A casa abandonada III

Era o ano de 1901 em uma tarde quente de verão recebi uma carta da madame Isadora que havia se enforcado uma semana antes de eu receber aquela carta, detalhando seu suplicio na casa abandonada do alto da boa vista. Meu nome é comendador Rodrigo Flores um proeminente homem rico da nova elite brasileira e recém aceito na maçonaria. Com selvagem desespero na alma, abri rapidamente a memória dos meus piores pensamentos que foram sendo confirmados, como uma espessa escuridão no coração das trevas e parecia convidar-me para o inferno do maldito duque.

Decidi ir até a casa naquela tarde de domingo do mês de março deste augusto ano de 1901.

A tarde estava extraordinariamente amaldiçoada, e as frequentes tentativas de desistir, entre as lutas encarniçadas para recolher alguns vestígios daquele estado de aparente destruição, no qual a minha alma havia mergulhado, momentos houve em que eu sonhava ser afortunado; houve períodos lacônicos, bastante breves, em que evoquei a bruxaria, arrebatando e carregando, em desespero, lembranças malignas. Depois disso, evoquei a melancolia e a realidade; e, depois a loucura de uma vida que se agita entre coisas repelentes.

O agitado abalo do peito e, aos meus ouvidos, o rumor de suas pancadas. Depois, uma pausa em que tudo desaparece. Depois, novamente o som, o movimento e o tato — uma sensação formigante invadindo-me o ser ao abrir a porta da frente da casa e já são quase quatro horas da tarde, e uma voz endemoninhada parece me guiar até o inferno obscuro daquela casa que estava viva. De repente um homem de meia idade aparece em um dos quartos e me guia pelas dimensões infernais do lugar, percebi que parecia ser o duque, pois o seu sotaque português era aparente, perguntei o que ele queria e ele nada falou. Só que quanto mais caminhávamos mais a casa parecia não ter fim.

A atmosfera do lugar havia mudado e um frio arrepiante cobria meus ossos, o duque se perdeu da minha vista e comecei a ouvir suas filhas e esposa gritando por socorro, mas eu nada poderia fazer por elas, pois estou também perdido neste inferno de maldiçoes e ganancias infindáveis...

HERR DOKTOR
Enviado por HERR DOKTOR em 26/09/2023
Reeditado em 28/10/2023
Código do texto: T7894916
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