A noiva
O ano era 1948, numa noite de profunda melancolia, as sombras estavam impregnadas de tristeza no bairro da Barra, na praia de Camboriú, quando a jovem Genoveva, uma inocência de 18 anos estava prestes a ser consumida pelas chamas de um casamento maldito com seu amado Eustáquio Campos. O enlace, como uma sentença de morte, aguardava com ansiedade o próximo sábado, dia 31 de julho. O cenário era uma forja de pesadelos, como se o próprio abismo sussurrasse prenúncios de tormento. Era no glacial julho da casa rasa do lar sobre o chão que refletia um dia de muita expectativa, ansiosa pelo sol, buscava sacar daqueles dias que escutavam a dor esmagadora das saudades múltiplas que na vida o coração sente, e que ela sentia um aperto n’alma que parecia prever seu funesto futuro.
Mas, o destino, um carrasco impiedoso, reservou um infortúnio que superou as piores armadilhas dos horrores. No dia do casamento, um golpe traiçoeiro e devastador atingiu Genoveva em cheio, rasgando sua alma como uma lâmina eivada. Seu noivo, Eustáquio, o traidor, fugiu com a melhor amiga de Genoveva, Leticia, deixando-a presa nas trevas abissais da traição, como um covarde, que saiu correndo para os braços de sua amante. A dor que Genoveva experimentou foi tão intensa que seu coração sucumbiu a um ataque fulminante, levando-a da vida para a eternidade de maneira trágica.
Seu pai, movido por uma fúria demoníaca e uma sede insaciável por vingança, despachou seus jagunços em busca de vingança. Destemidos, perseguiram o traidor até um posto de gasolina em Brusque, onde com ódio implacável terminaram com as vidas do funesto casal de maneira sádica, disparando 17 tiros à queima-roupa. Os jagunços fugiram sem deixar rastros.
O enterro de Genoveva aconteceu em silêncio na tarde de domingo, no cemitério da Barra. No entanto seu pai, ainda consumido pela tristeza e a ira que ardiam dentro de si, tomou uma decisão incomum: enterrou-a com o vestido de noiva que simbolizava seus sonhos destroçados, e com um anel de diamantes que valia uma fortuna.
A história do anel se espalhou como um câncer na cidade, seduzindo a cobiça de dois ladrões destemidos. Nas trevas da noite, sob o véu da madrugada de uma segunda-feira, eles desafiaram o próprio sete pele, profanando a paz da sepultura de Genoveva. Com uma machadinha em mãos, ousaram romper as trancas do caixão. Tentaram, com desespero, retirar o anel do dedo da amaldiçoada moça, mas o destino parecia rir deles.
Num último ato de desespero, um dos ladrões cedeu à insanidade, decidindo ceifar o dedo da jovem para tomar o prêmio maldito. No entanto, o que ocorreu superou os delírios mais tenebrosos: Genoveva emergiu do sono eterno, um espectro de beleza e terror, seu grito saiu da tumba e rompeu o silêncio da noite, lançando os criminosos em uma fuga ensandecida, como se tivessem desafiado o próprio inferno.
A vida de Genoveva foi salva por um milagre transcendental. Sua história, se transformou em uma lenda amaldiçoada na cidade, um testemunho eloquente de que mesmo nos recantos mais obscuros da existência, a sombra e a luz podem dançar em um balé de pesadelos incontáveis.