Imigrante

Era o ano de 1946, Rolf embarcou em um navio rumo ao Brasil. Tinha 26 anos de idade, falava alemão e italiano fluente, dizia que era de uma família de agricultores.

Desembarcou no Rio de Janeiro, era a sua primeira vez no novo mundo. Como todo imigrante, ficou impressionado com as diferenças da Europa.

No Brasil, estabeleceu residência no Espírito Santo, onde trabalhava nas plantações de café. Com muito trabalho seu e da sua esposa, prosperou e se tornou fazendeiro produtor de café. Sua esposa Martina, era italiana, se conheceram em Nápolis, na Itália, pouco antes de virem para o Brasil.

Era um homem muito reservado, e já com idade avançada, tinha um quarto em casa que seus netos não podiam entrar, nem mesmo seus filhos.

A curiosidade sempre foi grande, mas como ele mesmo dizia que era a biblioteca dele, e lá ficava a sua cadeira de balanço, ninguém o contrariava. Era um quarto em que ficava suas coisas antigas.

Ele passava algumas horas todos os dia nesse quarto, ouvindo música estrangeira em uma vitrola que possuía ha muitos anos. Tinha trazido essa vitrola da Europa.

Após a morte de Martina, ele passava mais tempo nesse quarto, sozinho.

Até um dia em que ele entrou no quarto e ficou o dia todo, quando seu filho chegou a noite e o encontrou morto.

Além do choque de encontrar o pai naquela situação, ele teve uma grande surpresa. Pendurada numa parede em frente a cadeira de balanço estava uma bandeira vermelha com a suástica ao centro. Eram visíveis as marcas do tempo na bandeira.

Após revirar as coisas guardadas naquele lugar, as descobertas continuaram. No canto do quarto, guardado em um velho baú, estava o antigo uniforme de oficial da SS, a força especial nazista de Hitler.

Rolf tinha sido um oficial, e escondeu isso por uma vida inteira. Não se sabe ao certo os motivos, talvez temia por sua vida devido ao serviço secreto de Israel ter caçado nazistas pelo mundo afora.

A questão é que a imagem do patriarca ficou abalada aos olhos de seus filhos e netos. Ele sempre foi uma pessoa carinhosa com os filhos e netos, com o jeito bruto dele.

As vezes a fragmentos dos piores episódios da história, estão ao nosso redor. E não nos damos conta disso.

O que é de difícil explicação é como uma pessoa consegue esconder isso por tanto tempo, de toda a família.

Surge a dúvida se a esposa dele sabia, porque mulher tem o espírito de detetive. Talvez seja precipitado esse pensamento, porque nos modelos antigos de famílias, o pai era uma autoridade absoluta.

Nunca podemos subestimar uma pessoa. O ser humano nasce com a capacidade de fazer coisas horríveis e inacreditáveis.

Não foi o único que se salvou, e nunca foi punido, ou mesmo assassinado pelas forças secretas que caçaram os nazistas mundo a fora. Pelo menos a família dele não sofreu, como as famílias que foram perseguidas, torturadas e assassinadas pelo exército que ele serviu. É um grande mistério, explicar como conseguiram fugir para vários países da América Latina, e que tipo de colaboração tiveram.

Os integrantes da Força Expedicionária Brasileira, que também lutou na 2ª Guerra Mundial, relatavam coisas horríveis que tinham visto, em sua breve participação.

É importante aprender com as histórias de guerra, que não se combate o mal praticando o mal. Por isso é importante estudar a fundo esses conflitos, para que não se repitam mais. Não existem justificativas para assassinar pessoas, destruir famílias e derramar sangue inocente, sangue humano.

O ser humano sempre tem a opção de escolher ser bom. Não se nasce assassino, não se nasce odiando outra pessoa, seja pela etnia, religião, ou por qualquer outro motivo. As pessoas são ensinadas a odiar, do mesmo modo como podem ser ensinadas a amar e respeitar uns aos outros.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 31/07/2023
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