- V - 

Mike

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Capítulo III:  Bruno conhece Charles, que aparentemente teria ou capacidades psicocinéticas ou seria atordoado por um poltergeist.

Capítulo IV: Manifestação de Uriel, Bruno é tomado por visões do anjo. Uriel promete voltar para fazer algo e fala que eles são seus escolhidos.

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Ah, que maravilha! Nada poderia ser tão bom assim: sentado à beira-mar, os pés enterrados na areia, sentindo o leve toque das ondas do mar na ponta dos meus dedos. Ao meu lado, uma mesinha com uma cerveja trincando de gelada. Sol a pleno, céu sem nuvens e pessoas maravilhosamente saudáveis a desfilar sua beleza de um lado para o outro da praia. Biquínis a ornamentar as carnes e crianças a brincar na areia.

 

Agradeci a Deus por tudo aquilo. Não havia como ficar melhor. Falei com o garçom para trazer uma porção de caranguejo com pirão, para matar a minha vontade. Ele respondeu que em dez minutos ficaria pronto.

 

Para não perder tempo, levantei da cadeira e fui mergulhar. A água estava fria, refrescante, mas, ao me levantar e retirar o excesso de água salgada dos olhos, tive uma visão horripilante...

 

Tritões, seres híbridos de homem e peixe, ou melhor, peixes antropomórficos, com olhos esbugalhados e bocarras escancaradas cheias de dentes saiam do mar em disparada para a praia. O céu se tornara coberto de nuvens de tons vermelho vinho, e poderia jurar ver uma enorme serpente, algo mais parecido com um dragão oriental a serpentear acima delas. Buracos semitransparentes rasgavam a realidade, e de lá saíam seres lodosos, cheios de tentáculos, pequenas formas semitransparentes, que pareciam uma mistura de água viva com polvos, flutuavam e se agarravam às cabeças das pessoas, que, por incrível que pareça, não percebiam aquela invasão macabra.

 

Corri e saí avisando a todos. “Saiam, corram, busquem abrigo!” Quando, de repente, sou acertado em cheio por um tridente erguido por um dos tritões.

 

* * *

 

Acordei atordoado, ensopado de suor. Graças à Deus aquilo foi apenas um pesadelo! Olhei para o lado e, para a minha surpresa, Artemísia estava olhando para mim, em pé, ao lado da minha cama. Ela usava um vestido esvoaçante branco, parecia uma pintura neoclássica de uma ninfa greco-romana. Olhei sem entender nada e perguntei o que ela estaria fazendo ali.

 

Ela apenas sorriu e me estendeu a mão.

 

O mais engraçado de tudo foi que eu simplesmente estendi o braço e a peguei, como se fosse um convite irresistivelmente gentil. Num piscar de olhos, ela me levou para um local completamente branco, sumindo logo em seguida.

 

Lá, só estávamos eu e Mike, seu rosto negro, sério, com seu corpo musculoso coberto por um uniforme militar me encarava. Fiquei assustado, afinal, o que estava acontecendo ali?

 

Mike falou diretamente com a minha mente:

 

- Calma, Bruno, você está em um local seguro.

 

- Estou sonhando novamente?

 

- Quase isso, latu sensu sim. Pois seu corpo físico está adormecido. Mas estritamente falando não. Isso agora é um desdobramento astral ou viagem astral. Escolha chamar como queira, pois há várias denominações para isso.

 

- Onde eu estou agora, exatamente?

 

- Bem, falando no sentido de geolocalização você está na nossa sala de reunião, onde nos reunimos a primeira vez, lembra? Mas tive que criar uma bolha de proteção.

 

- Entendi, mas o que você quer de mim?

 

- Quero que entenda e aprenda um pouco mais, logo a frente esses conhecimentos serão bastante úteis.

 

Olhei para o braço dele e vi que havia estampada não a bandeira brasileira, mas sim a norte-americana. Apontei e perguntei, o que significa isso?

 

Ele olhou para mim, percebia que eu estava querendo acessar mais do que poderia da sua mente, mas toda vez que eu tentava ver a fundo, só surgiam imagens aleatórias de patinhos de borracha, bola de praia, gatinhos e coisas do tipo. Até que, enfim, entendi que ele só iria me dizer o que ele quisesse que eu soubesse.

 

- Eu participei do projeto de soldado psíquico dos Estados Unidos. Mas fui dispensado logo depois de um problema que finalizou o projeto prematuramente.

 

-Que lance é esse de soldado psíquico?

 

- Olha garoto, há muito mais coisa acontecendo por aí do que você imagina. Quando a sua consciência sai do corpo em uma viagem astral, ela tem acesso a muito mais coisa do que o corpo físico teria. Daí os russos começaram a usar isso como uma forma de espionagem. Só depois de muito tempo, quando capturamos um russo que era um soldado psíquico foi que iniciamos o projeto e corremos atrás do prejuízo.

 

No meu caso, eu não era um agente de espionagem, mas sim de proteção de lugares e informações. Sou capaz de ocultar e suprimir capacidades psíquicas alheias, não que isso seja fácil. Pois consome muito fisicamente.

 

O desdobramento astral é algo que todo o ser vivo com um mínimo de complexidade neural faz, mas a consciência de desse processo é algo raro. Muitos confundem com sonho ou algo do tipo. A mente racional prefere caracterizar como um mero sonho, até mesmo para evitar exteriorizar e a pessoa ser alvo de críticas ou galhofas.

 

- E aquele sonho que eu acabei de ter, daqueles seres estranhos vindo dominar a terra?

 

- Bem, a mente, quando em desdobramento, pode ir a locais e linhas temporais que o corpo físico não tem acesso. O que você viu foi um futuro alternativo, ou melhor, possível.

 

- Possível? Aqueles serem podem invadir a cidade a qualquer momento então?! – Meu medo me fez chicotear por entre as paredes brancas como um boneco de borracha.

 

- Calma, você está seguro aqui. Você precisa estar consciente de que o seu medo faz com que seu corpo libere adrenalina, puxando seu corpo psíquico de volta – e após uma breve pausa, continuou. - Voltando a questão da invasão. Até onde entendi pelo que Uriel me falou, a Terra e toda a sua pisco-esfera está passando por uma fase de transição em que seres intraterrenos e extraterrenos estão tendo cada vez mais acesso aos seres humanos para ajudar no processo. O problema é que são muitas raças e interesses diversos que têm conceitos diferentes de “ajudar”, se é que você me entende.

 

- São todos maus, então?

 

- São diferentes. Cada um com os seus interesses. Durante essa transição, muita coisa pode acontecer, mas enfim, agora são entidades e arquétipos dos humanos e de outras raças que agora temos que lidar. Entende?

 

- E o que eu tenho haver com isso tudo?

 

- Você tem habilidades que precisam ser adestradas, treinadas, para melhor lidar com essa transição e poder nos ajudar. Até porque, eles já sabem de você e de suas habilidades. Não vai demorar nada até você ser assediado pelos seus emissários. Vai por mim, é melhor estar conosco do que sozinho quando isso acontecer.

 

- Isso é uma ameaça? – Encarei-o seriamente?

 

- Não meu caro, isso é apenas um aviso. Se achar melhor, um conselho.

 

Um misto de preocupação e raiva me subiu à cabeça por um instante. Cerrei meu punho, quando, repentinamente, acordei socando o ar.

 

Os raios de sol começavam a invadir por entre as frestas da cortina no meu apartamento. Olhei ao redor para ver se encontrava algo ou alguém fora do comum. Graças a Deus, agora estava de volta a realidade.

 

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Observação: Imagem gerada por Inteligência Artificial. Essa pessoa não existe, embora possa probabilisticamente se parecer com alguém real.

 

Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 07/12/2023
Reeditado em 03/04/2024
Código do texto: T7948874
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