Lampejo. (miniconto)
Eu era um lampejo. O Eu vivíssimo, dominante, de não hesitar um único instante: como luz que tudo invade assim que surgida. Para se saber, anteriormente, há minutos, horas, mundos e existências, meus passos eram despassados, pois eu não ia, só seguia. Quando via que estavam à frente aqueles..., aí era que me movia. Aqueles quem, não é? Conto descontando, talvez é me livrando. Se trata de quem amo? Gentes grandes, evidente. Grandes em figura; imagine se havia quem ali fosse grande em... meu bom querer. Discro. Fato é: moí — minha alma por um triz, como as folhas na seca. Sempre me senti um nada? Eu era ou eu estava? Parece até que não vivi, não soube, estive sempre aos mandos; vê lá, você, me diz: é vida a vida de objeto? Quem só serve pra ser usado, é vivo? Tive, sim, um ímpeto. Ali estar era estranho, estrangeiro eterno deste emaranhado. Aí volto. De repente, repentíssimo, surgiu essa força. Sei lá por que pensei em Deus. Que me levantei e fui, sem caminho definido — e podia haver? Esse era eu quem faria. Como poderia haver caminho, se não conhecia o chão; conheceria as vias? Não conhecia era nada. Seria. Fui, fui, mesmo. No entanto, chegado num ponto branco, nadoso, o qual há quem batize de infinito, outros de indefinido, parei; parei o imparável. Sou uma lástima. Se foi Deus quem me levantou, deve ter sido o diabo quem me parou. Eu tremi, e, falo na maior das vergonhas, até chorei. Fiz força, sim, nada! O nada! Ouvi foi uma voz, a daqueles. Me perguntaram: "— Onde vai?", só respondi: "—A nenhum. Só tirar um ar...". E retornei... No final, era só um lampejo. Era?