O CASAMENTO

Eu não aguentava aquele sufoco do apartamento do meu marido, todos aqueles objetos me assombravam desde que se tornou local de torturas físicas. "– Que Vida boa terá com um marido juiz bonitão" diziam as pessoas que enxergavam esse casamento perfeito em vez de verem a farsa dos rostos bonitos do casal.

O casamento da minha irmã Agatha alegroua todos, em especial, a mim. Ela estava linda tal qual uma boneca de porcelana com seus cachos dourados. Ao vê-la, vindo em minha direção, acompanhada de um jovem belíssimo como um galã de filme, meu coração disparou. Após apresentar-me o amigo, conversamos e nos apaixonamos como adolescentes rebeldes.

Juntos, ficamos por dez anos como um sonho de conto de fadas até que, em uma noite de domingo, ele chegou bêbado em casa. Perguntei-lhe o que tinha acontecido e a sua resposta veio com uma mudança radical de temperamento. Socou-me o rosto com violência. Pega de surpresa, caí. Tomada de medo e desesperada, não movimentei um braço sequer. Mesmo assim, puxou-me pelos cabelos, levando-me ao nosso quarto, onde me torturou até o dia amanhecer.

O homem carinhoso e amoroso que me amava e me recebia com beijos gentis, morreu, nascendo um monstro agressor que espancava a esposa, diariamente, tendo como suporte seus devaneios mentais e emocionais. As dores eram ignoradas pelo sadismo da tortura, o amor, que eu acreditava ser verdadeiro e que duraria para sempre, foi mostrando a sua face, embora, meu desejo de ser amada, permanecesse, por mais que meu marido me machucasse.

Em uma manhã, resolvi pedir ajuda à Agatha, minha irmã. Ela, ao tomar conhecimento do que estava acontecendo, sugeriu que o denunciasse e lhe deixasse imediatamente. Ainda que receosa, atendeu os conselhos da irmã.

Meses depois, voltei a Cursar Direito e, hoje, sou juíza e luto para que as mulheres sejam respeitadas. Sou uma voz de milhares de vítimas!