PERDIDO NA RUA
Era tarde da noite, ele estava na Avenida Rio Branco, centro de Juiz de Fora, havia um silêncio na rua, nenhum carro subindo ou descendo, muito menos ônibus nas pistas centrais, ele estava sozinho, com medo, mas não tinha mais ninguém na rua, ele e Deus, acho que acreditava em Deus, se não me engano. Nesses momentos qualquer um acredita em tudo.
Andava apressado, se escondendo não sei de que ou de quem. Rua deserta àquela hora, ele corria alguns metros e parava, ainda estava com a roupa do trabalho, ficou com ela o dia todo e já era o outro dia, notou que já era madrugada, estava pensando em uma boa desculpa para dar em casa por perder a hora, como aconteceu esse deslize? Sua família devia estar preocupada, o celular estava sem bateria, verificou e não tinha mais o celular, "fui roubado!", gritou ninguém respondeu, silêncio. "Será que foram na polícia dar parte do meu sumiço?", pensava aflito.
Na esquina com a Avenida Itamar Franco deu de cara com um homem esquisito, que lhe sorriu um sorriso meio amarelo. Teve medo, procurou por sua carteira, ela também não estava no bolso, "fizeram a limpa", pensou, tinha um dinheiro nela para pagar a luz, como explicar para a sua mulher que não ia ter como pagar a conta? Continuou. Como explicar aquilo tudo se ele não sabia de nada? "Devo ter bebido além da conta e caí na rua. Que vergonha!".
Chegou no portão de casa, ninguém estava esperando por ele, a casa estava toda em silêncio, não tinha ninguém lá dentro. De repente levou um safanão e foi arrastado em direção a uma luz forte, que ficava no fim de um túnel escuro. A sua vida passou como um flash na frente dos seus olhos enquanto atravessava o túnel, viu seu primeiro e o seu último momento, tinha sido atropelado por um ônibus depois de tomar umas e outras num boteco. Então entendeu porque estava sozinho na Rio Branco. E a luz que lhe puxava com força o levou embora, nem viu o seu velório.