará de coisas de sua cabeça, como seus chifres - risada sarcástica.

-Segundo Karl Schneider existem 10 tipos de psicopatias e você se encaixa e pelo menos 3. Hipertímico, Depressivo e fanático. Você possui dificuldade em seguir normas, manipulador só pra mostrar que está certo, você tem dificuldades de falar o que sente, possui irritabilidade, com tudo deve ser irresponsável no trabalho e na vida social e deve ter a sensação de onipotência, por isso quer ser chamado de "Deus"

-Caramba, tudo isso decifrado em apenas três horas comigo? Acho que todos os pacientes deveriam fazer isso com seus médicos para conseguirem seus diagnósticos rápidos e eficazes - Deus chega perto da filha do casal - você concorda com seu pai, Alina?

-Ele é o médico, eu nem te conheço, pra mim você só é um louco.

-Ah, agora eu sou louco? Minha querida DarkAngel…

-O que está acontecendo, porque ele está te perguntando isso, Alina?

-Eu não sei!

-Não sabe? Acho que está na hora de mostrar um vídeo para seus pais, sabe, ilustrar o quero dizer…

-Você está blefando

-Alina, falta muito em você ainda - Deus mostra de seu celular um vídeo de sexo amador - Seu pai vai amar.

-Não faz isso, por favor, eu te imploro!

-Mas que merda está acontecendo aqui? - Henry elevou a voz

-Fala baixo se não quiser levar outra martelada, velho do caralho!

Deus se aproxima de Henry com o vídeo: - Olha bem com atenção "papai". No video mostrava uma garota sendo penetrada de quatro enquanto praticava sexo oral em outro rapaz

-Ah, Meu Deus! - Henry começa a dizer desesperado - Meu Deus, Meu Deus!

No vídeo a garota dizia a mesma coisa "Meu Deus, meu deus" enquanto era fodida e segurava o Pênis do outro rapaz.

-Meu Deus, meu deus! Está parecendo a sua filha na cama - Deus dava risadas

-Seu pedófilo! - Henry estava aumentando a voz - Seu monstro!

Deus dá-lhe um soco na cara.

-Fala baixo arrombado! E lave a sua boca antes de me chamar de pedófilo! Não fui eu quem forjou documentos para ter 20 anos, não fui eu que sugeri um ménage dentro de uma casa de entretenimento para a adultos, não foi nem eu que pediu pra filmar…

-Alina…

-Seu tem um mostro aqui, esse monstro é sua filha, e foi criado por você, seu riquinho de merda! Vocês são a típica família tradicional, pregam um valor mentiroso e provam isso em suas traições, e enquanto se preocupam em demonstrar esse valores, não percebem que a filha virou uma putinha, e bem safada!

-Cala a boca! - Selma respondeu, a mulher estava em lágrimas.

-Cala a boca? Doi não é? Eu não te julgo, sua filha com dezesseis anos fazendo um "menajāo" delicioso e você se apaixonou por um instrutor de academia…

-Eu vou te matar!

- Vai o que? Você não ia me ajudar? Agora que viu um vídeo de dois caras comendo a sua filha, você quer me matar? - Deus deu um sorriso de canto de rosto - Nessa parte do vídeo é bem legal, ao fundo está tocando "Moloko - Fun for me" Veja como sua filha rebola ao som - Henry tentava desviar o olhar, mas Deus segurou sua cabeça - "Fun for me" foi o que você disse não foi, Alina? Isso é diversão pra mim…

Alina permanecia quieta com a cabeça baixa, o silêncio tomou conta do local por alguns segundos e junto com a música se ouvia os gemidos da garota.

-Filha…

-É isso mesmo pai! Eu gosto disso mesmo! Eu tenho um RG falso e quando vocês dois saem eu também saio para transar com homens que me acham na internet.

Deus arregalou os olhos enquanto dava um gole em sua cerveja…

-A cada vez que transo, eu me sinto livre! A homem e a cada mulher que me relaciono me dá sensação de liberdade - continuava, Alina.

-Nós sempre te demos de tudo…

-De tudo o que vocês queriam, e o tudo que eu queria? O tudo de vocês para mim é nada - Alina chorava - Eu queria sair com minhas amigas, fazer o que qualquer pessoa faz, mas vocês planejaram até o meu futuro! Então eu escolhi isso, foi o que me sobrou a escolher!

-Nos desculpe…Nós achávamos que estávamos fazendo o melhor.

-Esse é o problema dos pais - Quem falava era Deus - Quando você não dá escolhas aos seus filhos, quando você acha que só bens materiais são suficientes, os filhos buscarão escolhas…

VI

-Quando eu conheci Alina, eu reparei numa semelhança com o doutor Henry Luchesi. Eu não tinha certeza. Foi quando a DarkAngel foi ao banheiro cheirar uma carreira e eu olhei seus documentos e lá estava escrito "Alina Albuquerque Luchesi" Eu não podia acreditar que um parente do cara que me fodeu há 12 anos estava lá, mas eu precisava ter certeza de que era isso mesmo…

Então eu comecei a segui-la e descobri que uma garota de 20 anos não poderia estar na escola, ainda. Quando seu pai foi buscá-la, eu tive a certeza que era Henry Luchesi, mas ainda precisava saber mais…

-Seu maldito….

-Cala boca que eu tô contando a história, seu lixo - Deus uma coronhada em Henry - Não aprendeu que não se interrompe Deus? Como estava dizendo, eu os segui até aqui e vi que vocês eram uma família muito feliz aparentemente, então decidi investigar cada um de vocês e quantas atrocidades. Nenhuma família é perfeita, mas vocês estiveram de parabéns.

-O que você fará com a gente?

-Eu? Nada mais - Deus agachou, segurou o rosto de Henry - Existem muitas pessoas que procuram ajuda antes de se tornarem "Deus" Algumas delas estão em nossa vida, não as deixe virarem Deus, porque isso dói e vocês sentiram essa dor hoje.

Deus se levantou…

-Eu vou embora, vocês se viram para se soltarem, mas se forem gritar esperem 10 minutos, pois se eu ouvir algo, eu volto aqui e mato um por um, vocês têm uma segunda chance, não desperdicem.

Deus guardou seus "brinquedos" na mochila, colocou-a nas costas e foi embora….

2 anos depois…

Duas garotas conversam em um bar

-Alina, você é maravilhosa, logo meu amigo vai chegar, você vai amá-lo!

-Jéssica, Jéssica…Quem é esse rapaz?

Um homem adentra por trás de Alina…

-Ele chegou! - O rapaz abraça Jéssica e olha para a Alina.

-Deus…

-Deus? Esse é Dico, tenho ele como minha Sombra…

-Alina, quanto tempo. Como vão seus pais?

Tato Ferrarezi
Enviado por Tato Ferrarezi em 25/02/2024
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