Diário de Agripino
— Boa noite – disse Agripino – pode ficar na cozinha fumando, já estou acostumado com o cheiro.
Agripino então se deitou e logo caiu no sono. Eu ia fumar, mas esqueci meu isqueiro. Supus que ele tivesse um isqueiro na sua bancada, já que fazia desenhos com giz de cera.
Entrei no seu quarto no maior cuidado e comecei a procurar. Na segunda gaveta encontrei o item, mas também um pequeno caderno de couro.
Imaginei que fosse um caderno de desenhos, então junto ao isqueiro levei para a cozinha.
Acendi um cigarro e então abri o caderno. As páginas estavam todas em branco. Fui folheando página por página sem encontrar nada.
Após alguns instantes folheando uma bituca caiu em cima da folha em branco. “Fodeu!”, pensei enquanto tentava limpar a folha.
Porém, enquanto eu limpava percebi que onde caiu a bituca surgiu uma letra, ofuscada pela cinza. Nesse momento tive um estalo na cabeça: voltei para a primeira página e acendi o isqueiro.
Passei linha por linha e um texto ia se revelando. No início parecia apenas um texto estranho, mas conforme passava as páginas aquilo ficava mais macabro. O calor no dedo contrastava com o frio na espinha.
“Agora tudo faz sentido!” pensei fechando o caderno.
Liguei para a polícia, que após alguns minutos chegaram à residência de Agripino. Atendi eles e mostrei o caderno. Eles leram o suficiente para levar Agripino.
Um policial foi até seu quarto, acordou-o e disse:
— Você vem comigo, tem provas de que você cometeu violência doméstica e assassinato.
Agripino então foi algemado e saiu de pijama mesmo.
Bem que achei estranho sua esposa desaparecer. Ela nunca abandonaria Agripino, mesmo ele a maltratando.
Fiquei assustado e voltei para casa nessa mesma madrugada. Tentei dormir, mas aquele diário me deixou traumatizado.