sucesso

Dizem que todos têm um preço nas suas variadas formas. Ron também tinha o seu. Ele nunca teve êxito em sua vida desde que se lembre da infância. Não era bom nos estudos, nem nos esportes, ou nos hobbies que tentasse. Resumindo, em algum ponto de sua juventude ele não se aguentou mais e tentou uma saída impulsivamente imaginativa. Uma que diziam funcionar. Começou com uma bebedeira sozinho em seu apartamento tentando dopar a frustração de mais uma demissão no seu curto currículo. Um fato sobre a indústria do entretenimento desde o teatro mais pobre do seu município até Hollywood, é que sempre vai existir alguém melhor do que você, logo atrás, esperando a chance de tomar o seu lugar. Depois da segunda garrafa de vinho ele já não tinha mais discernimento mas, por alguma razão do além, imaginou se fazer um pacto satânico o ajudaria ou se nem nisso teria sucesso. Ele procurou na internet. Blogs. Fóruns. E encontrou um ao seu alcance com alguém anônimo que o guiou nos passos que deveria fazer. A data do dia seguinte seria perfeita, numa sexta-feira 13.

Ron empilhou as velas usadas com um marcador colorido que eram o único oferecimento que precisaria além do seu sangue no ato e se dirigiu obstinado rumo a encruzilhada que ficava vazia naquele horário da madrugada. Devia ser dentro das 3h. Não havia uma alma além da dele no cujo local a ser oferecida. Só os grilos e as cigarras eram testemunhas. Ansioso e trêmulo, ante a repensar se devia prosseguir, Ron se pôs a desenhar com a ajuda da lanterna do celular um pentagrama no asfalto com o melhor que pôde. Pôs as velas desgastadas nas pontas laterais, as acendeu, a ventania rasa afobava as chamas com a escuridão densa. Apanhou um canivete do bolso e impulsivamente cortou a palma da outra mão, focando em respingar no centro do pentagrama. Ron já estava a ponto de se arrepender quando ouviu um sibilar de passos no gramado em suas costas. Se ergueu abrupto, e avistou a uma figura feminina vestida de branco, e amedrontado se decaiu quase sobre o pentagrama. Tentou centralizar a luz e vislumbrou uma bela jovem, esbranquiçada, de longos cabelos negros lisos, trajando um vestido médio até os joelhos. Estava meramente risonha o fitando como a uma caça. Ron não conseguia se mover mas a jovem avançou com passos retraídos e a pose tímida com os braços para trás. Dizem que o Diabo também se figura numa aparência bela. Antes que Ron conseguisse se rastejar para longe, a jovem avançou-se corrida contra ele e Ron só pôde vislumbrar o brilho de um punhal que ela desferia contra a sua garganta já montada sobre ele. Mais uma. E outra no outro lado. Ron não podia se mover mais. Só pôde enxergar que aquela jovem não parecia mais pueril com o seu sangue a manchando e escorrendo pelo o seu franzino rosto e cabelos negros. De repente a sua visão se tornava tão escura quanto. Não demorou até escurecer, e como piche, a sua alma ser devorada deslizando pentagrama abaixo. A jovem apanhou o celular de Ron ao lado com a poça do seu sangue quase o alcançando. Vasculhou pelo o menu. Pelo o histórico. Até encontrar aquele fórum aonde Ron a encontrou no dia anterior. Apagou os seus rastros no bate-papo com os de Ron por fim. Deletou o trojan escondido no celular de Ron com o qual o rastreou. Enfim, se reergueu calmamente e serenamente retornou por onde viera.

No ano seguinte, aquele franzino rosto seria uma das novas promessas de Hollywood, em sua primeira premiação sendo concorrida e na qual venceria, usando no red carpet um vestido branco recriando o daquela noite na qual selou o seu próprio contrato com o Diabo sobre aquela poça vermelha com tinta sanguinolenta.

ilLoham
Enviado por ilLoham em 08/11/2023
Reeditado em 20/09/2024
Código do texto: T7927110
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